A partir de oficina musical, Centro de Atenção Psicossocial Jardim criou grupo que alia acolhimento, integração social e estímulo ao tratamento
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“Quero apenas um dia poder viver num mar de felicidade, com alguém que me ame de verdade”. O verso de Insensato Destino, canção consagrada nas vozes de Zeca Pagodinho e Almir Guineto, ganhou versão especial na roda de samba do Caps 3 (Centro de Atenção Psicossocial) Jardim, na Rua Padre Manoel da Nóbrega, em Santo André.
Nos encontros semanais do grupo, formado por 14 integrantes, usuários e profissionais que atuam na saúde municipal andreense são os instrumentistas e cantores. As pacientes, que também fazem tratamento para transtornos mentais no local, assumem a “pista de dança” e, com isso, o papel de passistas. Ou, no caso de Sandra Regina Pinto, 56 anos, de porta-bandeira.
“Hoje estou muito ansiosa”, contou a usuária do Caps Jardim. O nervosismo antecipava a apresentação que o Cativa Samba, nome do grupo nascido da união entre duas oficinas terapêuticas da unidade – além do samba, Dança Terapia – fariam naquela noite do ensaio acompanhado pelo Diário.
Diante dos problemas de saúde, entre os quais a artrose, e do quadro de depressão diagnosticado após o nascimento de sua primeira filha, quanto tinha 17 anos, Sandra encontrou acolhimento e aceitação no Cativa Samba. Mais do que encontros internos, dentro das dependências do Caps, o grupo se apresenta em atividades em toda a região. Foram atração cultural de destaque em eventos da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), da Universidade Anhanguera e do Centro Pop (Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua).
Hilton Alves da Silva de Lima, 33 anos, frequenta o Centro de Atenção Psicossocial Jardim há 11 anos. “Comecei no Caps AD (Álcool e Drogas). Fui usuário de cocaína e maconha dos 18 aos 22 anos”, lembrou o morador da Vila Linda.
Na roda de samba, Hilton toca o tantã, ou rebolo. Aprendeu sozinho a tocar percussão ainda menino, aos 8 anos. Na oficina terapêutica do Caps de Santo André, reencontrou os caminhos do samba, que abraçou da cabeça aos pés. “A gente vê aqui as pessoas se reabilitando, interagindo. Minha família toda é do samba. Me sinto grato por saber tocar um instrumento e ver outras pessoas que estão iniciando aprendendo. A mensagem do samba traz tudo. Harmonia e felicidade”, destacou.
A ideia dos ensaios e das apresentações do Cativa Samba surgiu da necessidade de aproximar os usuários da saúde mental das oficinas promovidas no Caps Jardim e estimular a participação dos pacientes nas atividades terapêuticas.“Estávamos tendo a dimunuição do grupo e pouca frequência. Pensamos estratégias de como enriquecer e trazer dinâmica que fosse mais agradável para todos eles”, observou o monitor de oficina terapêutica, Augusto Lopes Ferreira.
A busca por uniforme próprio, a composição de um nome e a construção de estética fazem parte dos esforços da equipe. “Isso fez com que nossos ensaios tivessem continuidade e as apresentações ficassem mais bacanas. Elas são consequência desse trabalho de estímulo, que alimenta a vontade de continuar”, enfatizou o profissional.
VIOLÃO E POESIA
Os ensaios do Cativa Samba abriram espaço para a integração entre os participantes da oficina musical e de Dança Terapia. Além dos ensaios, às sextas-feiras, a última quarta-feira de cada mês é reservada ao Sarau Violão e Poesia, encontro entre linguagens, ritmos, formas de expressão e histórias de vida.
“Busquei o serviço (Caps) depois de um acidente que mudou minha vida”, contou Maria de Lourdes Ferreira, 69. “No samba recito versos”, explicou. E é exatamente assim que acontece. Entre as batidas da percussão, Maria declama os textos que mais gosta. Parte deles, pelo menos. “Tem Vozes d´África, de Castro Alves. Eu sei inteirinho, mas é muito longo. Essa é uma nova vida que estou levando, e é no ritmo do samba”, concluiu.
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