O piso mínimo deve ser calculado com base na previsao de receita do Fundef, estimada em R$ 13,2 bilhoes este ano, e do total de alunos matriculados de 1.ª a 8.ª série nas redes municipais e estaduais (mais de 32 milhoes de estudantes). O resultado seria um piso superior a R$ 400,00. O problema é que, para 1997, primeiro ano de vigência do fundo, a própria lei fixou o valor mínimo em R$ 300,00, desprezando a fórmula. Assim, o MEC entende que o cálculo do piso deve sempre ter como base os R$ 300,00. Partindo dessa premissa, o governo chegou aos R$ 315,00 em 1998. Se a mesma fórmula fosse usada este ano, o piso subiria para R$ 333,00. Os secretários argumentam que o valor de R$ 300,00 foi fixado unicamente para 1997. Portanto, nao haveria por que ser incluído no cálculo do piso dos anos seguintes.
Essa também é a interpretaçao do jurista Ives Gandra da Silva Martins. "A exceçao nao pode transformar-se em regra", esclarece Ives Gandra. Para ele, a lei deixa claro que os R$ 300,00 valem apenas para 1997. "Isso está escrito com todas as letras", concorda a professora de direito administrativo da Universidade de Sao Paulo (USP) Maria Sílvia Zanella di Pietro.
Paulo Renato anunciou no ano passado que o valor mínimo em 1999 ficaria entre R$ 330,00 e R$ 340,00. Mas a crise econômica deflagrada em setembro-outubro, na Rússia, levou o governo brasileiro a cortar despesas. No caso do Fundef, isso significou nao obedecer a lei: o piso para 1999 acabou sendo fixado em R$ 315,00, o mesmo de 1998.
Negociaçao - Mas até isso - manter o piso em R$ 315,00 - foi difícil diante do rigoroso ajuste fiscal lançado pelo governo brasileiro. A negociaçao envolveu diretamente o presidente Fernando Henrique, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, e Paulo Renato. Na época, a equipe econômica cogitou a hipótese até de reduzir o piso mínimo para R$ 270,00 por aluno/ano. "O valor de R$ 315,00 é baixo", admite o diretor de Acompanhamento do Fundef, Ulysses Semeghini.
Constituído por 15% da arrecadaçao de Estados e municípios, o Fundef deve movimentar R$ 14,1 bilhoes este ano, dos quais 60% devem ser investidos em melhorias salariais para os professores. Cálculo realizado pela reportagem mostra que a elevaçao do piso mínimo de R$ 315,00 para R$ 333,00 aumentaria em cerca de R$ 210 milhoes a complementaçao da Uniao. "O Brasil vive um momento muito difícil, mas a educaçao é prioridade", pondera o presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educaçao (Consed), Éfrem Maranhao.
"A mera conservaçao do valor mínimo significa menos recursos reais para a escola", diz o presidente da Uniao Nacional dos Dirigentes Municipais de Educaçao (Undime), Neroaldo Pontes de Azevedo. Para o secretário-executivo do MEC, Luciano Oliva Patrício, a fórmula de cálculo defendida pelos secretários é "inconsistente", pois permite até a reduçao do piso mínimo, de acordo com a receita e o aumento de matrícula. "Nesse caso, o que faz o prefeito que concedeu aumento aos professores com base num determinado piso mínimo?", pergunta Patrício.
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