Apesar da imagem de uma terra ligada às idéias "liberais de esquerda", os moradores da Califórnia, estado onde Stanley "Tookie" Williams foi executado na terça-feira, continuam sendo, em maioria, favoráveis à pena de morte.
As circunstâncias dramáticas da execução de Williams, após a recusa do governador Arnold Schwarzenegger a conceder o perdão ao preso que aproveitou seus 15 anos no corredor da morte para tentar se redimir, atraíram a atenção do mundo inteiro.
A Áustria, terra natal do ex-"Exterminador" de Hollywood, foi quase unânime ao condenar a decisão. Os Verdes (ecologistas, de oposição) pediram que sua nacionalidade seja retirada, e o chanceler Wolfgang Schussel (conservador) disse que "lamenta" a execução.
Na França, onde a pena de morte foi abolida, assim como no restante dos países da UE, o deputado e ex-ministro Jack Lang condenou o ato, que considerou "bárbaro", e classificou Schwarzenegger de "criminoso".
Nesta segunda-feira à noite, milhares de pessoas se reuniram do lado de fora da penitenciária de San Quentin, onde a execução aconteceu. Militantes históricos de esquerda e defensores dos direitos civis, como a cantora Joan Baez, participaram da manifestação, incomum por sua amplitude e seu fervor.
A Califórnia, sempre relacionada ao surfe e estrelas de cinema, além de ter sido sede do movimento "hippie" no final dos anos 60, também é um estado com quase 650 pessoas no corredor da morte, e onde centenas passaram, como Williams, metade de sua vida sem que a questão gerasse um verdadeiro debate.
Em um estado atualmente com maioria democrata, quase dois terços dos moradores ainda apóiam o castigo supremo, lembrou o professor de Direito da Universidade da Califórnia do Sul e especialista em pena de morte, Michael Brennan. "A última pesquisa sobre o tema, há dois anos, mostrava que 64% dos californianos eram a favor da pena capital", disse Brennan.
Para o especialista, o ex-ator tinha, objetivamente, mais a perder do que a ganhar no terreno político, caso optasse por salvar a vida de Williams, no momento em que sua popularidade está abalada e ele luta pela reeleição em novembro de 2006.
Brennan ressaltou, porém, que assim como no restante dos Estados Unidos, o apoio à pena de morte cai lentamente. "Em 1990, o apoio à pena de morte era de 85%", destacou, avaliando que esta baixa se deve ao fato de que, nesse período, houve "cerca de 120 casos de condenados declarados inocentes, graças a provas factuais", especialmente por análises de DNA.
Enquanto isso, os tribunais californianos enviam pelo menos 100 pessoas por ano para o corredor da morte que, devido às apelações e recursos passam, em geral, mais de 20 anos entre as condenações e as execuções. Para o analista, "esse processo não mudará no futuro. É um processo lento".