Internacional Titulo
AZT pode afetar sistema neurológico em recém-nascidos
Do Diário do Grande ABC
24/06/1999 | 11:30
Compartilhar notícia


Os medicamentos administrados às mulheres soropositivas grávidas, para evitar a transmissao do vírus da Aids a seus filhos, parecem provocar um importante aumento das enfermidades neurológicas nos recém-nascidos, segundo um estudo realizado na França.

"Das mil mulheres soropositivas cujo histórico médico foi estudado, oito deram à luz crianças com transtornos neurológicos", disse nesta quarta-feira o professor Stéphane Blanche, do serviço de pediatria do hospital Necker de Paris e autor da pesquisa. Seis dos bebês observados nao parecem estar gravemente afetados, mas dois morreram por causa da doença, disse o pediatra, afirmando que, por outro lado, nenhum dos oito foi infectado pelo vírus da Aids.

"A freqüência desses transtornos neurológicos é surpreendentemente elevada e teremos que fazer outros estudos, para verificar se seu aparecimento é ou nao casual, em relaçao aos tratamentos destinados a evitar a contaminaçao dos fetos ou para o tratamento das gestantes", disse ele.

Os problemas neurodegenerativos das crianças sao provocados por anomalias das mitocôndrias, setor do citoplasma que gera energia às células. "Normalemente, essas enfermidades sao raras, afetando uma criança em cada 10.000 ou 20.000. Com nossas pesquisas apontando para uma proporçao de oito por mil, ou seja, pelo menos dez vezes mais, nos obriga a desconfiarmos da eventual toxicidade dos medicamentos (AZT e 3TC) para as crianças", informa Blanche.

Outro estudo, este realizado com macacos no Instituto Nacional norte-americano do câncer pela professora Ofelia Olivero, citado pela revista britânica New Scientist, deu resultados similares. Os investigadores constataram que o AZT se incorpora ao patrimônio genético dos glóbulos brancos.

Sem tratamento, o risco de transmissao do vírus de uma gestante soropositiva a seu bebê é de 15 a 20%. Com tratamento com AZT, essa taxa cai a 5% e se o nascimento for através de cesariana, e o bebê nao for amamentado, se consegue uma taxa de contaminaçao de apenas 1 ou 2%, lembra o professor Blanche.

Por sua vez, os especialistas da Agência Nacional francesa de Investigaçao sobre Aids (ANRS), do Instituto francês de Saúde e Pesquisas Médicas (INSERM) e da Agência Francesa de Segurança Sanitária (AFSSAPS) anunciaram nesta quinta-feira, num comunicado conjunto, que a responsabilidade dos medicamentos AZT e 3TC nestas anomalias neurológicas "é possível, mas nao está provada"', e que o benefício da prescriçao de AZT às mulheres grávidas para prevenir a transmissao do vírus da aids aos bebês "nao está questionado".




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;