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‘O Brasil quer candidatura de centro, de 3ª via’

Ex-prefeito de Itu e deputado federal em segundo mandato, Herculano Passos (MDB) se mostra defensor de uma candidatura presidencial de centro, que fuja da polarização

Raphael Rocha
19/07/2021 | 07:28
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André Henriques/ DGABC


Raio-x
Nome: Herculano Castilho Passos Júnior
Estado civil: casado
Idade: 64 anos
Local de nascimento: Itu (São Paulo)
Formação: superior incompleto
Hobby: cavalgar
Livro que recomenda: O Príncipe, de Maquiavel
Personalidade que marcou sua vida: Michel Temer
Profissão: empresário e deputado federal
Onde trabalha: Câmara dos Deputados

Ex-prefeito de Itu e deputado federal em segundo mandato, Herculano Passos (MDB) se mostra defensor de uma candidatura presidencial de centro, que fuja da polarização estabelecida entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele alega que esse sentimento é compactuado pela classe política e pelo eleitorado. O que falta, na visão do emedebista, é união de forças em um só projeto para ter chance competitiva de tirar Bolsonaro ou Lula do segundo turno. Herculano avisa que estará no palanque de Rodrigo Garcia (PSDB) ao Estado e cita trabalho pró-municípios que desenvolve no Congresso Nacional.

No plano nacional, o MDB tem defendido o lançamento de uma terceira via, uma candidatura de centro. O senhor também compactua com essa tese?

No plano nacional, o que penso para o ano que vem é a construção de uma terceira via, sim. Inclusive participei de uma reunião em Brasília há uns 25 dias, para a gente construir essa terceira via. Nossa proposta é ter candidatura de centro. Não estamos concordando com esses extremos. Teve uma reunião comigo como representante do MDB, ACM Neto (prefeito de Salvador) pelo DEM, o Bruno Araújo (presidente nacional do PSDB), o (José Luiz) Penna (presidente nacional do PV), o Roberto Freire (presidente nacional do Cidadania), a Renata Abreu (deputada federal e presidente nacional do Podemos). Fizemos essa reunião e debatemos esse cenário. Cada partido tem suas preferências e seus candidatos. Mas precisamos fazer união deste projeto. A gente acha e entende que a maioria da população quer isso, que não quer os extremos. Os políticos também querem isso. O radicalismo não dá certo, não tem dado certo no Brasil. É buscar construção de terceira via.

Mas há nomes para capitanear esse projeto?

Tem. Tem o (presidente do Senado) Rodrigo Pacheco, do PSD do (Gilberto) Kassab. O (Luiz Henrique) Mandetta (ex-ministro da Saúde), do DEM. Tem a candidatura do PSDB, que vai passar por prévia, pode ser o (governador paulista João) Doria ou o (governador gaúcho) Eduardo Leite. Temos também a (senadora) Simone Tebet, uma forte candidata, uma mulher inteligente, que foi presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) no Senado, está bem na CPI, se coloca bem, tem condição de ser candidata a presidente pelo MDB. Cada partido tem suas preferências. Queremos construir. Esse é o diálogo e com esse time. Agora está entrando o PSL, do (deputado federal e presidente nacional Luciano) Bivar.

É possível furar a polarização que se vislumbra entre as candidaturas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)?

Não acho difícil. As pesquisas mostram Lula com quase o dobro dos votos do Bolsonaro. Mas não tem outro nome. Quando surgir outro nome, vão diminuir (os percentuais de) Lula e Bolsonaro. Os extremos se regulam entre 20% e 25%. Isso ambos vão ter. Vão sobrar 60% (do eleitorado) para terceira via. Se alguém conseguir ir ao segundo turno vai ganhar a eleição. De forma tranquila até.

Há tempo hábil de estruturar uma terceira via competitiva?

