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Povos Originários
Rodolfo de Souza
26/01/2023 | 08:34
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O povo originário do meu país anda mesmo abandonado, como abandonado tem sido ao longo de toda a sua história. O flagelo começou quando da chegada do homem branco cá por estas paragens. Trazia consigo, o viajante, objetos curiosos e fala carregada de santidade. Diga-se de passagem, o abandono, naquele momento, teria sido deveras providencial, tendo em vista que o verdadeiro martírio desses povos começou com a conquista de seu vasto e belo território pela gente que veio de longe no lombo de frágeis embarcações.

Mesmo assim, em pouco tempo o número de forasteiros só fez crescer. Homens atraídos pela possibilidade de ganho farto com a extração de toda a riqueza da terra, jorravam das caravelas aos borbotões, trazendo no bojo males que afetavam sobremaneira a saúde de quem, estou certo, já via com apreensão a tomada do lugar por aquele que não demonstrava um fiapo de compaixão pela natureza e pela natureza de quem aqui vivia. Até mesmo a religião lhe fora metida goela abaixo, uma forma de torná-lo escravo do medo. Claro que a fé, então, já era utilizada como meio de se conduzir as massas, talvez a forma mais eficaz até hoje de se atingir objetivos que sempre favorecem uma parcela da população em detrimento da maioria.

Logicamente que as palavras, com as quais inicio mais esta reflexão, dão somente uma pincelada no perfil do que foi o começo da história deste país, que é de conhecimento de todos os que se debruçaram outrora sobre livros repletos de heroísmo controverso. O meu objetivo, ao comentar o período, é tão somente propor que voltemos o nosso olhar para um povo que está sendo dizimado com a participação de pessoas que estiveram no comando do país para protegê-lo, mas que não desempenharam a contento o seu papel. Antes, compactuaram com o crime contra aqueles cujos ancestrais assistiram estarrecidos à chegada do conquistador que se tornaria dono de suas terras e de suas vidas.

Em tempos atuais, a gente Yanomami, brasileiros antes de existir o Brasil, está literalmente definhando. Morre de fome, porque seus rios estão envenenados, suas matas destruídas e a caça, escassa. Seus algozes, feito praga, tiveram autorização para infestar suas terras em busca de riquezas, tal como acontecera em passado longínquo. A diferença é que agora existe um livro que carrega em suas páginas um extenso conjunto de regras a serem seguidas. Há também um poder que cuida para que tudo o que nele se encontra seja observado e obedecido, uma vez que visa garantir direitos ao povo. Ainda que esse poder tenha cochilado nos últimos anos, fato que permitiu aos ratos roerem tudo que viam pela frente, inclusive, o tal livro e suas leis caprichosamente redigidas para o bem de toda a população que habita esta imensa pátria.

Mas agora, em novo estágio da vida, corre-se para tentar salvar o que sobrou da gente Yanomami, que vem sendo assassinada pelo criminoso que invadiu suas terras, porque teve todo o apoio necessário para se instalar e destruir o meio ambiente e quem dele depende. Mas parece que agora a ordem foi restabelecida e a força da lei promete dar cabo da farra autorizada, expulsando o algoz, que deverá levar consigo a sua boiada.




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