Impulsionada pelo desempenho do setor automobilístico, a produção industrial brasileira cresceu em junho 1,6% na comparação com maio, de acordo com dados divulgados nesta sexta-feira pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em comparação com o mesmo mês do ano passado, a alta da produção nacional foi de 6,3% e no primeiro semestre, o crescimento acumulado é de 5%.

Segundo economistas ouvidos pelo Diário, os números dos últimos três meses mostram um certo reaquecimento da indústria, depois de um período de estagnação, no primeiro trimestre do ano. "Na margem (meses recentes), há um processo de recuperação, embora se observarmos um período mais longo, nos últimos 12 meses, há uma desaceleração", diz o economista-chefe do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), Carlos Cavalcanti.

Para Cavalcanti, a aparente contradição – entre crescimento na ponta e menor ritmo no período mais longo – reflete, depois de um início de ano fraco, melhoras no cenário em função da expansão do crédito e também a perspectiva de redução da taxa de juros. "Vivemos uma fase de espera por uma definição", acrescenta. Ele ressalva que há fatores de incertezas, como a crise política.

Por outro lado, a variação em junho ante o mês anterior foi o quarto avanço consecutivo, por esse comparativo. "A produção já acumula alta de 4,6% nesses quatro meses", diz a coordenadora da pesquisa do IBGE, Isabella Nunes Pereira. O diretor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), Júlio Gomes de Almeida, afirma que depois de meses em que a indústria ficou parada, volta a haver crescimento, embora em ritmo menor do que em 2004. "A nossa perspectiva é fechar o ano com alta de 4%", diz.

Almeida também salienta que a recuperação está bastante concentrada nos setores de bens duráveis, como automóveis e eletrodomésticos, por conta do maior acesso ao crédito. Para Isabella, as exportações também contribuíram para a alta. Os números da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) mostram que – apesar da queda em julho ante junho – as exportações estão 37,4% maiores nos primeiros sete meses de 2005.

Alerta – Mesmo com os números favoráveis, representantes da indústria no Grande ABC avaliam que a partir de julho, o cenário mudou, entre outros fatores, pela manutenção dos juros elevados e pela crise política. "Na pesquisa de julho, vai mostrar uma queda mais acentuada, pela desconfiança do que poderá ocorrer. Os setores estão parando", avalia o diretor do Ciesp de São Bernardo, Mauro Miaguti. "Esse dado positivo não deve se repetir", considera o diretor adjunto do Ciesp de Santo André, Shotoku Yamamoto.