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Rio debate cinema e dinheiro
29/05/2003 | 20:03
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José Carlos Avellar, ex-presidente da RioFilme, é um dos críticos mais respeitados do país, principalmente quando o assunto é cinema nacional. Avellar gosta de usar a Dora de Central do Brasil como metáfora: como aqueles que ditam suas cartas à personagem de Fernanda Montenegro no filme de Walter Salles, o diretor brasileiro, ao fazer sua obra, nunca sabe se ela conseguirá chegar ao público. Avellar usou de novo a metáfora no Rio, na última terça-feira, na abertura do seminário O Cinema como Expressão Cultural, com curadoria de Eugênio Puppo. O evento reuniu a nata da intelectualidade nacional para discutir o assunto durante três dias. Terminou quinta-feira.

Avellar sustenta que, num mercado dominado pelo produto norte-americano, como o das salas do Brasil, a produção nacional é estrangeira na própria casa. Ele diz que é mais fácil conseguir dinheiro para fazer o filme do que salas para projetá-lo ou espaço na mídia para dar-lhe visibilidade. Foi corrigido pela diretora Tata Amaral, de Um Céu de Estrelas e Através da Janela, que também estava na mesa. “Hoje, 27 de maio de 2003, não estou tão segura de que o problema seja esse. Vai ser um problema depois, mas agora, neste momento, o problema é conseguir dinheiro. As diretorias de marketing das empresas estão todas na retranca, a gente não consegue nem marcar horário para expor o projeto.”

O que esteve em discussão, na tarde de abertura, no Rio, foi basicamente a Lei do Audiovisual e outras formas de produção e distribuição, capazes de estimular a criatividade e a diversidade de expressões cinematográficas. Havia três diretores na mesa, Tata, Vladimir Carvalho e Paulo Sacramento, de Santo André, mais um moderador, Avellar, dos mais atuantes. Quem dominou o debate foi o ex-presidente da Embrafilme e atual diretor do Centro Cultural São Paulo, Carlos Augusto Calil. Dizendo que não é nostálgico da Embrafilme, Calil apenas criticou a mania de querer desvalorizar o passado, sem absorver nada de suas lições. “A Embrafilme cumpria sua função social, ao lidar com o dinheiro público”, ele diz.

Hoje, por meio da Lei do Audiovisual, já foram investidos mais de US$ 200 milhões na atividade cinematográfica desde 1993 e não existe lastro algum. O problema é que cada filme é um projeto isolado, que as diretorias de marketing das empresas avaliam (e avalizam). O dinheiro investido na produção é deduzido do Imposto de Renda.

Um dos dados mais interessantes que Calil levantou refere-se ao preço do ingresso. Na época da Embrafilme, custava US$ 0,80. Hoje, o preço é proibitivo para as camadas de baixo poder aquisitivo, que também não têm acesso à cultura de shopping, que abriga a maioria esmagadora de salas do país. Para ampliar seu público, o Brasil precisa criar salas populares.

“Nas locadoras localizadas nas favelas, os filmes brasileiros têm ótima aceitação. Os americanos já sabem desse filão e os blockbusters estão sendo colocados nesses espaços em cópias dubladas. Esse público precisa ser cooptado a voltar aos cinemas em salas formatadas para ele: menores, mais baratas, sem a ostentação das salas para os público classes A e B.”




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