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Governo diz que lucros de bancos não são ilegais
Da Agência Brasil
28/02/2005 | 15:00
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O secretário de acompanhamento econômico do Ministério da Fazenda, Elcio Takeshi, destacou que uma conjuntura econômica favorável é a base do sistema que permite aos bancos obterem grandes lucros no Brasil. "Eles não estão fazendo nada de ilegal, apenas aproveitando uma propriedade que o mercado brasileiro apresenta para eles".

Miguel de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, resume sua opinião sobre rentabilidade das instituições financeiras: "A melhor coisa do mundo é um banco bem administrado, a segunda melhor do mundo é um banco mais ou menos administrado, e a terceira melhor coisa do mundo é um banco mal administrado. Alguns até quebraram, mas foi por desvio de dinheiro, porque banco não dá prejuízo".

Uma das propriedades do mercado brasileiro é oferecer liberdade para que os bancos decidam quanto irão cobrar sobre cada tarifa e, inclusive, decidir quais serão as tarifas existentes. Segundo Fernando Excel, da empresa de pesquisas econômicas Economática, apenas o ganho com receitas com serviços do Bradesco, incluindo tarifas, foi de R$ 5,8 bilhões. Roberto Piscitelli, professor de Ciências Contábeis da Universidade de Brasília, afirma que "no caso de algumas grandes instituições, a receita com tarifas bancárias é superior à própria folha de pagamento dos salários".

Uma pesquisa da ABM Consulting, realizada com seis grandes bancos brasileiros, reforça a informação do professor. O estudo revela que as receitas com serviços bancários, incluindo tarifas, cresceram de R$ 4,8 bilhões em 1995 para R$ 19,2 bilhões, até setembro de 2004, e já correspondem a 113,4% do valor gasto com a folha de pagamento dos bancos.

O analista financeiro da consultoria Gustavo Pedreira ressalta que se trata de um fenômeno mundial. Essa, segundo ele, é uma porcentagem ainda menor, entretanto, do que a encontrada em países europeus e nos Estados Unidos. "A tendência é aumentar ainda mais a participação da tarifa na receita e a relação receita de serviço com despesa de pessoal", sinaliza.

As tarifas, entretanto, não são a única fonte de renda dos bancos. Segundo estudo da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças), os ganhos com a tesouraria dos bancos chegam a 36% do total dos lucros do sistema bancário. No estudo, "tesouraria" é a definição para ganhos com investimentos em compras de título do governo federal, que pagam as maiores taxas de juros do mundo ao investidor (atualmente, 18,75% ao ano).

Para se ter uma idéia, nos EUA, essas taxas estão em 2,5%. A Anefac ainda informa que as tarifas geram 13% dos lucros totais do sistema bancário, e receitas diversas compõem 8% desse total. De acordo com o vice-presidente da instituição, entretanto, o que mais rende dinheiro para os bancos é a concessão de créditos. Os juros bancários aplicados sobre os créditos foram responsáveis, até o primeiro semestre de 2004, por 43% da receita dos bancos.

O principal componente desses lucros obtidos com a concessão de créditos encontra-se no alto spread cobrado no Brasil. O spread é a diferença entre os juros que os bancos pagam na hora de captar dinheiro (pegando emprestado de outros bancos ou de poupadores) e os juros que cobram sobre os empréstimos que fazem aos tomadores (pessoas físicas e jurídicas). Enquanto as primeiras taxas são baixas, as segundas são altas, chegando a 160,63%, ao ano, no caso do cheque especial, segundo dados da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade. Parte da diferença entre as duas fica com os bancos e gera os lucros recordes.

"Todo banco vive de spread", afirma o diretor-presidente da empresa de informações financeiras Economática, Fernando Excel. "Em tese, seria a margem de lucro do banco", complementa Jandir Feitosa. O spread brasileiro, em dezembro, foi de 27,3 pontos percentuais, segundo dados do Banco Central de 2004. Ele está entre os maiores do mundo, sendo quase duas vezes maior que o da Argentina (15,4%), três vezes o da Rússia (9,1%) e nove vezes o dos Estados Unidos (3%), segundo o Iedi (Instituto de Estudo para o Desenvolvimento Industrial), baseado em dados de 2003 do FMI (Fundo Monetário Internacional).

Uma pesquisa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo mostra que os brasileiros pagam R$ 73 bilhões, por ano, em spread. Para se ter uma idéia, segundo Fernando Excel, o Bradesco ganhou, em 2004, R$ 11,1 bilhões em spread — quase o dobro do que recebeu com tarifas.

Para o economista chefe da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Roberto Troster, comparada a outros setores, a rentabilidade dos bancos brasileiros é baixa. Além disso, os altos spreads cobrados no Brasil "não se traduzem em lucros", e os ganhos com serviços bancários representam apenas 7,5% de cada R$ 1 obtido como receita. Segundo artigo publicado em janeiro de 2005, Troster afirma que os R$ 0,925 restantes são custos.




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