Política Titulo Entrevista
Aidan mentiu e me usou
no processo, afirma Pavin

Ex-chefe do Semasa desafia prefeito a mostrar suas contas
e garante que saiu preparado para provar as ilegalidades

Fábio Martins
Do Diário do Grande ABC
29/05/2012 | 08:38
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Ex-superintendente do Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André), Ângelo Pavin (PMDB) sustenta que o prefeito Aidan Ravin (PTB) mentiu em suas declarações, principalmente no que se refere à atuação do advogado Calixto Antônio Júnior na autarquia. O peemedebista afirma que não tem sentido a existência de esquema na venda de licenças, mas sugere fraude na paralisação dos pagamentos a fornecedores. "Ele (Calixto) suspendeu todos para (posteriormente) fazer contatos (com as empresas)." Pavin alega que a postura de enviar emissários para tratar da liberação de pagamentos a prestadores de produtos e serviços foi de total ingerência do Executivo. "Algo imoral." Ele sentiu-se usado no processo e ficou perplexo com a forma pela qual foi exonerado: soube pelos atos oficiais. Em entrevista exclusiva ao Diário (a única até agora depois de sua demissão), o ex-número um da autarquia elaborou carta pública exigindo compromisso de Aidan com a verdade. E garantiu que saiu preparado com documentos para provar as ilegalidades.

DIÁRIO - O sr. teve conhecimento da existência de suposto esquema de venda de licença ambiental no Semasa?

ÂNGELO PAVIN - Não existe nenhum tipo de negociação. Mesmo porque, se pudesse existir, tinha de passar por várias secretarias. Empreendimento, primeiro, precisa ser viabilizado politicamente, pelo prefeito, segundo por Obras, Trânsito, Habitação, parte ambiental. Passa por tudo. Se existisse, o Semasa teria que ser um dos elos entre todas as secretarias. Fora isso, tem estudo de impacto de vizinhança e de trânsito, além das três licenças. Tudo isso se agrega para findar ao alvará.

DIÁRIO - A que o sr. atribui a denúncia feita pelo então diretor de gestão ambiental Roberto Tokuzumi?

PAVIN - Alguém vai dar R$ 350 mil para minha assinatura, depois ser barrado em Obras ou Habitação? Não tem sentido. Ele fez uma história distorcida. Nós sabemos o trâmite.

DIÁRIO - O sr. se sentiu traído por conta das acusações?

PAVIN - No Tokuzumi nós nunca confiamos. Fiquei apenas chocado. Chegou momento que vi sua má índole e quis mandar ele embora. O coloquei de férias. O prefeito não deixou e pediu para ele voltar o mais rápido possível. Ligou para o Dovilio (Ferrari Filho, então superintendente adjunto). A investigação do Gaeco no caso do sexo no Semasa chegou à conclusão que ele é desvairado... como eu poderia mantê-lo lá dentro? Já queria que ele fosse exonerado. Em depoimento, o Tokuzumi agradeceu ao prefeito. Isso (fazer a denúncia) é retribuição.

DIÁRIO - O Aidan interferia nos processos de licenças?

PAVIN - O prefeito nunca interferiu em decisões dessa monta. Se interferiu, foi com o diretor de Gestão Ambiental, não comigo.

DIÁRIO - O sr. quer dizer que, se houver algum esquema, não passava pelo Semasa, mas estaria instalado no governo?

PAVIN - Bingo, matou. Se há, começa em algum lugar, não pelo Semasa.

DIÁRIO - Isso significa que o sr. foi usado no episódio?

PAVIN - Acertou. Senti que fui usado nesse processo. A forma me deixou perplexo. A última instância está aqui (superintendência). Acuso aqui e coloco certinho. O Tokuzumi fazia parte do sistema que começa na Prefeitura. Por que teve de atirar? Porque era a forma de defesa.

DIÁRIO - Quantas vezes o sr. subia para falar com o prefeito?

PAVIN - Com o prefeito, nesses três anos, umas seis vezes. O Aidan não ia nas reuniões do secretariado. O prefeito se distanciou de todo mundo.

DIÁRIO - Sobre a atuação do advogado Calixto Antônio Júnior: ele era um olheiro do prefeito?

PAVIN - Hoje tenho outra visão de toda essa dimensão. Pelo que soube, participou da campanha, eu não o conhecia na ocasião. Só depois que assumimos o via sempre no hall de entrada.

DIÁRIO - Como ele conseguiu pegar um trabalho dessa responsabilidade sem ser funcionário?

PAVIN - Teoricamente, o prefeito não tinha o controle de lá (do Semasa) e não sabia o que estava acontecendo. No Semasa tinha que colocar alguém. Colocou o Calixto para me olhar. O do Semasa era o Calixto. Se era concursado? Para mim ele era alguma coisa (seria funcionário). O prefeito e o Calixto conversaram em outubro do ano passado para liberar os pagamentos a fornecedores. O (assessor do Aidan) Antonio Feijó e o (secretário de Finanças) Heitor Sichmann me pediram que lhes fizessem resumo de todas as empresas, endereços, contatos e o valor de pagamento. Isso era o que passou para as mãos do Calixto.

DIÁRIO - Houve mentira de quais partes?

