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A tecnologia será uma ferramenta importante no combate à criminalidade em Diadema. Ainda neste ano, a Polícia Civil passará a contar com 10 drones para ajudar nas ações de inteligência e de operações como de combate ao tráfico de drogas ou desmanches. A informação foi revelada em entrevista exclusiva ao Diário pelo delegado seccional Marcelo Dias, no cargo desde janeiro, que contou também que as delegacias terão câmeras de reconhecimento facial. Marcelo Dias também falou sobre o importante trabalho em conjunto das seccionais do Grande ABC e da integração entre Polícia Civil, Polícia Militar e Guarda Civil Municipal de Diadema.
Com tem sido a experiência no comando da Polícia Civil em Diadema?
Tenho 40 anos de atividades na Polícia. Os lugares que mais fiquei foi o Departamento de Homicídios, na Capital, e na Divisão Anti-sequestro. Fiquei cerca de 10 anos em cada um desses locais. Fiquei um tempo na Seccional de Taubaté e depois em Jacareí. Com a mudança da gestão, fui convidado para vir a Diadema. No primeiro instante, o que veio na minha cabeça foi o caso da Favela Naval (episódio ocorrido em 1997 no município, em que veio à tona imagens de policiais militares agredindo moradores e que resultou na morte de Mário José Josino). Mas a realidade hoje é completamente diferente. Desde que cheguei, não houve mais do que três homicídios por mês. Hoje, Diadema é um lugar muito tranqüilo. Claro que há seus problemas, mas é muito diferente em relação ao que já foi. Estamos trabalhando também para reduzir furtos e roubos.
Qual é o grande problema hoje em termos de segurança em Diadema?
Tráfico de entorpecentes, que também acaba ligado a homicídios. Nossa missão é reduzir o índice de tráfico, assim como estamos fazendo com homicídios. E vamos reduzir usando ferramentas da polícia. Todo mundo sabe que há defasagem no número de homens na Polícia Civil e o governador Tarcísio de Freitas irá fazer concursos públicos. Isso é muito importante. E conseguimos recursos para a compra de drones, que são ferramentas muito eficazes. Serão mais ou menos 10 drones que serão comprados para Diadema e que já estão em processo de licitação. A expectativa é que chegue ainda este ano, para atender todas as unidades policiais do município.
Quem vai operar esses aparelhos?
Serão os próprios policiais civis. Estamos fazendo cursos e pelo menos nove já estão aptos para operá-los.
Detalha mais o papel dos drones nesse trabalho de inteligência da polícia. Como vai ser, na prática, a utilização em Diadema?
Por exemplo, vai ajudar a localizar um desmanche em uma região mais afastada, cheia de mato. O drone pode buscar todas as imagens e ajudar a localização para os policiais. Também vai contribuir muito no trabalho de seguir veículos em operações. Você filma traficantes passando e escondendo drogas e quando o policial chega não encontra.
A tecnologia hoje é essencial no combate da criminalidade?
Totalmente. Não tem jeito. Ela representa trabalho de muitos homens. Contribui muito. Também estamos instalando nos distritos câmeras que lêem a face das pessoas. E as fotos vão ficar em um arquivo. Quando alguém vai fazer o Boletim de Ocorrência, será possível consultar esse banco de dados. A ideia, por exemplo, será confrontar a imagem de um suspeito por meio de reconhecimento facial. Essas são algumas ações importantes que estamos fazendo em Diadema.
Doutor, como lidar com o aumento crescente de casos de roubos de celular?
Temos pedido para policiais ficarem circulando nesses centros comerciais, que acabam identificando criminosos já conhecidos por roubos de telefone celular. Quando atuava na região central de São Paulo, comecei a apreender bicicletas de quem não conseguia comprovar a origem, porque muitos usam bicicletas para fazer abordagem e cometer esses delitos. Conseguíamos até devolver bicicletas roubadas.
Também passa por aumento em orientação à população sobre os cuidados?
A gente fala sempre para que as pessoas evitem usar celular no meio da rua. Se vai precisar telefonar, entra em algum estabelecimento. Os mais jovens têm a mania de guardar o aparelho no bolso de trás. Isso acaba dando margem. Em um segundo, o criminoso passa e leva o telefone. É importante tomar devidas precauções.
A questão geográfica de Diadema, cortada pela Imigrantes e que pode ser rota de fuga, é uma preocupação para a polícia?
Sim. Nesse caso, temos um grande apoio da GCM (Guarda Civil Municipal). Eles contam com uma central, que recebe imagens de totens que filtram a entrada e a saída do município. É uma espécie de condomínio, com entrada e saída protegidas. Nesse sentido, a GCM é bem equipada. O que a gente percebe é que há algumas ocorrências de roubos de cargas, principalmente de caminhões que saem da estrada.
