A CPI da Câmara dos Deputados está ouvindo nesta tarde Euclides Tada, mecânico de manutençao e dono de um hangar na regiao de Atibaia, interior de Sao Paulo, supostamente usado para realizar adaptaçoes em aeronaves do narcotráfico. Antes dele, prestou depoimento o traficante Claudio da Silva Santos. Também conhecido como Bruno Henrique Goes, Santos é companheiro de Sonia Aparecida Rossi, a Maria do Pó. Ela é acusada de desviar 340 quilos de cocaína, que foram apreendidos com ela, do IML de Campinas.

O depoimento de Claudio da Silva Santos complicou a situaçao do delegado Ricardo Lima, acusado de ter liberado a traficante Sonia Aparecida Rossi. Santos afirmou que chegou a alertar o delegado Lima de que Sonia era sua namorada e, mesmo assim, o delegado Lima teria liberado a presa. Santos afirmou também que nao precisou pagar nada ao delegado para que ele deixasse Sonia sair da delegacia, em Campinas. O delegado Lima, segundo Santos, também nao fez a identificaçao de nenhum dos presos pegos com os 340 quilos de cocaína.

Outra revelaçao aos deputados federais foram os locais ou pontos de distribuiçao da droga. Segundo Santos, ele entegrava a droga em postos de gasolina em Sao Paulo e no Rio. Em Sao Paulo os pontos de distribuiçao estariam localizados nos km25 e km182 da rodovia Castelo Branco, no km58 da rodovia dos Bandeirantes e na Marginal Tietê próximo à Freguesia do O. No Rio de Janeiro, os postos de gasolina estariam localizados perto do restaurante Porcao (vizinho ao Barra Shopping), nas proximidades de um estacionamento na rua Barata Ribeiro, em Copacabana, e na rodovia Dutra, após a Serra das Araras. Os contatos que recebiam a droga eram "um tal de Paulinho, no Rio e o Roberto Zona Sul, em Sao Paulo".

O traficante Claudio Santos afirmou aos deputados por diversas vezes que "agia sempre sozinho e comprava droga de um traficante chamado Juan, da Bolívia". Segundo o traficante, os 340 quilos de cocaína seriam "batizados", misturados com ácido bórico, também comprado na Bolívia, e chegariam a um total de 500 quilos. Santos afirmou ter pago US$180 mil à vista pela droga. O restante seria pago em prestaçoes, a cada 15 ou 20 dias conforme a venda do produto. Santos esclareceu que o quilo da cocaína custava US$2,8 mil, quando a cotaçao do dólar variava entre R$1,16 e R$1,18.

De acordo com o depoimento do traficante aos deputados federais da CPI, a quantidade de droga comprada seria vendida em dois ou três meses e renderia entre US$600 mil a US$1 milhao. Santos afirmou que os pacotes de cocaína eram jogados em canaviais localizados em Campinas, depois que o traficante Juan era informado das melhores coordenadas para o lançamento. Segundo Santos, o contato para o envio da droga era fornecido por meio de um aparelho GPS e rádio amador.

Santos recusou a oferta do deputado federal Pompeo de Matos (PDT-RS) de se tornar um réu colaborador e chegou a questionar o serviço de proteçao oferecido pelo deputado. "Têm duas testemunhas, lá embaixo, na proteçao, e um deles teve que pagar R$3 mil para nao ser morto, lá num presídio em Campo Grande", disse o traficante. Apesar dos insistentes apelos do deputado Matos, na tentativa de convencer Santos a fornecer os nomes dos traficantes que compravam a droga, o traficante nao deu nenhum detalhe sobre o boliviano Juan, de Santa Cruz de La Sierra nem sobre seus clientes.