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Brandão: vaga em troca de apoio
Danilo Angrimani
Do Diário do Grande ABC
10/10/2004 | 14:53
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O comitê eleitoral do candidato a prefeito de Santo André, Newton Brandão (PSDB), fica em uma rua tranqüila, vizinha à Senador Fláquer. O lugar está movimentado. Uma dezena de pessoas de aparência humilde espera sua vez de falar com Brandão.

Lá dentro, em uma sala minúscula, óculos na ponta do nariz, olhar atento, Brandão ouve pacientemente as diversas solicitações e reivindicações de seus prováveis eleitores. Os pedidos são diversos. Vão desde demanda de emprego até alguém que pede uma investigação sobre um assassinato.

Brandão encerra as entrevistas e retira-se com o repórter para uma outra sala, mais ampla e, antes de iniciar a entrevista, comenta que a presença diária de tanta gente pobre transforma seu comitê político em uma espécie de “pátio dos milagres”.

Na sala, há um quadro-negro, onde se lê uma frase escrita bem no alto com uma caligrafia caprichada. O que diz mesmo a frase? O quadro está muito longe, não dá para ler.

De pé, atento a tudo, o fiel escudeiro de Brandão, Durval Daniel, acompanha a entrevista, sem piscar, por trás de seus óculos de armação quadrada. Durval é tio de Celso Daniel e, ao longo de sua vida, sempre esteve no pólo ideológico oposto ao do sobrinho. Ocupou cargos de alto escalão, quando Brandão era prefeito, e, hoje, mantém a fidelidade em dia, sendo chamado de “irmão” por Brandão.

O candidato tucano à Prefeitura de Santo André obteve 42,3% dos votos no primeiro turno, perdendo para Avamileno, que ficou com 46,4% da preferência do eleitorado. Brandão acredita que faltou um “elemento aglutinador” na campanha do primeiro turno, alguém que “centralizasse e dirigisse” as ações. “A nossa campanha teve muita espontaneidade e enfrentou deficiências. Poderíamos ter feito melhor e não fizemos”, ele analisa criticamente.

Houve divisão de forças? Alguma possível briga com o grupo do vice candidato, Duílio Pisaneschi? Brandão afasta essa hipótese. “Não houve briga. O Duílio não brigou comigo e eu tampouco briguei com ele. Sou Brandão paz e amor e não é de agora. A vida toda fui assim.” Ele aproveita para negar outro boato: “Não tenho câncer, como andam dizendo por aí”.

Estratégia - Se o primeiro turno foi baseado em passeatas, comícios e visitas a redutos eleitorais, a estratégia para a segunda etapa obedecerá o mesmo esquema. “Passeata é uma experiência boa. A gente sai com bandeiras, vai cumprimentando as pessoas que passam nas ruas. Pegávamos a Oliveira Lima e descíamos em direção à Igreja do Carmo. Isso é muito bom. Entusiasma o eleitor.” Showmício com artistas famosos nem pensar. “Não conseguimos quem financiasse. Não temos competência para isso.”

Sobre as alianças prováveis, Brandão disse que saiu na frente e já fez contatos com Wilson Bianchi (PMDB). “Está praticamente certo o apoio de Bianchi a nossa candidatura.” A herança de Bianchi totaliza 23.290 votos. Outro apoio pretendido é o de José Dilson (PDT). Segundo Brandão, quem aderir à Frente Andreense, terá lugar garantido no governo.

Prpopostas - De resto, a campanha de Brandão para o segundo turno vai reafirmar as obras que ele fez em três administrações anteriores e alinhar as propostas de realizações para um possível futuro mandato.

Sua proposta de governo é delineada na forma de metralhadora giratória, atirando para todo lado e pouco precisa pontualmente: “Temos projetos para várias áreas. Os funcionários públicos não recebem aumento há muito tempo. Existe essa preocupação com a violência, o desemprego. A situação da saúde é crítica. Vamos voltar com a bolsa estudo”.

Brandão discorre também sobre o fechamento da maternidade do Parque Novo Oratório e o que ele espera fazer para atender as mulheres daquela região da cidade: “Não sei se faremos um hospital da mulher, uma maternidade. O fato é que aquela região precisa ter algo. Poderá ser no próprio prédio onde funcionava a maternidade ou iremos construir uma nova edificação”.

O candidato da Frente Andreense se detém mais longamente sobre o tema segurança e fala de si mesmo na terceira pessoa: “Os batalhões da Polícia Militar estão sediados em prédios, feitos pelo doutor Brandão. Nós fundamos a Guarda Municipal de Santo André. Vamos fazer bases fixas da Guarda Civil e colocar a polícia nas rotas de fuga. Queremos trazer a tranqüilidade para as famílias de Santo André”.

Segundo Brandão, o conceito de segurança é mais amplo que a mera questão policial: “É colocar criança na escola, é dar bolsa de estudo, é ter hospital público de qualidade”.

Antes de encerrar, Brandão reafirma sua intenção de transformar a região do Guaraciaba em um “centro de lazer ou parque”. Em relação aos debates, Brandão diz que irá comparecer, sempre que for convidado. “Irei com muito prazer. Gosto de debate, desde que não descambe para coisas sem pé nem cabeça.”

No encerramento da entrevista, o repórter aproxima-se do quadro-negro e consegue ler a frase, deixada ali por alguém: “Em política, tudo é permitido; exceto deixar-se surpreender”.




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