Precisamos correr com isso. Na eleição passada surgiu o Bolsonaro do nada. Entendemos que não há ambiente para surgir outro nome da última hora. O fenômeno foi lá atrás, em eleição atípica, com efeito de onda que todo mundo que foi com ele também ganhou a eleição. Isso não se repete.

O Bolsonaro dizia, desde 2015, que seria candidato a presidente...

Eu era deputado com ele. Me convidaram a participar, inclusive. O cara que mais ajudou o Bolsonaro na Câmara foi o Onyx Lorenzoni. O Onyx mesmo me convidou algumas vezes para conversar sobre isso no apartamento dele. Não fui por fidelidade partidária. Tínhamos um candidato, que era o ministro Henrique Meirelles, um bom candidato. O Meirelles não deu certo, ninguém quis. Faltou carisma, embora tivesse conhecimento técnico. Em São Paulo, o (Paulo) Skaf (MDB) perdeu no finzinho. Se fosse ao segundo turno ganharia a eleição, porque o Doria não poderia ter o discurso de bolsonarismo, contra a esquerda. Ele foi muito esperto nisso. Com Skaf ele não poderia usar. O Márcio França tem tendência maior para esquerda.

O senhor foi deputado junto com Bolsonaro. A postura dele à frente do País surpreende?

Ele não mudou nada. Ele era assim, continua assim e não vai mudar. O conheço bem. O que vocês conhecem dele a gente conhece há muito tempo. É teimoso e vai seguir no caminho dele. Ouve algumas pessoas, os filhos, algum outro lá, mas é um trator.

Os índices eleitorais de Lula surpreendem depois de ele ter ficado preso e o PT ter sido fortemente condenado pelo eleitorado?

Surpreende. E mostra que não apareceu ninguém (para ocupar o espaço). Alguns que tinham nomes mais fortes para se candidatar, com o Luciano Huck, o Sergio Moro, o (João) Amoêdo (Novo), desistiram. O voto ficou solto. Fala-se do (José Luiz) Datena também, nome que a gente tem de respeitar pela visibilidade que tem, está na TV todo dia conversando com o povo. Falaram da possibilidade de ele se filiar ao PSL e ter apoio de outros partidos. O que temos de dialogar é pela composição. Um vem presidente, outro vice, outro para senador. Por isso que essa reunião desses partidos é para tentar chegar a um acordo, para conseguir concentração de nome que se desponta e que possa disputar contra a esquerda e direita.

Em São Paulo, o MDB mudou seu patamar com a morte do prefeito Bruno Covas (PSDB), já que o emedebista Ricardo Nunes assumiu a prefeitura da Capital. Isso altera em qual proporção o peso do partido no jogo eleitoral ao governo do Estado no ano que vem?

Ter a prefeitura de São Paulo fortaleceu muito o MDB em São Paulo. Infelizmente houve a morte do Bruno, e o nosso vice é o Ricardo Nunes. Assumimos a Secretaria da Agricultura (do Estado) com o Itamar Borges (deputado estadual). Estamos com o governo. Nosso partido tem esse acordo de apoiar o Rodrigo Garcia (PSDB), é acordo feito e estou na pré-campanha dele. O partido vai estar firme com ele. Por enquanto ele ainda está distante nas pesquisas, mas temos compromisso com ele. Sempre fiz política baseada na palavra.

O senhor foi prefeito de Itu por dois mandatos e sabe bem o peso que o Interior tem nas vitórias do PSDB, em especial quando o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) se candidatou. Essa popularidade de Alckmin no Interior não é ativo a ele?

Acho que haverá divisão. Acho que o Geraldo vai ser candidato e eventual candidatura dele atrapalhará bem o Rodrigo Garcia, inclusive. Porque é voto bem parecido. Rodrigo é um homem capacitado, pessoa inteligente, é da política. Ele está trazendo, com aval do Doria, partidos para a base dele, políticos como prefeitos, vereadores. A classe política de São Paulo, mais de 70%, estará com o Rodrigo.

Será a eleição mais difícil para os tucanos nessa dinastia do PSDB no governo paulista?

