Nacional Titulo
Tráfico decreta toque de recolher e aterroriza favela em SP
Do Diário do Grande ABC
23/10/1999 | 16:44
Compartilhar notícia


Crianças brincavam nas ruas, maes lavavam calçadas e pais bebiam nos bares, durante este sábado nas ruas estreitas da Favela de Heliópolis, na zona sul paulistana. Tudo parecia tranqüilo, nao fosse por um fator: o medo de morrer. Há uma semana, os moradores da favela estao sendo ameaçados de morte se permanecerem nas ruas após as 21 horas. A ameaça é feita em ligaçoes anônimas para cinco escolas estaduais.

Com isso, a rotina de Heliópolis mudou: cultos evangélicos começam às 18 horas, e nao às 20 horas, os bares, que antes ficavam abertos até o sol nascer, fecham cedo, e as crianças e jovens, que ficavam na rua até a madrugada, sao obrigados a dormir cedo. "Na rua ninguém comenta, mas tá todo mundo com medo de morrer", contou uma das crianças, de 12 anos. "Voltamos para casa correndo de medo." Temendo represálias, os moradores nao quiseram se identificar.

Sexta-feira (22), a Polícia Militar fez uma "operaçao especial" para evitar o toque de recolher. Mas foi embora às 22h30. "As coisas piores acontecem de madrugada", disse um comerciante. Segundo os moradores, na noite de sexta-feira (22) , cinco pessoas morreram.

"Os policias nao entram onde o tráfico de drogas rola. Ficam rondando só por fora. Eles têm medo", explica uma moradora de 37 anos, que nao pode mais ir à aula à noite. "Prefiro repetir por falta do que morrer. Depois das 21 horas, eles (traficantes) cercam as ruas. É perigoso."

"Quando nao tem polícia, fico com medo dos 'perigosos' que circulam com armas 'deste tamanho'", disse outro morador, de 38 anos, abrindo os braços para explicar. "Após as 21 horas, a rua vira um deserto. Só ouvimos as 'pipocas' (tiros)." Além do medo, os comerciantes também estao sendo prejudicados. "Estou vendendo 50% menos", contou o dono de um bar, que funcionava a noite toda. E mudar para outro lugar é impossível. "Se mudarmos daqui agora, podemos morrer."




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;