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Petrobras volta a subir preço de combustível nas refinarias

Estatal anuncia reajuste de 7% na gasolina; postos ainda não sabem se vão repassar ao consumidor final

Arthur Gandini
Especial para o Diário
26/10/2021 | 00:36
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Celso Luiz/DGABC


Passa a valer hoje mais um aumento dos preços da gasolina e do diesel nas refinarias da Petrobras. O litro de gasolina passa a ser vendido pela Petrobras às distribuidoras por R$ 3,19 – um aumento de 7%, uma vez que o valor era de R$ 2,98. A entidade que representa os postos de combustível ainda não sabe se o reajuste chegará ao consumidor, uma vez que os donos dos estabelecimentos avaliam se acrescer o valor do produto pode afugentar o cliente.

O litro do diesel passa de R$ 3,06 para R$ 3,34, com uma elevação de 9%. Os valores que chegam ao consumidor final são diferentes porque a gasolina comercializada nos postos apresenta uma mistura de 27% de etanol anidro. Já o diesel conta com uma mistura de 12% de biodiesel.

No Grande ABC, conforme dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo. Gás Natural e Biocombustíveis), a maior média cobrada é em Ribeirão – R$ 6,054 o litro da gasolina comum. Em Diadema está o posto que tem a quantia mais cara do litro da gasolina comum: R$ 6,749.

Em nota, a Petrobras defendeu a política de preços aplicada pela empresa desde outubro de 2016, no qual o preço do combustível é calculado com base no mercado internacional. “O alinhamento se mostra especialmente relevante no momento que vivenciamos, com a demanda atípica recebida pela Petrobras para o mês de novembro. Os ajustes refletem também parte da elevação nos patamares internacionais de preços de petróleo, impactados pela oferta limitada frente ao crescimento da demanda mundial, e da taxa de câmbio”, informou.

Wagner Souza, presidente do Regran (Sindicato do Comércio Varejista de Derivado de Petróleo do ABCDMRR), criticou a política adotada e a colocou com uma das razões para a tendência de haver novos aumentos. Ele afirmou que a companhia tem evitado importar combustíveis por um preço mais caro do que o empregado no País, de modo que a produção nacional e importadores particulares correm o risco de não conseguir dar conta da demanda por combustível. “Vem sempre na hora errada (o aumento). Podemos ter preços altos e falta de combustível, vai depender das distribuidoras.”

Sandro Maskio, economista e coordenador do Observatório Econômico da Universidade Metodista de São Paulo, também apontou que a capacidade de refino no Brasil é limitada. Isso torna o País mais vulnerável à alta do preço do dólar, moeda pela qual o combustível é comercializado. “A gente explora um volume razoável de petróleo, mas não tem capacidade de refinar tudo. Então explora o petróleo bruto e importa o refinado. A gente está vivendo uma taxa de câmbio a 5,5%. O custo da importação se torna extremamente caro.”

Consumidor deve planejar gastos

O presidente do Regran defendeu que o governo federal se reúna com outros elos envolvidos na cadeia de produção de combustíveis, como a Petrobras e os governos estaduais, para buscar uma saída política para a alta dos preços do combustível, de modo que cada parte coopere para encontrar uma solução. Também afirmou que deveria ser alterada a cobrança do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre o combustível por meio de uma reforma tributária, discutida atualmente no Congresso Nacional. “É preciso fazer uma reforma de verdade.”

Outra alternativa para a Petrobras seria congelar os preços do combustível, política aplicada até o ano de 2016 e que reduzia os lucros da companhia. Miguel Ribeiro, economista e diretor executivo da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), avaliou que a política atual é mais sustentável, mas é necessário criar mecanismos para controlar a oscilação dos preços.

Em relação ao consumidor, ele aconselhou que haja cada vez mais planejamento das finanças em meio ao impacto do combustível no orçamento pessoal. “Temos muita incerteza (no cenário), inflação alta, renda comprometida, é o momento de ser conservador nos gastos”, orientou.

O são-bernardense Daniel Gomes, 26 anos, é um dos moradores da região impactados pelo encarecimento da gasolina e do diesel. Ele é entregador de delivery e passou a trabalhar de oito horas para quase 13 horas por dia para conseguir encher o tanque. “Rodo com o meu veículo o dia inteiro, seis dias por semana, e gasto um tanque por semana. Gastava, em média, R$ 170 para encher o tanque. Agora gasto R$ 220”, reclamou.

Já a empresária Deusdnea Santos, 47, é dona de uma empresa no bairro Riacho Grande, em São Bernardo, que oferece serviços de limpeza. Ela teme fechar as portas do seu negócio. “Eu estou sem saber o que fazer. Tenho várias equipes de faxina que precisam se locomover todos os dias e usamos carro, porque temos que levar equipamentos de limpeza. O gasto com gasolina diariamente está surreal, repassar (o custo) para o cliente não é possível”, desabafou. 




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