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Lisboa: a casa dos brasileiros
Heloísa Cestari
Enviada a Portugal
27/10/2005 | 09:38
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Apesar das diferenças de idade, tudo em Lisboa faz o brasileiro se sentir em casa. Enquanto os paulistanos fazem compras na rua Augusta lisboeta, os cariocas podem tomar um chope nas mesas espalhadas pela esplanada ou passear por calçadões à beira-mar com traçado de ondinhas em preto e branco idênticas às da praia de Copacabana (sim, foram eles que inspiraram a marca registrada da mais famosa praia da Cidade Maravilhosa). Mas nada se compara à semelhança com Salvador, com suas construções históricas e ruas estreitas que fazem da caminhada entre os bairros um sobe-e-desce sem fim, praticamente impossível de ser empreendido sobre um par de sapatos altos. Para encarar as ladeiras, assim como na capital baiana, Lisboa conta com um elevador, o de Santa Justa, que liga a parte Alta à Baixa da cidade.

E basta um breve passeio para constatar que, a despeito das anedotas e dos quilômetros de oceano que nos distanciam, nós, brasileiros, mesmo os que não possuem uma única gota de sangue lusitano nas veias, temos mais semelhanças com os Joaquins e Marias de nossas piadas do que supõe a nossa vã filosofia humorística.

Outra característica marcante é o contraste entre o velho e o novo. Não, não me refiro aos reservados senhores portugas com seus netinhos, e sim às construções. No Centro, tudo é muito antigo, desde os edifícios até os chamados "elétricos" (bondes), que parecem pouco se importar com as injeções de capital que modernizaram o metrô e revitalizaram as velhas docas, hoje transformadas em redutos de música techno madrugada adentro.

A sensação é de estar no século XVIII. Até que, num certo dia, você toma o metrô com destino ao Parque das Nações e desembarca em pleno século XXI. Projetado pelo arquiteto português Álvaro Siza para servir de sede à Expo 98, o bairro reúne tudo o que há de mais moderno em Lisboa: prédios de arquitetura despojada, teleférico, cassino e o Oceanário, considerado o maior conjunto de aquários da Europa e o segundo do mundo.

Para lembrar o tema do evento – Água: um banho a preservar –, tudo lá esbanja água e tecnologia, desde o banheiro até o semáforo. Não à toa, o projeto fez do até então decadente Parque das Nações o bairro mais caro da capital. No próximo dia 3 de novembro, aliás, o pavilhão Atlântico servirá de palco para a 12ª edição do MTV Europe Music Awards, que contará com a participação das bandas Coldplay, Gorillaz e U2, entre outras.

De volta ao passado, aproveite as vantagens da lei da gravidade e comece a explorar Lisboa de cima, pelo Castelo São Jorge. Um bom lugar para traçar o resto do roteiro diante da incrível vista panorâmica da Baixa, com o Tejo ao fundo, que a construção proporciona. Após reconquistar Lisboa dos mouros em 1147, Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, mandou construir o castelo no topo de uma colina para servir de palácio real. Hoje, seus inúmeros terraços servem de mirante aos turistas e proporcionam fotos dignas de cartão-postal.

A construção pertence ao bairro de Alfama, o mais antigo de Lisboa, onde também se encontra a Catedral da Sé, com claustro, ruínas romanas e, em uma das capelas, a pia onde o casamenteiro Santo Antônio foi batizado. Isso mesmo: embora todos pensem que ele é de Pádua (Itália), foi em Lisboa que o santo nasceu.

Depois siga para a Baixa, visite a praça do Rossio – onde repousa a estátua do nosso D. Pedro I (D. Pedro IV para eles) – e, por fim, a do Comércio, de onde partem os bondes, ônibus, metrô e as barcas que atravessam o rio em direção à margem Sul e que, no passado, funcionavam como ponto de desembarque de reis e embaixadores rumo ao Palácio Real.

Também é na praça do Comércio que se contempla o arco da rua Augusta, arremate final do projeto de reconstrução da Baixa empreendido pelo Marquês de Pombal após o terremoto de 1º de novembro de 1755, que matou mais de 15 mil pessoas e deixou metade de Lisboa em ruínas. Não só devido aos três abalos sísmicos que se sucederam em um intervalo de minutos, como também por causa do incêndio que se seguiu mantendo a cidade em chamas durante sete dias. Mais de 20 igrejas desabaram – muitas ainda com fiéis a celebrar o Dia de Todos os Santos –, e quem fugiu para o Tejo a fim de escapar das labaredas foi surpreendido, uma hora mais tarde, por ondas gigantes que arrastaram pessoas, navios e alagaram toda a Baixa.

Pombal, no entanto, se encarregou de deixar tudo novinho em folha. Lisboa, aliás, parece ter vocação de fênix para renascer das cinzas ainda mais bela do que antes das tragédias. Foi assim, também, com o badalado bairro do Chiado, que ressurgiu após um incêndio em 1988 e hoje é considerado um dos pontos mais chiques do comércio lisboeta. Impossível não parar no café A Brasileira para tomar um guaraná importado e tirar uma foto ao lado da estátua de seu mais ilustre freqüentador: o poeta Fernando Pessoa, aquele mesmo que tanto dificultou nossas sabatinas em sala de aula com sua infinidade de heterônimos.




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