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Suplente faz o que o mestre mandar
Sérgio Vieira
Do Diário do Grande ABC
02/12/2006 | 17:38
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"Um vereador suplente não manda no seu próprio voto.” Quem admite isso é o suplente de Mauá Anderson Alves Simões, o Sargento Simões (sem partido), que exerceu o mandato durante 21 dias, quando o titular Alberto Betão Pereira Justino (PSB) assumiu a superintendência da Sama (Saneamento Básico do Município de Mauá), no mês passado.

O político reconheceu o que muitas vezes é feito nos bastidores do Legislativo: acordos entre o dono da cadeira na Câmara e o suplente para que não haja alterações na assessoria de gabinete, além de compromissos nas votações. “Como eu, sendo suplente, vou votar alguma coisa contra o governo? Se eu fizer isso, o prefeito Leonel Damo (PV) manda o vereador voltar e você volta a ser suplente. Essa é a realidade e quem falar o contrário está sendo hipócrita.”

O policial militar foi além: “Eu senti essa pressão e houve esse acordo para que eu votasse com o governo. Eu poderia falar que não queria, mas estava ciente que minha cabeça poderia rolar.” Apesar das críticas, ele faz uma mea-culpa: “O que é honrado não é caro. Se eu aceitei isso, tenho de ser homem para manter esse compromisso.”

Betão nega que tenha firmado acordo com Simões.“Eu desconheço isso. Comigo não fez acordo nenhum. Não tenho nem amizade com ele e não o influenciei em nada”, explica.

Ainda assim, o parlamentar – que retornou à Câmara para disputar a Presidência, no próximo dia 12 – admite que naturalmente o suplente faz parte do mesmo grupo do titular e vota na mesma direção. “Ele já fazia parte do grupo governista. Mas é claro que se o prefeito não contasse com o voto dele não me chamaria para integrar a administração”, reconhece Betão.

Outros vereadores suplentes, que assumiram as cadeiras em Mauá e Diadema, também negaram a obrigação de seguir a mesma cartilha do vereador titular, mas admitiram que chegam a fazer algumas concessões, em nome da amizade ou por cavalheirismo. É o caso de Paulo Bio (PMDB), também de Mauá, que assumiu no lugar de Silvar Silva Silveira, atual secretário de Assuntos Jurídicos da Prefeitura. Apesar da proximidade com Silvar, Bio diz que tem autonomia no Legislativo.

O vereador não reclama do fato de ainda não estar com o carro da Câmara e nem com o celular, ainda em poder de Silvar. “Para mim, essas questões são secundárias. Não estou preocupado com isso e sim em atender a um chamado para contribuir com o município.”

Ele completa: “O mandato, na verdade, não é meu nem do Silvar e sim dos eleitores que nos confiaram os votos.”

O suplente de Diadema Valdecir Lino dos Santos, o Paraná (PT), que ocupou por 13 dias a cadeira deixada pelo presidente da Câmara, Marco Antônio Ernandez, o Marquinhos (PT), prefeito interino do município até a última quinta-feira, também diz que não teve interferência do dono da vaga. “Votei conforme minha consciência. Nesse período eu nem conversei com o Marquinhos”, argumenta.

Mas ele também admite que ficou sem o carro e o celular que teria direito. “Não quis ficar com o carro porque a assessoria do Marquinhos estava usando. Se fosse usar o reserva da Câmara, daria um custo a mais para o Legislativo de forma desnecessária. E também preferi usar o meu ceular”, argumenta.

Assim como o Sargento Simões, o presidente da Câmara de Mauá, Diniz Lopes (PL), disse que os suplentes seguem,de fato, as determinações dos titulares. “É claro que o vereador manda no suplente. Ele sabe que se não andar conforme a música perde a vaga.”

Apesar de assegurar que os acordos existem e são feitos abertamente no Legislativo, o liberal assegura que não inteferiu nas votações de Osvanir Carlos Stella, o Ivan (PSB), que ocupou o seu lugar em Mauá quando ele foi prefeito interino, de janeiro a dezembro de 2005. “Nesse caso, foi diferente, já que eu fui direto para a Prefeitura e o Ivan nomeou seus próprios assessores. Quando eu voltei, coloquei os meus auxiliares”, justifica.




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