Uma investigaçao feita pela justiça militar desde junho passado descobriu, baseando-se em fotos e depoimentos de ex-soldados, várias contradiçoes nas explicaçoes oficiais dadas sobre aquela operaçao na margem do rio Traíra, na Amazônia brasileira, na qual morreram sete supostos guerrilheiros colombianos.

Segundo informaçoes fornecidas pela justiça militar, pelo menos três das sete vítimas eram garimpeiros e algumas famílias de falecidos e ex-soldados asseguram que o número de inocentes executados a sangue frio pode superar vinte.

Desde 1991, o exército brasileiro afirma que a guerrilha atacou um de seus postos de vigilância e matou três soldados. Em uma incursao posterior para encontrar os responsáveis, morreram sete guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc, marxistas).

Entretanto, nove anos depois, três ex-militares brasileiros denunciaram que o exército matou vários garimpeiros colombianos depois desse ataque da guerrilha. Segundo eles as vítimas, que nao tinham nada a ver com as Farc, foram torturadas, executadas e seus corpos incinerados por vários soldados cujos nomes já estao em poder do tribunal.

O deputado Nelson Pellegrino, vice-presidente da comissao de direitos humanos, disse que há razoes de sobra para pensar que o exército brasileiro ``cometeu um crime grave movido pela vingança fora do território nacional'.

No entanto, a versao militar desse episódio nunca foi posta em dúvida no Brasil, nem tampouco pelos chefes militares colombianos.

``Esse episódio está claro para nós. Talvez aquelas pessoas fossem garimpeiros, mas o guerrilheiro nao somente é guerrilheiro, é garimpeiro, camponês ou pai de família', disseram chefes militares colombianos do Comando Unificado do Sul, com sede em Letícia, fronteira com o Brasil.

Duas fotos dos supostos guerrilheiros mortos distribuídas pelo Comando Militar da Amazônia (CMA) brasileiro sao a prova principal da justiça militar. Vários ex-soldados que prestavam serviço neste pelotao de fronteira reconheceram nelas os garimpeiros da regiao, que foram detidos e depois desapareceram sem que nenhum oficial superior, entre eles os quatro que serao acusados, desse explicaçoes sobre seu paradeiro.

``Houve alguns jornalistas que prometeram a vários soldados fazer um livro. Por isso estao dando declaraçoes que nenhum militar é capaz de confirmar em presença de um juiz. Nossos oficiais mataram sete guerrilheiros em legítima defesa e o caso se esclareceu na época', concluiu o chefe do CMA, general Clovis Bandeira.