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Governança e gestão das organizações
Lucio Flavio Franco
08/07/2022 | 01:00
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Este artigo tem o intuito de provocar uma análise mais reflexiva dos princípios básicos da governança corporativa e como esses interferem e podem auxiliar diretamente na gestão das organizações. Tratei do tema na 22ª Carta de Conjuntura do Observatório Conjuscs. Quando nos referimos a governança corporativa, estamos falando de sua comparação a um modelo de gestão, que passa por dentro de todos os processos e não apenas pela maneira de gerir os negócios. Vale a pena um aprofundamento em seus aspectos básicos e elementares para que consigamos observar a profundidade e a utilidade de conceitos dentro das organizações. Pois é, justamente com essa indagação sobre o momento atual de gestão é que queremos analisar de forma reflexiva como os princípios básicos da governança corporativa conseguem interagir, convergir, contribuir de forma construtiva para que a gestão de uma organização.

Começaremos com o princípio da transparência, que, segundo sua definição básica, é um substantivo feminino que significa "característica ou estado do que é transparente, é aquilo que se pode ver através" e no sentido figurado, aquilo que não possui duplo sentido, que se apresenta com clareza, limpidez. Porém, quando trazemos essa palavra para o mundo das organizações, significa que essa tem que agir com transparência. Seus atos, movimentos, suas gestões não podem gerar duplo sentido. Ser preciso e bem direcionados é uma lei imperiosa. Existem autores que hoje entendem que esse é um dos principais princípios não só para a governança, mais sim para a existência das organizações, pois quanto mais transparente as organizações forem, maior será sua adaptabilidade e conexão com seus stakeholders.

O segundo princípio que estaremos refletindo é o da equidade, que significa a justiça natural, disposição para reconhecer imparcialmente o direito de cada um. Em resumo, significa reconhecer que todos precisam de atenção, mas não necessariamente dos mesmos atendimentos. A equidade pode ser entendida e caracterizar-se pelo tratamento justo de todos os sócios e demais partes interessadas (stakeholders). Atitudes políticas discriminatórias, sob qualquer pretexto, são totalmente inaceitáveis. Porém, se observarmos esse tratamento que deveria ser justo de algumas organizações com referência a seus clientes, vamos entender que temos muito a evoluir.

O terceiro princípio a refletir é a prestação de contas, ou accountability, que significa dar explicações de atos, fatos e responsabilidades sem qualquer omissão e não apenas de fatos econômicos e financeiros da organização. Muitas organizações ainda têm uma visão muito particular com relação à prestação de contas de seus gestores, pois essas atribuem apenas responsabilidade pelos ganhos ou perdas econômicas e financeiras, porém o que temos de refletir é que esses são consequências de atos e fatos praticados pela organização que está sob seu comando. E o fato de ter um bom desempenho não significa que pratica atos totalmente esclarecidos aos seus stakelholders. Esse princípio da governança é fundamental para a gestão de qualquer organização, pois prestar contas das decisões tomadas em sua gestão deveria trazer à responsabilidade o gestor perante a sociedade, quer positiva ou negativamente, sem a interferência de qualquer manipulação de processos comunicacionais.

O quarto e último princípio é o de Responsabilidade Social Corporativa, que tem um peso significativo para as organizações em suas gestões. Não possui um significado único, pois a sua empregabilidade é ampla e diversificada. Trata dos relacionamentos dos indivíduos enquanto entes que vivem em ambientes comuns e precisam existir de forma pacífica e harmoniosa para que todos tenham seus direitos respeitados e desses com o meio ambiente e as necessidades de um e as responsabilidades de outros. Os agentes de governança devem zelar pela sustentabilidade das organizações, visando à sua longevidade, incorporando considerações de ordem social e ambiental na definição dos negócios e operações. O princípio de responsabilidade socioempresarial deveria ser uma variável preponderante na avaliação, se na conduta adotada está sendo levado em consideração para que a organização possa ter sucesso e sustentabilidade. A gestão que incorpora em sua forma de ação os princípios da governança corporativa estará muito mais blindada com relação às anomalias e fissuras que sua não observância podem causar. Não temos mais espaços para o isolacionismo, precisamos da convivência entre diversas culturas, ambientes diferentes, entre maneiras de pensar divergentes e procurar espaços inteligentes onde opiniões sejam respeitadas.  




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