Cidades do Grande ABC registraram queda na aplicação de imunizantes em 2021; especialistas apontam pandemia e movimento antivacina como fatores
A vacinação infantil no Grande ABC não atingiu novamente em 2021 a meta de cobertura vacinal em uma série de oito imunizações destinadas às crianças de até 15 meses. Conforme mostrado pelo Diário, este é o quarto ano consecutivo que a região registra queda significativa na aplicação dos imunizantes, conforme informações do DataSUS, banco de dados do Ministério da Saúde. O que ocorre nas sete cidades está em linha com o que se verifica no Estado e no País.
Segundo o levantamento, a vacina BCG, que previne tipos graves de tuberculose e deve ser aplicada nos primeiros dias de vida da criança, passou de 71% de cobertura vacinal em 2020 para apenas 56,8% no ano passado – a meta para essa imunização é de 90% do público-alvo (veja os percentuais na tabela abaixo).
O índice da vacina tríplice viral, que previne contra doenças como sarampo, caxumba e rubéola, já estava abaixo da meta (95%), porém, no ano passado apenas 64,8% das crianças da região receberam o imunizante. A médica pediatra e neonatologista Patricia Terrivel associa a baixa adesão da vacinação ao ressurgimento de doenças que já estavam erradicadas no País. “Nos últimos anos foram registrados novos casos de sarampo em diversas regiões do Brasil, algo que não ocorria há muitos anos. Por conta disso, a aplicação do imunizante na criança foi adiantada de um ano para seis meses. A região Norte, por exemplo, ainda apresenta novos casos da patologia e podemos associar o surgimento dessas ocorrências à falta de vacinação dos mais jovens”, esclarece a pediatra.
Nos casos de outros imunizantes, o índice de cobertura recomendável é de 95% – sendo que em 2021, a cobertura vacinal desses medicamentos na região não alcançou 80%. Nesse grupo estão imunizantes que preveinem contra poliomielite, hepatite A, difteria, tétano, coqueluche, hepatite B, infecções causadas pelo Haemophilus influenzae B, meningite, otite, rotavírus,diarreia, sarampo, caxumba e rubéola.
PANDEMIA
A pandemia da Covid-19 pode ter impactado na baixa adesão da vacinação infantil, conforme esclarece a pediatra. “Os pais ficaram mais apreensivos para levar os pequenos até os postos de saúde por conta da pandemia, e com isso muitas doses deixaram de ser aplicadas durante o ano passado. Outro ponto é que algumas unidades de saúde também registraram desabastecimento de vacinas, e isso também prejudicou a imunização das crianças”, esclarece Patricia.
A Secretaria de Saúde do Estado afirmou que “as doses da vacina contra o sarampo (tríplice viral), tuberculose (BCG), poliomielite (VOP), HPV, pentavalente e Hepatite A estão permanentemente disponíveis nos postos, conforme o calendário nacional de vacinação, definido pelo Ministério da Saúde”, informou o órgão em nota.
A secretaria ainda reforçou a importância da vacinação infantil. “A imunização é fundamental para proteger a população contra diversas doenças. A atualização da caderneta e a adesão às campanhas auxiliam no aumento das coberturas vacinais e, consequentemente,da proteção. A conscientização dos pais e responsáveis sobre a importância da imunização de rotina, e não apenas em momento epidêmico ou pandêmico, como o atual, também é fundamental”, finaliza a nota.
Para tentar reverter o atual cenário no Grande ABC, as prefeituras de Santo André, São Bernardo e Diadema informaram que realizam periodicamente campanhas de imunização nos municípios para incentivar a vacinação das crianças, além de disponibilizar todas as vacinas nas unidades de saúde.
Os efeitos do movimento antivacina
A falta de incentivo à imunização contra Covid, por parte do presidente Jair Bolsonaro (PL), colabora com o movimento antivacina que vem ganhando cada vez mais espaço no País, avalia o advogado Antônio Carlos Morad, do escritório Morad Advocacia Empresarial. “Hoje, por conta dessa falta de apoio governamental, principalmente em relação às campanhas que poderiam orientar e dar segurança ao povo, fazendo com que fossem massivamente se vacinar, o inverso ocorreu”. Ele ainda alerta sobre a baixa adesão da vacinação infantil contra o coronavírus. “Quanto às crianças, digo que estão se contagiando entre si e contagiando seus pais e avós como nunca, fazendo com que o pesadelo seja percebido por nós mais uma vez”, pontua Morad.
O profissional também ressalta sobre a obrigatoriedade da vacinação infantil, que está presente no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), e ressalta que é “imprescindível e extremamente necessária a vacinação de crianças, como sempre foi ao longo de nossa história de saúde pública, e que é motivo orgulho e que nos deu prestígio internacional”, finaliza o advogado.
A médica pediatra Patrícia Terrivel orienta os pais que estiverem com dúvidas sobre a vacinação para procurarem informações confiáveis. “As pessoas se agarram a casos muito pontuais, ao invés de seguirem as evidências. Em casos de dúvidas sobre vacinar ou não o filho, o recomendado é ouvir a opinião do médico que cuida da criança, além de ir atrás de informações confiáveis e verificar quais são as recomendações dos órgãos competentes, como a Sociedade Brasileira de Pediatria, por exemplo, que orienta a população com base em estudos e evidências”, argumenta a médica.
Diadema também aponta a pandemia e o movimento antivacina como principais fatores para queda na vacinação infantil no município. “Com a pandemia causada pelo novo coronavírus, muitas crianças e adolescentes deixaram de comparecer às UBS (Unidades Básicas de Saúde) para serem vacinadas. Além disso, é possível apontar outros fatores, como o movimento antivacina, já presente no País há algum tempo, a divulgação de fake news de que as vacinas não são seguras e até um desconhecimento de quais vacinas fazem parte do calendário nacional de imunização. Isso tem se apresentado como desafios para a imunização”, finalizou o Paço, em nota.
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