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Desemprego dobra na era do Real
Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
26/06/2004 | 19:37
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O Plano Real completa dez anos de seu lançamento na próxima quinta-feira, 1º de julho. O Plano foi um marco ao alcançar o principal objetivo para o qual foi criado, o de trazer estabilidade inflacionária, segundo diversos economistas ouvidos pelo Diário.

Mas nesse período, o número de desempregados na RMSP (Região Metropolitana de São Paulo) praticamente dobrou – passou de 1,113 milhão de pessoas para 2,044 milhões – e os rendimentos reais (descontada a taxa inflacionária) da população tiveram queda de 30%. É o que apontou levantamento do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos), com base na PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego), feita pela entidade em parceria com o Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados).

“O grande problema é que o crescimento econômico ficou a desejar. Independentemente de qualquer outra avaliação, o crescimento é a medida de sucesso da economia, porque permite a criação de empregos”, afirmou o diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), Júlio Gomes de Almeida. No período, o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu em média 2,2% ao ano e o PIB per capita, apenas 0,5%. “A indústria cresceu tanto quanto a população, 1,5%, um crescimento vegetativo”, disse.

Economistas entendem que propiciar desenvolvimento não era o objetivo do Plano, mas sim acabar com a cultura inflacionária, que fazia a população perder a noção do valor dos produtos. “O Plano interrompeu uma trajetória de muitas décadas de inflação elevada e permitiu colocar a economia brasileira em condição de começar a atacar os outros problemas, o que era inviabilizado até então. Tivemos erros e acertos nesse período”, avaliou o economista da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), Marcel Solimeo.

“O Plano tem o mérito de ter levado em conta erros de planos anteriores para que não se repetissem”, afirmou o coordenador do curso de Economia do Imes (Centro Universitário Municipal de São Caetano), Francisco Rosza Funcia. “Mas não tinha em sua concepção outros objetivos. A retórica oficial é que o Real possibilitaria uma melhora na distribuição de renda, mas isso não se dá de forma automática”, acrescentou.

Para o economista do Dieese Paulo Roberto Arantes do Valle, a estabilização trouxe conseqüências negativas. Ele observa que até 1997 houve crescimento razoável, só que decrescente. “Mas as medidas de contenção da inflação com a sobrevalorização do Real tiveram efeitos negativos em outras variáveis.” Um dos efeitos, na sua avaliação, foi a manutenção de taxas de juros elevadas para atrair o capital externo. “Fez o país ficar cada vez mais dependente do capital internacional e provocou um endividamento crescente do setor público”, afirmou.

Outro efeito, para Valle, foi a deterioração das exportações. Segundo ele, a política do governo era facilitar as importações relativamente baratas, instrumento que iria apoiar a contenção de preços dos produtos internos. “O lado bom é que a competitividade da economia brasileira cresceu, mas gerou um desemprego estrutural, porque muitos empregos desapareceram, pela modernização da empresa brasileira”, considerou o professor de economia Agnaldo dos Santos Pereira, da FGV-Strong, de Santo André.

Já o diretor do Iedi pondera: “Não foi o Plano Real que prejudicou o crescimento, mas as políticas associadas a ele”. Para ele, a abertura econômica e as privatizações foram malfeitas. “A abertura econômica foi rápida demais, faltou planejamento. Não deu chance para a preservação de empregos”, disse.

Crises externas – Para Solimeo, as crises de países asiáticos, em 1997, e na Rússia, em agosto de 1998, agravaram problemas que o país já possuía. Segundo ele, a falta de ajuste fiscal e a elevação dos juros, por causa das turbulências desse período, tiveram repercussão desfavorável. “O déficit público criou uma vulnerabilidade externa que ainda persiste”, disse.




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