Vai ser uma eleição mais difícil para o Alckmin. Não sei para qual partido ele vai. Mas em todas as eleições que ele disputou e ganhou, ele estava na máquina. Agora ele está fora da máquina. Aqui em São Paulo, o governo do Estado é muito forte porque sempre deu certo. São Paulo é um Estado que vai bem em relação aos outros. Estou em Brasília, vejo como é a política em outros Estados, somos privilegiados.

O Congresso Nacional aprovou o aumento do fundo eleitoral para R$ 5,7 bilhões. Era o timing correto deste assunto entrar na pauta?

Nem houve muita discussão sobre isso. Houve um atropelo. Na verdade, o tema foi incluso dentro da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) e nós votamos a LDO. Não podemos parar o País. E estava isso junto. Foi voto consensual, não nominal, votamos a favor do Brasil. Não poderia jamais deixar de votar a LDO, porque atrasaria o País. Estava lá, como outros itens também, como emendas. Foi um pacote. Toda Lei de Diretrizes Orçamentárias foi votada e a grande maioria votou a favor. Nem debate teve. Se não vota não tinha recesso também. Depois ainda vamos votar o orçamento.

O senhor é a favor ou não desse aumento do fundo?

Eu acho que tinha de ser discutido melhor. Acho que foi atropelado.

Bolsonaro se notabiliza por críticas pesadas às instituições. Como o senhor vê esse tipo de postura dele?

Há coisas que concordo com ele e outras não. O voto impresso eu sou a favor. Meu partido é contra, mas eu sou a favor. É questão pessoal minha. Eu não confio nessas urnas. Sei que sou contraponto da maioria dos integrantes do partido. Estou em um partido que respeita minha opinião, não preciso seguir em tudo. Em relação aos ataques às instituições, não concordo. Eu admiro muito o (ex-presidente) Michel Temer (MDB), um cara muito preparado para esse diálogo com o Congresso. Se não houvesse aquela gravação, o Brasil estaria com todas as reformas feitas. Não acredito em reforma tributária, reforma administrativa, não terá ambiente político para isso. Se fosse o Michel lá (na Presidência), já tinha passado por tudo. Ele era presidente reformista. Ele conhecia o Senado, a Câmara. Ele tem preparo para dialogar com STF (Supremo Tribunal Federal), com tudo.

Mas o senhor sente que essa postura de Bolsonaro é em busca do rompimento da ordem democrática no País?

Eu não acredito nisso. Assim como não acredito em impeachment. Não acho que vai acontecer. Não há motivo, até agora, para isso. Só se surgir algo diferente. Se sair, ele sairá no voto. Sou a favor da democracia.

O senhor se notabilizou por defesa dos municípios na Câmara Federal. É muito árduo trabalhar a favor das cidades?

Eu formei a Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Municípios e fiquei presidente. Até hoje sou presidente. Toda pauta municipalista passou pela gente. Fui relator de algumas matérias que beneficiaram demais os municípios. Acho que Santo André se beneficiou muito de uma que tocamos, a redistribuição do ISS (Imposto Sobre Serviços) sobre o pagamento do cartão de crédito, de débito, plano de saúde, leasing. Esse imposto sempre foi para cidade-sede do banco. Aprovamos essa matéria para redistribuir isso no lugar onde a operação financeira acontece. Sou a favor do município, é onde a pessoa vive. O repasse ao município é muito pequeno. De todo recurso arrecadado, 60% vão para o governo federal, 23% vão para os Estados e 17%, aos municípios. E o imposto é arrecadado no município. E o que acontece? Os prefeitos vão para Brasília pedir esmolas para os deputados, com dinheiro que era para ser deles, por meio de emenda parlamentar, de acesso a ministérios. É injustiça. Os prefeitos sofrem muito. Precisa redistribuir a carga tributária. Sou presidente desta frente e atuo muito nos projetos todos que dizem respeito ao município.
 




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