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Escassez energética leva ocidente a se reaproximar da Venezuela
15/11/2022 | 08:18
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Com a guerra na Ucrânia, a demanda por petróleo subiu e muitos países se voltaram para a Venezuela. Líderes internacionais retomaram o diálogo com Nicolás Maduro e pressionam por determinadas mudanças no regime que permitam ao país voltar a ser classificado como democracia.

Na semana passada, o presidente da França, Emmanuel Macron, patrocinou em Paris uma reunião entre a oposição e o chavismo, apoiado por Argentina e Colômbia. Dias antes, na COP-27, no Egito, o francês conversou com Maduro, ofereceu apoio e diálogo, depois de anos reconhecendo Juan Guaidó como presidente interino.

Democracia

Para Erik del Bufalo, analista político e professor da Universidade Simon Bolívar, a pressão é para tornar o regime "mais palatável". "Acredito que haverá mais formalidade no sentido de marcar eleições, mais transparência, para que os países que querem o petróleo venezuelano ou fazer negócio com a Venezuela o façam sem o estigma de estarem negociando com uma ditadura", disse.

A França é um dos mais de 50 países que não reconhecem a reeleição de Maduro em 2018, considerada "fraudulenta" pela oposição. Macron apoiou Guaidó como presidente interino, mas o respaldo vem enfraquecendo, principalmente em razão da crise energética como resultado da guerra na Ucrânia.

Novas fontes

Em junho, preocupada com a crise energética, Macron pediu a "diversificação das fontes de abastecimento de petróleo", mirando na produção de Irã e Venezuela. "O petróleo venezuelano deve poder voltar ao mercado", indicou. Maduro respondeu e disse que a Venezuela estava pronta para receber as petrolíferas francesas.

Outro país que não reconheceu a reeleição de Maduro foi os EUA. Mas a política de Washington também mudou. Com a inflação dos combustíveis causada pelo embargo aos produtos russos, os EUA retomaram as conversas com representantes de Maduro para retomar negociações.

Desde então, o presidente americano, Joe Biden, anunciou o alívio de sanções à Venezuela e ensaiou uma aproximação com a troca de prisioneiros - sete americanos foram devolvidos em troca dos sobrinhos da primeira-dama, Cilia Flores, Franqui Flores e Efrain Campo, presos por tentarem levar 800 quilos de cocaína para Nova York.

Diplomacia

Outra reaproximação crucial para Maduro foi com a Colômbia. Neste mês, Gustavo Petro, novo presidente colombiano, foi à Venezuela os países voltaram a ter uma reunião presidencial após seis anos. O encontro rendeu para Caracas a possível volta à Comunidade Andina de Nações (CAN) e ao Sistema Interamericano de Direitos Humanos - os voos Caracas-Bogotá também foram reativados. Semanas depois, os dois iniciaram uma cooperação para a recuperação da Amazônia.

Segundo Bufalo, o cenário internacional já impulsionou mudanças "econômicas e de mentalidade" na Venezuela. "Maduro está numa etapa mais liberal da economia. Percebemos uma mudança de dinâmica por conta do petróleo. A palavra socialismo não é mais usada pelo governo, foi esquecida. É uma mudança radical."

Além disso, o analista diz que a retomada do diálogo entre chavismo e oposição se dará dentro de um contexto diferente dos anteriores. "Vivemos um pós-chavismo, um sistema mafioso, primitivo e de concentração de poder que está consolidado. Por outro lado, a oposição não tem mais prestígio e apoio popular, e tende a desaparecer. Há a possibilidade de surgirem novas forças políticas", afirma.

Abusos

A pressão internacional não chegou a alterar o comportamento do regime. Em 2022, foram 79 emissoras de rádio fechadas e 386 casos documentados de perseguição e criminalização contra jornalistas, opositores políticos e ativistas sociais.

"Os padrões de perseguição continuam se repetindo. Perseguição d sistemática a dissidentes, jornalistas, líderes sociais, defensores dos direitos humanos, líderes estudantis, qualquer grupo que, de forma organizada, exija seu direito ou se converta em voz dissidente. Em momentos de maiores organizações cidadãs, como eleições e manifestações, esses processos de perseguição são ampliados", afirma a diretora do Centro de Justiça e Paz (Cepaz), Beatríz Borges.

Segundo a organização, apenas em agosto, foram registrados pela Cepaz 22 casos de perseguição a jornalistas e meios de comunicação, 6 contra cidadãos, 21 contra pessoas ligadas à política e 3 contra ativistas sociais.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.




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