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Tom Cruise volta aos filmes de ação em ‘Missão: Impossível 3’
Por Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
05/05/2006 | 08:13
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Tinha de ser ele o camarada a abrir oficialmente a temporada 2006 de blockbusters. Afinal, nos últimos 20 anos, o cinema não providenciou astro maior que Tom Cruise. Permanece cintilante, seja pela fortuna pessoal, pela influência no showbiz, pela assiduidade nos rankings de boas-pintas ou pela freqüência nas colunas de fofoca, sobretudo depois do casamento com a atriz Katie Holmes (Batman Begins) e do nascimento da filha do casal. Poderia um sujeito assim não inaugurar a leva de grandes bilheterias do ano, devidamente aquecida por A Era do Gelo 2 e que prosseguirá com O Código Da Vinci, Superman – O Retorno, Piratas do Caribe 2 – O Baú da Morte, X-Men – O Confronto Final e Carros? A propósito, o novo filme de Cruise é Missão: Impossível 3.

A menção tardia do filme em questão não se deve a imperfeições do longa, o terceiro da franquia que reanima personagens e a atmosfera do seriado de 1966. Mesmo porque o filme de J.J. Abrams (criador de séries como Alias e Lost) impressiona. Dá um termo digno à trilogia que comporta o reanimator classudo de Brian De Palma em Missão: Impossível (1996) e os jogos coreográficos/geométricos de John Woo em Missão: Impossível 2 (2000).

O aparente despeito com o filme no primeiro parágrafo é, na verdade, uma tentativa de reconstituição da seqüência final de MI3, ao mesmo tempo uma piada sobre as conspirações apocalípticas de filmes do gênero e signo da atitude desviante de Abrams em um produto de concepção prévia a sua inscrição como diretor.

MI3 abre com o agente Ethan Hunt (Cruise, também produtor) preso a uma cadeira, ferido, semblante de desespero. Diante de si, Julia (Michelle Monaghan), a mulher que ama, amordaçada e sob a mira do traficante Owen Davian (Philip Seymour Hoffman, vencedor do Oscar por Capote). O criminoso inicia contagem regressiva: ou Hunt lhe devolve um tal Pé de Coelho ou o agente terá de declarar-se viúvo a quem perguntar seu estado civil dali adiante.

Questão pessoal – Nessa cena inicial, Abrams diz a que veio. Tudo mudou, sem nada ter mudado de fato. MI3 promove alterações naquilo que se julga adequado a filmes de espionagem embora, perspicaz, não prescinda das relíquias dos dois filmes precedentes. Para tal, estabelece novas prioridades. Apesar de haver a tal ameaça mundial, tudo, absolutamente tudo em MI3 é uma questão pessoal.

O terceiro filme tem o vilão mais apavorante da série, não só por ser interpretado por Hoffman. O pavor que incita deve-se à influência que exerce pessoalmente em Hunt e vice-versa. Não são adversários na disputa em torno de uma arma química ou similar. Davian mata uma ex-discípula do agente, que por sua vez arquiteta plano para seqüestrar o bandido no Vaticano. Entre herói e vilão está em jogo não o destino do mundo, e sim o próprio corpo e a pessoa amada, signos de patrimônio afetivo. Davian só jura vingança quando seu corpo é ameaçado. O Pé de Coelho, que faz as vezes de objeto de perigo, é citado com ironia ou omissão, não à toa. Importa aqui quem é Hunt e quem é Davian quando postos frente a frente, já que a ação é um meio (o único capaz de identificar as fragilidades e as qualidades dos dois homens), não um fim.

Certeza de que MI3 é filme de ação? Sem dúvida. Abrams tem no triângulo Hunt-Davian-Julia um meio de questionamento dramatúrgico do filme de espionagem e do tom apocalíptico nele introjetado. Antes de um retrocesso, é um progresso do conflito: o fim da rivalidade asséptica à moda Guerra Fria para o início do drama pessoal – assim apresentado de fio a pavio no filme, sem flutuações.

Não estanca aí o ímpeto de mudança de Abrams, que ignora a mise-en-scène típica do gênero e radicaliza o que Woo insinuava em MI2. Realiza uma ambientação suja, turva, escura, quase a de um filme policial. O diretor parece dizer: meto o pé em uma série famosa pelas mirabolâncias tecnológicas e sou indiferente a elas para elogiar o homem e o corpo como verdadeiros patrimônios do herói. E o modo como filma as cenas de ação – principalmente uma que é ambientada sobre uma ponte – procura estender esse manifesto de Abrams, que reconjuga cinema físico, enverga o ruído como elemento estético numa série conhecida pelas sutilezas e estabelece como armagedon as rusgas entre dois homens. Tudo para viabilizar a personalização e a pessoalização do filme de ação.

Abrams não só faz o trabalho sujo de ser simultaneamente “igual” e “diferente” na série Missão: Impossível; contribui para que a trilogia tenha filmes de éticas e estéticas destacáveis entre si e cada qual como expressão singular dos respectivos autores. Será que parou por aqui?

MISSÃO: IMPOSSÍVEL 3 (Mission: Impossible III, EUA, 2006). Dir.: J.J. Abrams. Com Tom Cruise, Philip Seymour Hoffman, Michelle Monaghan, Ving Rhames, Laurence Fishburne. Estréia nesta sexta-feira no ABC Plaza 1, 5, 6 e 7, Shopping ABC 1, 2 e 3, Extra Anchieta 4, 5 e 6, Metrópole 1 e 2, Mauá Plaza 2, 4 e 5, Central Plaza 2, 7, 9 e 10 e circuito. Duração: 126 minutos. Censura: 14 anos




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