Política Titulo Entrevista da semana - Ricardo Gondo
'Vai começar a melhorar no segundo semestre’
Nilton Valentim
Do Diário do Grande ABC
07/03/2022 | 00:01
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Divulgação


Nascido em Santo André e criado no Grande ABC, o engenheiro Ricardo Gondo, 52 anos, ganhou o mundo, trabalhou na França, Espanha, Portugal, Argentina e hoje é presidente da Renault do Brasil. Assumiu o comando da montadora em 2019, e no ano seguinte já teve pela frente o desafio de administrar uma empresa em plena pandemia. Período de incertezas, que se iniciou com restrições sanitárias e chegou à falta de peças. principalmente de semicondutores. “O primeiro semestre ainda vai ser difícil. Acreditamos que a situação deve começar a melhorar no segundo”, planeja. Agora surge um novo empecilho, que é a guerra entre Rússia e Ucrânia, conflito que deve também impactar a indústria.

Qual o futuro da indústria automobilística?
Na Renault do Brasil, mais do que fabricar automóveis, queremos ser reconhecidos como uma marca que oferece soluções de mobilidade e energia limpa. Há pouco mais de um ano, o Renault Group criou a marca Mobilize, que oferece soluções inteligentes de serviços de mobilidade, energia e dados. Aqui no Brasil estamos totalmente conectados com a Mobilize. A Renault é pioneira e está na vanguarda em mobilidade elétrica, com mais de dez anos de experiência na concepção, desenvolvimento, fabricação e comercialização de veículos elétricos. São mais de 400 mil veículos elétricos Renault circulando no mundo, e estamos trazendo todo este know how para o Brasil, com diversos projetos, como Mobilize Share, que começou como um teste de conceito, na nossa fábrica, no Complexo Industrial Ayrton Senna, com nossos colaboradores, hoje está sendo escalado para empresas com a utilização do aplicativo Mobilize Share. Com o Mobilize Share os colaboradores podem utilizar os veículos de forma bastante simples, para o trabalho ou uso pessoal, fazendo a reserva por meio do aplicativo, 24 horas por dia, sete dias na semana. Na Renault do Brasil, a nossa frota de 40 veículos, que sempre foi um custo, passou a ser um centro de receita, por meio da locação para colaboradores para uso pessoal, com pagamento pelo cartão de crédito. A última empresa em que nós lançamos o Mobilize Share foi a Copel, que é a Companhia de Energia do Estado do Paraná. Estão disponíveis Renault Zoe E-Tech para os mais de 2.500 funcionários da Copel em Curitiba. Ampliamos este serviço também para a Estapar, rede de estacionamentos sediada em São Paulo.

O senhor assumiu a presidência da Renault do Brasil em 2019, e logo depois veio a pandemia. Como foi comandar uma empresa tão importante em um período tão complicado?

Os anos de 2020 e 2021 foram bastante desafiadores. Mas fizemos um bom trabalho em equipe. Durante esse período, enfatizamos bastante o processo de comunicação entre os times. Por exemplo, faço uma reunião mensal com todos os gerentes e diretores da Renault do Brasil, onde tratamos dos temas prioritários da empresa. Houve meses em que fizemos duas, três reuniões para manter toda a equipe bem informada, dar respostas às equipes e alcançar o resultado esperado. Então, aprendemos a trabalhar melhor em equipe. Há muita gente ainda em home office e é preciso manter as equipes engajadas e focadas nos nossos objetivos.

A falta de semicondutores impactou demais a indústria automobilística. Como a Renault enfrentou esse problema?

Temos uma gestão dia a dia com as equipes de supply chain (cadeia de abastecimento) e fabricação sobre o tema da falta de semicondutores. Esta gestão de crise permitiu com que o nosso plano de produção para novembro, dezembro de 2021 e janeiro e fevereiro de 2022 fosse cumprido. Continuamos trabalhando com uma visibilidade de curto prazo, e fazendo o acompanhamento dia a dia.

Quando o senhor acredita que a cadeia de suprimentos estará normalizada?

Temos de acompanhar esse processo quase diariamente. O primeiro semestre ainda vai ser difícil. Acreditamos que a situação deve começar a melhorar no segundo semestre.

Qual o impacto da guerra entre Rússia e Ucrânia para a indústria automobilística?

Estamos acompanhando atentamente a situação atual. Observamos alguns impactos logísticos em nossa fábrica da Renault em Moscou. As plantas de Togliatti e Izhevsk (Avtovaz, fabricante da Lada)serão temporariamente suspensas de 9 a 11 de março devido à escassez contínua de componentes eletrônicos em todo o mundo.

É forte a tendência de crescimento dos veículos elétricos. Entretanto, o preço ainda é alto. Quando o senhor acha que esse tipo de automóvel ficará mais acessível a um maior número de clientes?

Nós vemos na Europa, Estados Unidos e China uma aceleração dos veículos elétricos e híbridos, motivada por políticas públicas. Por exemplo, a Renault apresentou uma rápida evolução no mercado de veículos elétricos, fortalecendo sua posição na Europa. A gama de modelos E-Tech (veículos elétricos e motorizações híbridas) representou 30% das vendas de veículos Renault na Europa em 2021 (era 17% em 2020), ou seja, um crescimento significativo. Aqui no Brasil o mercado de veículos elétricos ainda é pequeno. Hoje, na Renault, nós temos todas as tecnologias disponíveis: flex, elétricos, híbridos etc. Dependendo das definições das políticas públicas e da velocidade de implementação de cada mercado vamos disponibilizar para o mercado.