PAVIN - Feijó e Heitor mentiram quando falaram que não pediram o papel (relatório de pagamentos). Entreguei pessoalmente na mão de cada um. Não só tenho isso, como a relação de entrada e saída deles, no mês de outubro. Fiquei calado até agora porque sou uma pessoa educada, mas o prefeito mentiu. Quem falou a verdade e escreveu foi o Nelson (de Freitas, diretor de Finanças). Ele abriu o processo administrativo no fim de outubro (relatando a interferência do Paço no Semasa e a indicação de Calixto para atuar na autarquia, a pedido de Aidan). Se não tivesse aberto, não tínhamos álibi hoje. Olha o que é a má-fé deles.

DIÁRIO - Tudo isso o sr. encarou como ingerência do Executivo?

PAVIN - Foi uma ingerência do prefeito. Por isso que o Nelson elaborou o documento e me disse: ‘Está acontecendo isso'. Eu dei ciência. O primeiro, inclusive, tem minha assinatura e escrevi: ‘Cumpra-se a ordem do sr. prefeito'. Veio a ordem para paralisar todos os pagamentos. Depois estão liberados até R$ 10 mil, depois R$ 30 mil. No meio existe liberação para a Peralta Ambiental, de R$ 4,4 milhões. O Nelson, para se precaver do prefeito, fez a procuração. Não escondeu e eu também não escondi. (...) Cinco empresas me procuraram, entre elas a Peralta, Emparsanco, Construrban. Essa era a ordem que eu tinha. O empresário vinha e falava que nunca atrasou (o pagamento), perguntava o que estava havendo. Eu dizia: ‘É ordem do gabinete e (o prefeito) quer que converse com ele pessoalmente'.

DIÁRIO - Por qual razão isso não passou pelo sr.?

PAVIN - Eu não toparia (fazer a paralisação de pagamentos). E isso não faz parte das minhas atribuições. Sempre agi no que é legal. Sempre fui de grupo, que fazia estritamente o que era dentro da lei. Na minha opinião, o prefeito mandou fazer algo imoral.

DIÁRIO - Essa paralisação foi utilizada posteriormente como fonte de arrecadação?

PAVIN - Não posso afirmar. Mas estamos chegando à essa conclusão. Pretendo (afirmar) quando tiver a prova que ele usava o Semasa. Ou melhor, que a Prefeitura fazia isso.

DIÁRIO - O sr. conversou com o prefeito?

PAVIN - No máximo seis vezes (em três anos). Imagina a dificuldade de falar com ele. Já com o Tokuzumi ele conversava todos os dias. Incumbi algumas pessoas para ligar de 15 em 15 minutos, por três dias, mas ele não me deu retorno. No terceiro dia ligamos no celular dele pelo celular da Solange (assistente de Pavin). Ele atendeu e eu peguei a ligação. Eu disse: ‘Que sacanagem é essa?' Ele disse: ‘Calma, você vai entender tudo. Está tranquilo. Cumpra as determinações e daqui 15 minutos retorno a ligação'. Estou esperando até hoje. Confirmou para mim que deu a ordem a Calixto para fazer análise das planilhas, auditoria. Ele suspendeu todos (os pagamentos) para fazer contatos (com os fornecedores).

DIÁRIO - O sr. foi exonerado por quebra de confiança. Como o sr. lida?

PAVIN - Ele falava que eu era o melhor amigo, o primeiro plantão (de Aidan como médico, que teve ajuda de Pavin), que nunca esqueceu. (Aidan dizia, durante as denúncias) Só vou mandar embora se tiver prova. O que é quebra de confiança? Eu falar alguma coisa e fazer algo que ele não queria que tivesse feito? Que não falasse que era o problema? Então quebrei, porque foi ele (que interferiu no Semasa). Mentir, eu não minto. Só falei a verdade. Nunca fiz nada de errado, minha cabeça está alta. Talvez ele tinha sido mais amigo antes de ser prefeito, depois não.

DIÁRIO - O sr. elaborou uma carta. Com qual finalidade?

PAVIN - Quero ver se o prefeito se compromete com a verdade. Se continuar com mentira, vai encontrar inimigo muito maior do que pudesse ter imaginado. Espero de sua parte comprometimento de esclarecer os fatos apontados. Mentir não é do meu feitio. Mentir e levar os diretores, todo um órgão de excelência junto... Está fugindo da responsabilidade.

DIÁRIO - Antes de sair, o sr. se preparou com documentos e informações para apresentar aos órgãos competentes?

PAVIN - Estamos preparados para tudo isso. Tenho vários documentos. Hoje sou um marco. Todo mundo que está contra o Aidan vem entregar alguma coisa. No mínimo ele deveria me chamar, pedir desculpa. É uma cobrança pública. Ele sabe que me deve. Faria acareação em qualquer lugar. Temos compromisso com a verdade. Estou tranquilo. Eu soube pelo jornal que fui demitido. A forma é que deixa a gente perplexo. Quer mandar embora, manda. Só vem falar comigo, mostra fidelidade. Se a polícia quiser quebrar sigilo, me coloco à disposição de livre e espontânea vontade... bancário, telefônico. Faço o que for necessário e o prefeito poderia fazer o mesmo.




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