A situação da UBS Vila São Pedro é mais um exemplo do descaso com que a Prefeitura de São Bernardo tem tratado a rede municipal de saúde, que está sob comando do secretário Geraldo Reple Sobrinho desde que o prefeito Orlando Morando (PSDB) assumiu o cargo para o primeiro mandato, em janeiro de 2017. Ocorre que exatamente há um mês – completado ontem – o Diário denunciou que o equipamento tem vários problemas estruturais, que têm se agravado com o passar do tempo, segundo usuários. No entanto, até o momento a administração não tomou nenhuma providência com relação à unidade, que tem cadastrados cerca de 10 mil moradores daquela região, cuja população está em torno de 80 mil pessoas. 

Também ontem se completaram 30 dias que o deputado estadual Luiz Fernando Teixeira (PT) entrou com representação no MP-SP (Ministério Público de São Paulo) com pedido para que o órgão investigue a falta de manutenção na unidade da Vila São Pedro e também na UBS Vila União, interditada em 31 de março sob risco de desabamento e que está em reforma, assim como em outros equipamentos da rede de saúde. Até agora, porém, não recebeu devolutiva do órgão estadual. 

Em trecho do documento protocolado no MP no dia 4 de abril, o parlamentar pede “ação de imediata fiscalização junto aos prédios nos quais encontram-se instaladas as UBSs e demais equipamentos de saúde.” Também ressalta na representação, com planilha, que em 2020 o governo do Estado liberou R$ 200 mil em emenda de sua autoria, recurso destinado justamente para compra de equipamentos e reformas na UBS Vila São Pedro, e aponta que a Prefeitura até agora fez apenas a licitação da obra. 

“Pergunta-se: os R$ 200 mil que sanariam os problemas verificados na UBS Vila São Pedro em 2020 serão suficientes para sanar os problemas que a mesma apresenta hoje, que são os problemas de 2020 acrescidos de três anos sem manutenção?”, questiona em outro trecho da representação. Luiz Fernando cita também que enviou ofício ao secretário Geraldo Reple questionando a razão pela qual as reformas não foram realizadas, apesar dos R$ 200 mil repassados pelo Estado, mas não obteve resposta. 

Rachaduras no teto e nas paredes, pontos de mofo e muitos furos também são visíveis em várias das salas, assim como paredes descascadas e até uma cachoeira que desce da cobertura no lado externo da unidade. Vídeo encaminhado ao jornal por uma usuária da UBS mostra na legenda que a autora da filmagem até brinca com a situação inusitada: ‘Esta água cai sem parar, e de onde, se não está chovendo?’ Devido às péssimas condições em virtude da falta de manutenção, a sala da comunidade foi fechada.

A vereadora Ana Nice (PT) afirma que acompanha a situação de abandono da UBS Vila São Pedro há algum tempo, por meio de visitas para verificar se o quadro de deterioração aumenta e fiscalizar se a Prefeitura tira do papel o projeto de reforma. E acrescenta que outras unidades de saúde também enfrentam problemas estruturais, falta de médicos e de medicamentos, entre outros, e que a morosidade da administração para fazer manutenção em próprios públicos é recorrente. 

“A gente pode comparar a morosidade do atendimento da Prefeitura em relação a outras UBSs. Como as da região do Rudge Ramos, onde fiscalização do Tribunal de Contas do Estado apontou rachaduras, vazamentos e infiltração. Após seis meses, os fiscais voltaram e encontraram todas nas mesmas condições, ou até piores. A UBS da Vila São Pedro tem um tempo que a gente vem acompanhando, cobrando da Prefeitura a manutenção, inclusive na sala de odonto, que tem rachaduras. Tem um mês que o Diário mostrou a necessidade de manutenção da UBS, mas nada foi feito. Infelizmente não é um caso isolado”, lamentou a vereadora.

Secretário Geraldo Reple fica calado pelo terceiro dia

O secretário de Saúde de São Bernardo, Geraldo Reple Sobrinho, tem se mantido calado sobre problemas que se amontoam na rede municipal, a qual comanda desde 2017. Ele deveria responder a questionamentos do Diário, mas isso não acontece. Ontem, o jornal tratou do abandono na UBS Vila São Pedro; anteontem, de reclamações de usuários da UPA União/Alvarenga; na terça-feira, mostrou que São Bernardo lidera queixas na Justiça por problemas na saúde. Nos três casos, ficou em silêncio.