Política Titulo Protesto
Sindicato fala em espionagem e intimidação em ato da saúde

Gestão Orlando Morando enviou funcionários da Secretaria de Segurança e agentes da Romu para acompanhar protesto contra demissões

Artur Rodrigues
do Diário do Grande ABC
17/05/2023 | 07:56
Compartilhar notícia
Divulgação/Sindsaúde


O governo do prefeito Orlando Morando (PSDB) foi acusado de tentar intimidar e espionar os presentes na manifestação contra as demissões na área da saúde do município. Durante o protesto, realizado em frente ao prédio da Secretaria de Saúde local, o SindSaúde ABC, sindicato da categoria, observou a presença de viatura da Romu (Ronda Ostensiva Municipal) e de alguns funcionários do gabinete da Secretaria de Segurança Urbana.

“A GCM (Guarda Civil Municipal) estar presente é uma coisa, considero adequado para garantir a segurança dos manifestantes. Mas a Romu é uma guarda especializada, não deveria estar lá presente. Esse governo tem essa prática de intimidar as pessoas”, declarou Almir Rogério da Silva, o Mizito, presidente do SindSaúde ABC

A equipe do Diário acompanhou o ato e constatou a presença da Romu, mas os funcionários do gabinete da Secretaria de Segurança pública já haviam deixado o local quando a reportagem chegou. 

“Tinha olheiros, com certeza o Orlando colocou gente dele para gravar o ato lá de dentro da secretaria (de Saúde)”, disse Mizito, que ainda questionou a quantidade de agentes da GCM enviada pela gestão tucana. “Não era um ato violento. O número de manifestantes não justificava o grande número de agentes que a Prefeitura colocou na manifestação. Se isso não é intimidação, é o que?”. 

Ao final do protesto, Mizito convocou nova assembleia com os trabalhadores da saúde para a noite de amanhã, na sede do sindicato, em Santo André. Mais cedo, às 13h, ocorrerá uma nova audiência no TRT-2 (Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região). O Tribunal espera a presença do secretário de Saúde, Geraldo Repke Sobrinho, que não compareceu à sessão realizada anteontem. 

A manifestação de ontem foi organizada pelo SindSaúde para cobrar explicações da gestão de Orlando e do secretário da Saúde sobre a demissão em massa que está em curso desde 5 de maio no Complexo Hospitalar de São Bernardo, gerido pela FUABC (Fundação do ABC). Estavam presentes alguns funcionários demitidos, que relataram ao Diário casos de precarização nas unidades de saúde do município. 

“Onde eu trabalhava, precisávamos de psicólogos e fonoaudiólogos. A Prefeitura ignorava os nossos pedidos para contratar mais profissionais. Outras duas pessoas saíram comigo. Se já faltava profissionais, imagina agora?”, disse uma auxiliar terapêutica que trabalhava na UBS (Unidade Básica da Saúde) São Pedro. 

Outra funcionária demitida, ortopedista que acumulava trabalho em três unidades diferentes (Orquídeas, Vila União e Alvarenga), denunciou que a ressonância do Hospital de Clínicas, localizado na Estrada dos Alvarenga, está com a ressonância magnética em manutenção há sete meses.

“Desde outubro que a ressonância não está funcionando no HC. Os pacientes chegavam para nós e diziam que não conseguem fazer exames na unidade. Também não estavam fazendo endoscopia. Diante disso, éramos nós (funcionários de UBS) que tínhamos que amparar esses pacientes. E agora que não estamos mais lá, como eles ficam?”, comentou. 

Caps não dá diagnóstico de TEA e encaminha pacientes às UBSs

Uma ex-funcionária presente na manifestação de ontem confirmou ao Diário que os Caps (Centros de Atenção Psicossocial) não estão dando diagnóstico de TEA (Transtorno do Espectro Autista) por falta de neuropediatras nas unidades de saúde de São Bernardopio. Assim, as crianças são encaminhadas às UBSs para tratamento convencional e não especializado. 

"Tem crianças fazendo terapia em grupo nas UBS que claramente têm TEA. Mas não tem neurologista para dar o diagnóstico. Alguns pacientes são sensíveis ao barulho, e tem dias que a UBS é bem movimentada e isso traz incômodo para eles. Precisam de tratamento especializado, e quem deveria oferecer isso é o Caps e o CER (Centro Especializado em Reabilitação), disse ex-funcionária da UBS Orquídeas, demitida em 5 de maio. 

O problema da falta de médicos ou de atendimentos específicos não é algo recente. Em 14 de abril, o Diário noticiou que algumas mães estão sofrendo com a falta de profissionais especializados nas unidades de saúde do município. À época, a reportagem conversou com Andressa Eunice, 27 anos, mãe de Kimberlly Arielly, cuja última consulta tinha sido agosto de 2022. Um mês se passou e a moradora do bairro Silvina ainda aguarda a consulta. 

“A Kimberlly não tem o laudo, que precisa ser assinado pelo neurologista. Eu tento marcar consulta, mas me falam que não tem neuro disponível. Não dão previsão, nem nada. Ela não consegue falar, é sensível a qualquer barulho mais alto, tem dificuldade para mastigar. Não tem condição ela fazer uma terapia de 10 minutos uma vez por mês em uma UBS”, disse Andressa. 

Outros pais que não quiseram se identificar relataram ao Diário dificuldade para marcar consultas com profissionais especializados em tratamento e diagnóstico de TEA, além de descaso nas terapias oferecidas pelo CER e pelas UBSs. Alguns também contaram que já estão sofrendo as consequências das recentes demissões. 

“A minha filha passava com uma fonoaudióloga, que acabou de ser demitida. Eu ligo nas unidades para marcar com outra fono e dizem que não há profissional disponível”, comentou um dos pais. 

O vereador Julinho Fuzari (PSC), que tem como uma de suas bandeiras a defesa desse público, protocolou em abril uma representação na Promotoria da Infância e da Juventude do MP (Ministério Público) de São Bernardo para que a falta de profissionais especializados seja apurada. 

“Os poucos profissionais que temos estão sendo demitidos e a nossa população está ficando à deriva. Não há neuropediatras para atender crianças com TEA, não há fonos, terapeutas, e esse governo não mostra qualquer preocupação”, declarou o parlamentar. 

Embora as demissões tenham agravado a situação, Fuzari aponta que o problema acontece há algum tempo, mas se agravou porque pelo menos seis neuropediatras deixaram a rede municipal, alguns dos quais foram para outras cidades, onde os salários seriam maiores.

“A saúde de São Bernardo está caótica para todos, porque faltam médicos e remédios”, comentou. 

A mudança de profissionais para outras cidades foi confirmada pelo presidente do SindSaúde, Almir Mizito. “A rodagem entre os funcionários da saúde é muito grande porque o salário é baixo. Muitos profissionais chegam já querendo sair. A Prefeitura não sabe valorizar os médicos que cuidam da vida das pessoas”, disse Mizito.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;