Economia Titulo
Real, dez anos: inflação caiu, mas país não cresce
30/06/2004 | 23:22
Compartilhar notícia


Na época, pareceu quase um milagre. Nos dez anos anteriores ao Plano Real, lançado em julho de 1994, a inflação medida pelo IPCA acumulou 310 bilhões por cento. Nos dez anos posteriores, ela somou 167% (equivalente à inflação de três meses, logo antes do Plano Real), ou 10,3% ao ano, em média.

Antes do Real, governos desmoralizados soltavam pacote atrás de pacote, com congelamento, tablitas e até o seqüestro de contas e aplicações financeiras. No Real, todo o programa foi anunciado previamente e implementado "sem pacotes, sem congelamentos, sem confiscos", como prometeu Fernando Henrique Cardoso, o ministro da Fazenda e futuro presidente. Dez anos após o Real, porém, quando o bem-estar produzido pelo fim da hiperinflação já foi digerido, a sociedade brasileira se defronta com um enigma incômodo: por que o país cresceu tão pouco depois da estabilização?

Depois de três anos bons – a fase da alta do consumo de eletrodomésticos e do "frango e iogurte" –, a economia entrou num longo período de turbulências. No cômputo geral, o Brasil cresceu mais nos dez anos anteriores ao Plano Real do que nos dez anos que seguiram ao programa de estabilização. De 1984 a 1993, o país cresceu à média de 2,74% ao ano. De 1994 a 2003, a média caiu para 2,41%.

Os defensores do Real têm certeza de que o Brasil seria muito pior sem o programa. Para eles, o Brasil viveu na década de 80 o colapso de um modelo de crescimento, baseado na substituição de importações, no financiamento inflacionário pelo Estado e no fechamento do mercado. Esse modelo garantiu as altas taxas de crescimento do pós-Guerra, mas estava esgotado. "Até 1994, o país ficou tentando reviver um cadáver, um modelo econômico apropriado a um mundo que não existia mais", diz Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central e um dos principais formuladores e executores do Plano Real.

Para essa corrente, o abuso daquele modelo legou ao país uma herança maldita multifacetada: inflação altíssima, caos fiscal e do funcionamento do Estado, péssima distribuição de renda, e uma indústria incapaz de competir no mercado internacional. A Constituição de 1988, dominada pela mentalidade do modelo moribundo, piorou enormente todos aqueles problemas.

Com a estabilização, "o zumbido e a zoeira" – expressão do ex-ministro da Fazenda, Pedro Malan – da hiperinflação cessaram, e o país se viu diante da difícil tarefa de viabilizar um novo modelo de crescimento, de economia aberta, não-inflacionário e desprovido de capacidade de investimento estatal.

As vicissitudes da política democrática, porém, fizeram com que a implementação daquela agenda fosse muito lenta. Nem toda ela, tampouco, estava clara desde o início. Esse fato, somado à sucessão de crises externas em países emergentes, a partir de 1997, explicaria o desempenho medíocre da economia nos dez anos pós-Real.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;