A Renault hoje oferece o Zoe e uma versão da van Master movida a eletricidade. A Renault tem planos de oferecer outros veículos elétricos no Brasil? A partir de quando?

Sim, este ano confirmamos a chegada no Brasil do Kwid E-Tech e Master E-Tech, ambos 100% elétricos, que vêm para complementar a gama Renault E-Tech, que já conta com Zoe E-Tech e Kangoo E-Tech. A Renault é pioneira e está na vanguarda em mobilidade elétrica, com mais de dez anos de experiência na concepção, desenvolvimento, fabricação e comercialização de veículos elétricos. São mais de 500 mil veículos elétricos Renault circulando no mundo. 


Quais os principais desafios de comandar uma multinacional no Brasil?

Nossa indústria precisa de investimentos, que são muito altos. Além disso, o ciclo dos nossos produtos é longo – tem cinco, sete anos. Isso inclui plataforma, carroceria, motores e tecnologias. Então, é importante haver previsibilidade e segurança jurídica. Precisamos ser competitivos, para gerar resultados no curto prazo e continuar a atrair investimentos para a Renault do Brasil, este é grande desafio, pois competimos com outros países do Renault Group pelos investimentos.

Tem alguma particularidade do mercado brasileiro que a matriz francesa da empresa tem dificuldade de entender?

A volatilidade do mercado. E. por isso, é fundamental o trabalho contínuo para a competitividade. Sendo uma multinacional competimos com as outras filiais do Renault Group no mundo. Estamos discutindo agora o próximo plano-produto. Vamos entrar em segmentos nos quais ainda não atuamos e que têm maior valor agregado. Mas isso vale também para segmentos em que já atuamos. O Kwid, por exemplo, tem três versões. O novo modelo ganhou itens para poder competir em um segmento superior de mercado.

O que o senhor projeta para a Renault em 2022?

O ano de 2022 começou com muitas novidades na Renault do Brasil. No mês de janeiro, anunciamos quatro novidades, começando pelo Novo Renault Kwid, o Kwid E-Tech, a Nova Renault Master e a Master E-Tech. E em fevereiro lançamos o Duster com motor turbo TCe 1.3 flex, com 170 cavalos e o maior torque da categoria. Sobre o mercado a previsão é um crescimento entre 5% e 10%, com um volume entre 2,1 milhões e 2,2 milhões de veículos.

Qual o diferencial da Renault em relação aos seus concorrentes?

Estamos há mais de 23 anos produzindo no País, com quatro fábricas no complexo industrial Ayrton Senna, em São José dos Pinhais (Paraná): a de veículos de passeio (CVP), a de comerciais leves (CVU), a de motores (CMO), além da fábrica de injeção de alumínio (CIA). O Complexo Ayrton Senna é o único complexo industrial da América Latina reconhecido pelo World Economic Forum devido às práticas e tecnologias relacionadas à indústria 4.0. Oferecemos uma gama completa de veículos e, com a chegada do Kwid E-Tech e da Master E-Tech, teremos uma gama completa de veículos 100% elétricos no País. Desenvolvemos, ainda, soluções de mobilidade e geração de energia limpa com parceiros, como, por exemplo, o projeto de Fernando de Noronha, onde foi construída uma garagem fotovoltaica que abastece os mais de 30 veículos elétricos que rodam por lá. Além disso, temos uma rede de concessionárias com ampla cobertura no território brasileiro para atender bem os nossos clientes tanto nas vendas quanto em pós-venda.

O senhor nasceu em Santo André e estudou engenharia no Instituto Mauá de Tecnologia (São Caetano). Ainda mantém relações com o Grande ABC?

Sim, minha família mora em Santo André, mãe, irmãs e tias. Então, sempre estou pela cidade.

Quais as lembranças que tem do Grande ABC?

Tenho ótimas lembranças. Eu cresci em Santo André, estudei no Colégio Singular e desde pequeno pratiquei natação. Lembro bem da piscina do (Complexo) Pedro Dell’Antonia, onde eu ia todos os dias nadar. Além disso, o esporte te dá amigos para toda vida, então ainda tenho contato com amigos desta época, quando eu tinha 10 anos. Além disso, Santo André tem uma padaria que eu adoro, que é a Brasileira, que me traz um gostinho da minha infância. Morando em Santo André, me lembro bem que o Diário do Grande ABC fazia parte da minha rotina de leituras diárias.


A Renault tem planos de investimento para o Grande ABC?

Os investimentos são divulgados em nível nacional. Em março de 2021 divulgamos investimentos de R$ 1,1 bilhão para a renovação da gama de produtos no Brasil. Este ciclo contemplou cinco novidades até o primeiro semestre de 2022, incluindo a renovação de veículos da gama e um motor turbo. Além do lançamento de dois veículos elétricos no mesmo período (Zoe E-Tech e Kwid E-Tech). E no (Grande) ABC temos o Grupo Armando, que tem as concessionárias que representam a marca Renault e que sempre está investindo para manter o padrão de qualidade que a marca exige.

Além da questão profissional, qual a sua relação com o automóvel?

Sou um apaixonado por automóveis. Acompanho e gosto muito do automobilismo, me divirto assistindo o time BWT Alpine (Fórmula 1) nas manhãs de domingo. Um dos meus hobbies é justamente sair dirigindo por aí, pelo simples prazer ao dirigir.




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