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Dupla cria aplicativo de transporte em Diadema

Para driblar discriminação contra moradores de periferia, amigos se juntaram e desenvolveram a 011

Beatriz Mirelle
Especial para o Diário
27/03/2022 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


João Paulo Freire é técnico em administração. Kaio Guerra trabalha com logística. Ambos têm 21 anos e cresceram juntos no Eldorado, em Diadema. Além da amizade de uma década, a dupla possui uma apurada veia empreendedora. Com olhar diferenciado às necessidades do mercado e às inovações, perceberam que a dificuldade que moradores de periferia encontram para solicitar viagens em aplicativos de mobilidade urbana poderia se transformar em negócio. Uniram suas experiências técnicas e criaram a própria plataforma, a 011. “É do povo para o povo”, afirmam.

Segundo os criadores, o preconceito e os estereótipos a respeito de pessoas que nasceram e cresceram em comunidades são mais recorrentes do que muitos pensam e geram barreiras sociais aos moradores. “Era comum a gente ter problemas para voltar para casa. O pessoal (motoristas de aplicativo) não aceitava vir para Diadema, principalmente à noite. Além disso, observamos as altas taxas de outros aplicativos e reclamações dos motoristas. Achamos esse vácuo no sistema e decidimos montar o 011”, explica Freire.

A ideia surgiu em setembro de 2021 e a plataforma foi lançada em fevereiro deste ano. Ela oferece corridas em transportes privados, com opções de carro, mototáxi, moto entrega e delivery. Também disponibiliza a modalidade 011 pink. “É uma categoria específica para mulheres, com o intuito de reduzir o assédio”, pontua Freire. 

CRITÉRIOS E SEGURANÇA 

A taxa fixa cobrada pelo aplicativo dos associados é de R$ 1 por corrida. Ou seja, independentemente do preço final, o retorno para os fundadores é o mesmo. “Se der R$ 20 ou R$ 100, o valor que recebemos por viagem se mantém. É mais acessível para o usuário e gera um lucro maior ao motorista.” A rota é calculada levando em consideração a quilometragem e saída do motorista, em que é cobrado R$ 1,50 por quilômetro. 

Para se tornar um parceiro, é necessário fazer o cadastro no aplicativo e mandar documentos como habilitação e foto do veículo. O setor de qualidade checa os arquivos enviados e, caso corresponda à política de segurança deles, a solicitação é aprovada e a pessoa já pode começar a rodar.

Freire ressalta que eles são uma startup (empresa de tecnologia) que começou no Grande ABC e já pensa em estratégias de otimização. “Por sermos de Diadema, a maior concentração de pedidos está aqui, mas está disponível para o Brasil inteiro e roda em outras cidades de São Paulo.” A próxima meta é aumentar o alcance da plataforma. 

A proposta foi idealizada pelos amigos, mas eles reforçam que existem outras pessoas que contribuíram para que isso se tornasse realidade. “Na divulgação, a Fundação Florestan Fernandes, onde eu fiz alguns cursos desde 2017, nos ajuda muito. Não é algo só nosso. É um time, e temos muitos jovens envolvidos”, comenta Guerra. 

O sócio afirma que há um apelo social por trás do projeto, que tem como objetivos garantir acessibilidade e proporcionar um serviço em que os associados não passem por casos de discriminação. “Queremos chegar em outros lugares, expandir o acesso. Estamos aprendendo e vamos aos poucos. É difícil competir com outras empresas grandes, mas não desistiremos.” Juntando persistência e conhecimento, os números chamam atenção mesmo em pouco tempo de mercado. O app, que está disponível para iOS e Android, já tem, em média, 400 pessoas cadastradas e aproximadamente 60 motoristas parceiros apenas no primeiro mês após o lançamento.




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