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Mães relatam desafios de criar filhos sem o pai

Cuidando das crianças sozinhas, por escolha ou por falta dela, buscam forças no amor

Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
08/05/2022 | 07:00
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Divulgação

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Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) de 2018 apontam que 11 milhões de mães no Brasil cuidam sozinhas de seus filhos e de suas casas. Segundo a Arpen (Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Estado de São Paulo), dos 88.574 bebês que nasceram no Grande ABC de 2019 a 2021, 4,5% deles não têm o nome do pai na certidão de nascimento. As mães solo – termo que substituiu o preconceituoso mãe solteira – muitas vezes precisam se desdobrar em dez, 100 ou 1.000 para dar conta das demandas diárias.

Juliana Guimarães, 31 anos, mora em Diadema e é mãe de Eduardo, 14, André, 7, e Leandro, 4. O mais novo não foi registrado pelo pai, que sequer chegou a conhecê-lo. Havia a expectativa de vida a dois, mas ela foi frustrada quando o ex-companheiro soube que o bebê era menino. A dona de casa, que já tinha dois filhos de um relacionamento anterior, vivencia desta vez desafios ainda maiores, com um diagnóstico recém-fechado de autismo leve do caçula.

Juliana avalia que se pudesse dividir as tarefas e demandas diárias com o pai dos meninos, o cansaço do dia a dia seria menor. No entanto, conta com o carinho e amor dos filhos para seguir firme. Os dois mais velhos, inclusive, falam invejar o menor, que não precisa passar nenhum fim de semana fora de casa com o pai. “Quando os meninos vão ficar com o pai, o Leandro sempre diz ‘ainda bem que não tenho outra casa para ir, porque posso ficar com você’”, conta a mãe.

A diademense relata que sente cotidianamente olhares de julgamento por sua condição de mãe solo. “Já falaram coisas do tipo ‘nossa, você tem três filhos, é casada?’ e quando digo que não, vejo o julgamento”, declara. Acredita que essa situação da sua vida será permanente, porque não se imagina mais em novo relacionamento. “Não quero colocar mais ninguém na vida dos meus filhos”, explica. Neste Dia das Mães, de presente, Juliana queria 20 minutos para tomar banho sem ninguém bater na porta, chamar ou entrar no banheiro. “Depois que tive os três nunca mais fiz isso com calma”, afirma, aos risos.

Quem também tem criado o filho sozinha é a professora de informática Suely Sousa, moradora de Ribeirão Pires. A gravidez não planejada realizou o sonho antigo de ser mãe, mas o convite para dividir a vida a dois não foi aceito e ela é mãe solo por opção. O pequeno Gael tem 2 anos e pouco contato com o pai, que neste ano o viu só uma vez. “Ele poderia ficar com ele quando quisesse, mas trabalha viajando e acaba sendo muito distante”, relata.

Nascido no auge da pandemia, em abril de 2020, Gael passou vários meses sem receber visitas pessoalmente. Nem do pai, que o registrou, mas com quem não chegou a criar um grande vínculo. O fato de ser mãe solo não a incomoda e ela diz que não se arrepende de não ter ido viver com o pai de seu filho. “Me sinto tranquila e segura com a minha decisão, que foi a de não ter um marido, não a de deixar meu filho sem pai.”

Também relata que não se preocupa com possíveis julgamentos sobre o fato de não contar com o apoio de um homem para criar o filho. De presente de Dia das Mães, Suely quer só o abraço do filho. “Me pergunto como vivi tanto tempo sem ele.”




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