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Jornalistas são presos por escrever sobre Maomé
Da AFP
17/02/2003 | 16:01
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Três jornalistas jordanianos foram presos nesta segunda-feira por terem mencionado num artigo a vida sexual do profeta Maomé, incidente que provocou pouca mobilização a favor deles na Jordânia.

Os jornalistas, do jornal semanal independente Al Hilal, foram julgados por um artigo publicado no dia 14 de janeiro que, segundo a justiça, continha afirmações "contra o prestígio do Estado (a família reinante hachemita é considerada descendente do profeta) e do Islã".

Mohannad Mubaidin, redator do artigo, foi condenado a um ano e meio de prisão, embora a pena tenha sido reduzida para seis meses.

Já Rumane Haddad, redator-chefe, foi condenado a 14 meses de prisão, reduzidos para dois meses, e Nasser Komch, diretor de redação, a quinze meses, reduzidos para três.

O caso, julgado pelo tribunal de segurança do Estado para veredictos sem direito à apelação, começou quando a justiça, sob a pressão dos islâmicos, assumiu a controvérsia depois da publicação de um artigo sobre Aicha, mulher do profeta.

Segundo os especialistas, este texto, uma recopilação de obras clássicas, não traz nada de novo. Menciona que Aicha foi a esposa preferida do profeta e que foi, segundo algumas fontes, a única virgem de todas as suas esposas.

O artigo acrescenta, citando fontes antigas, que o vigor sexual do profeta com ela havia se equiparado ao de "quarenta homens".

O chefe do jornal Al Hilal, Ahmed Salame, afirmou antes do julgamento que ele não teria autorizado a publicação do texto se tivesse sido consultado com antecedência.

No entanto, Salame acrescentou que não entendia por que esse artigo pudesse ser considerado um atentado ao Islã, já que o tema da sexualidade do profeta sempre foi tradicionalmente considerado objeto de estudo para os religiosos.

No artigo "não se diz nada que não tenha sido escrito pela marroquina Fatima Mernissi em seu livro "O profeta e as mulheres", um ensaio sobre a sexualidade de Maomé e suas relações com a mulher, cuja tradução em árabe está disponível em todas as livrarias de Amã", estimou Salame.

Este mesmo argumento foi usado por um dos poucos defensores dos acusados, Nidal Mansur, membro do Centro de Defesa da Liberdade dos jornalistas, órgão criado em 1999.

"Encontramos os mesmos escritos na biblioteca da prisão de Jueida, perto de Amã, onde os jornalistas estão detidos", assegurou.

Salame e Mansur estão de acordo ao afirmar que foram os Irmãos Muçulmanos que, aproveitando-se do caso, exerceram pressão sobre o governo.

"É anormal que alguns jornalistas paguem esse preço por questões políticas", lamentou Mansur, estimando que "o governo tentou, ao condenar os jornalistas, cortar as asas dos islâmicos e impedi-los de fazer deste assunto um cavalo de batalha" nas eleições legislativas.

Salame estima que a reação dos islâmicos, que chamaram os jornalistas de "ímpios", representa "mais um ajuste de contas do que uma defesa de Aicha".

Segundo ele, o caso mostra também a pusilanimidade dos poderes públicos ante os partidários de um Islã sunita rigoroso, tanto na Jordânia quanto em outros países muçulmanos.

"O pensamento islâmico não parou de retroceder desde a vitória do aiatolá xiita Khomeini no Irã, o que tornou os sunitas mais rigorosos", afirmou Salame, lamentando que as instituições islâmicas desempenhem o papel de "censores" mais que de "catalizadores de um pensamento livre e aberto".




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