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Mostra retrata o anjo azul e a deusa imperfeita
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
16/09/2002 | 21:00
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Sedução e seduzidos em dois belos mitos do cinema alemão aparecem em mostra de filmes e fotos a partir desta terça, na Sala Cinemateca, em São Paulo, que vai até 6 de outubro, organizada pelo Instituto Goethe. Marlene Dietrich (1901-1992) e Leni Riefenstahl, 100 anos. A primeira seduziu nos filmes, a segunda fez filmes para seduzir. Ainda assim, foram antagônicas.

Marlene surgiu como ícone da dominação natural do erotismo como Lola em Um Anjo Azul (1930), na Alemanha. Depois, nos Estados Unidos, em Hollywood, se engajou contra os nazistas. Leni começou como atriz e dirigiu filmes, entre eles, O Triunfo da Vontade (1935), um belo documentário para um propósito maléfico: obter adeptos para o nazismo.

As duas nasceram em Berlim, e viveram a mesma época de radicalização política da cidade nos anos 20 e 30. Cada uma, anos depois, foi execrada em seu país. Marlene foi considerada traidora da pátria – ela se naturalizou norte-americana em 1939 e vestiu uniforme do exército dos Estados Unidos para visitar a Alemanha após a guerra. Em uma apresentação em 1960, em Berlim, foi recebida com faixas que diziam “Marlene, vá embora”. Foi a última vez que viu a capital alemã – seu corpo foi enterrado lá após morrer em 1992.

Leni, elogiada por Hitler e companhia, foi castigada pela crítica e opinião pública pós-Terceiro Reich. Mesmo tendo feito o filme O Vale (1940, concluído em 1954) para não filmar mais para Hitler, foram utilizados na produção ciganos requisitados em um campo de concentração. Com portas fechadas para o cinema, viveu de fotografar – aprendeu mergulho aos 71 anos para fotos submarinas. Completou 100 anos em 22 de agosto.

A maioria dos filmes da mostra é com Marlene, também tema da exposição Marlene Dietrich, Uma Lenda em Imagens. São 38 fotos selecionadas entre 15 mil imagens, de 1906 a1966, e de 1959, quando visitou o Rio.

Com sua liderança entre imigrantes e refugiados nos Estados Unidos, Marlene tornou-se uma voz para opositores do nazismo. Leni atuou como atriz antes de assumir a câmera. Seus filmes têm beleza estética e técnica de montagem primorosa. E por isso são perigosos, porque vão muito além do que é mostrado.

Um encontro fictício entre ambas será reproduzido nesta terça, às 21h, na Sala Cinemateca, com a leitura da peça Marleni – Divas Prussianas, Loiras como Aço, de Thea Dorn, estrelada por Cristina Mutarelli e Regina Braga. A direção é de Márcia Abujamra. A peça (a ser montada em 2003) é uma comédia na qual as nonagenárias ajustam suas contas políticas.

Antes da leitura dramática, será mostrado às 19h o documentário Marlene (1984), de Maximillian Schell, que apresenta a diva após anos de isolamento da vida pública. Contudo, somente sua voz é ouvida.

Assim como a figura de Lola, o papel de cantora de clube noturno a acompanhou pela carreira (como em Marrocos, A Vênus Loira e A Mundana, todos na programação). Na quarta, a mostra terá a comédia romântica Tentação Irresistível (1936), com Gary Cooper. É o primeiro filme da atriz sem a parceria com Joseph von Steinberg, que a descobriu para O Anjo Azul (cartaz em outubro). Da fase pré-Steinberg, estão na mostra Beijo sua Mão, Madame (1928) e A Mulher Desejada (1929). O clássico de tribunal Testemunha de Acusação (1957) passa em outubro.

Da atriz Leni serão exibidos os “filmes de montanha” de Arnold Fank (Tempestade Sobre o Montblanc e Êxtase Branco) e A Luz Azul (1932), seu primeiro trabalho como diretora. Este filme convenceu Hitler a convidá-la para dirigir documentários de propaganda. Os dois principais serão exibidos: O Triunfo da Vontade (1935), sobre a convenção do Partido Nacional Socialista em 1934 – seguido de um debate, no dia 26 deste mês, e Olympia (1936), sobre as Olimpíadas de Berlim. Leni Riefenstahl, a Deusa Imperfeita (1993), documentário de Ray Müller que mostra os dois lados da “musa do Terceiro Reich”, será exibido em outubro.




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