Diadema tem um programa de sucesso no combate à criminalidade, que é o fechamento de bares às 23 horas. Ele ainda é eficaz?
Essa ação ajuda muito o nosso trabalho. Isso afasta aqueles que só querem ficar em botecos bebendo pinga, que vão para casa e acabam agredindo mulher e filhos. A GCM também tem atuado muito para evitar pancadões no município. A gente orienta, nossa inteligência recebe informações e avisa a GCM e a Polícia Militar. Mas temos registrado poucos casos nos últimos meses.
Tem havido um trabalho em conjunto entre as seccionais do Grande ABC?
Sim. Nos reunimos pelo menos uma vez por mês. Converso muito com o doutor Francisco (José Alves Cardoso, seccional de Santo André) e com a doutora Kelly (Cristina Sachetto César de Andrade, seccional de São Bernardo). Trocamos muitas informações, falamos sobre ocorrências. É importante para que todos nós possamos ficar alertas com casos de criminalidade.
O sr. falou em defasagem de policiais. Como está a questão em Diadema?
Entendo que está no limite. Devemos ter cerca de 100 homens e acredito que seria necessário pelo menos duas vezes mais. Quando há licença, férias ou caso de doença, a situação fica muito apertada. A gente tenta fazer com que as equipes não sejam afetadas.
Qual a avaliação que sr. faz da gestão do secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite?
A gestão dele está começando. É um homem de fibra e está querendo ajudar muito a Polícia Civil e a Polícia Militar. Já há ações importantes tomadas, como a questão do concurso. Isso tudo ajuda. Claro que não é da noite para o dia que a situação vai ser resolvida, mas é necessário começar de alguma forma.
Ter o delegado Osvaldo Nico Gonçalves como secretário-executivo de Segurança é positivo para a Polícia Civil?
Muito. Ele é uma pessoa maravilhosa, de bom coração, que atende todo mundo. E ele já tem feito um grande trabalho, conseguido viaturas. É bom ter alguém do lado do secretário falando sobre a situação da Polícia Civil. Isso é muito interessante.
Como o sr. está enxergando a discussão em torno da presença da polícia para conseguir garantir a segurança nas escolas?
Sou a favor de segurança nas escolas. Temos visto casos em que a polícia conseguiu detectar situações nas redes sociais, de gente dizendo que iria matar alunos. Temos de coibir. Estamos monitorando, junto com a Prefeitura e com a PM. Temos conversado também com diretores de escola e dizendo que iremos instaurar todos os inquéritos que forem necessários. Vamos investigar qualquer suspeita que surja associada a ataques nas escolas. Conseguimos prender pessoas que tinham mensagens deste tipo em seus computadores.
Há alguma outra ação que deveria ser tomada para garantir a integridade dos alunos e professores?
Na minha opinião, deveria ter porta tipo a de bancos. Não deveria ser porta aberta. É necessário ter mais segurança, detector de metal. Mas acho que isso vai passar. Mas acho que há muita responsabilidade também dos pais, que precisam garantir a educação dos filhos. Não dá para inverter e cobrar isso da escola. É preciso mais diálogo em casa. É necessário proteger as crianças, até para que não sejam alvos fáceis de criminosos.
O sr. é favor da presença de uma viatura na frente de cada escola?
É importante que haja ronda. Não há condições de deixar uma viatura na porta de cada unidade escolar, mas sou a favor das rondas. É importante que a polícia esteja por perto.
Como tem sido a relação com o prefeito José de Filippi Júnior e os demais da região?
Por enquanto, só conheço o prefeito Filippi. Ainda não tive oportunidade de conversar com os demais prefeitos do Grande ABC. O Filippi é uma pessoa maravilhosa e tem sido um grande parceiro da Polícia Civil.
Como o sr. acredita que deve ser a tendência pós-pandemia em termos de criminalidade na região? O sr. acredita em aumento?
Depende muito da questão social. Não há como não associar. O aumento do desemprego influencia. Há uma tendência de aumentar. Por isso é importante que cada vez mais haja ações de políticas públicas na área social. É difícil competir com a criminalidade.
Em Diadema, há integração entre as polícias?
Funciona muito bem. Há muitas ações em conjunto em Diadema envolvendo Polícia Civil, Polícia Militar e Guarda Civil. É importante que haja integração entre as polícias. A união de forças é fundamental para que a gente consiga reduzir a criminalidade, em conjunto com ações tecnológicas e de inteligência.
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