Política Titulo Cassado
Com derrota na Justiça,
Oswaldo está inelegível

Prefeito sinaliza simpatia por Donisete ser seu sucessor, mas
mantém apoio da abertura da chapa para minar Paulo Eugênio

Mark Ribeiro e Sérgio Vieira
Do Diário
22/05/2012 | 07:02
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O prefeito de Mauá, Oswaldo Dias (PT), está inelegível por oito anos. A condição é decorrente de julgamento do Tribunal de Justiça, que ontem negou recurso do caso Túnel do Tempo, exposição de imagens organizada pela Prefeitura em 2004 (último ano de seu segundo mandato) que caracterizou o uso da máquina para a promoção da campanha do candidato petista a prefeito na época, Márcio Chaves Pires, que teve a candidatura cassada e os direitos políticos suspensos até 2020. Oswaldo admite que, embora planeje recorrer da decisão em Brasília, abdica de tentar a reeleição. O anúncio ocorre dois dias depois de o Diário publicar que movimento liderado pelo deputado estadual Donisete Braga, pelo vice-prefeito, Paulo Eugenio Pereira Júnior, e pelo presidente da Câmara, Rogério Santana, definiu que Donisete será o candidato a prefeito de Mauá pelo PT, com Paulo Eugenio mantido na chapa. Assim, o partido encontra a saída honrosa do processo para Oswaldo. A avaliação é de que a condenação no TJ, embora providencial, não impedirá o racha instalado no partido com a manobra do trio. O prefeito sinaliza simpatia por Donisete ser o seu sucessor, mas mantém o discurso pela abertura da chapa, especialmente a Irmão Ozelito (PTB), tentando minar Paulo Eugenio.

 

DIÁRIO - Existe alguma chance de o senhor ser candidato a prefeito?

OSWALDO DIAS - Primeiro que essa discussão remete a duas partes. A primeira é regimental, a realização do encontro. Não tinha prévia porque não tinha dois ou mais candidatos. Só tinha um inscrito, que era eu. No encontro de delegados (22 de abril) aprovaram o meu nome por unanimidade, inclusive com fala do Donisete e do Paulo. E se deixou para um próximo encontro a discussão da vice, por possibilidade de composição, e a chapa de vereadores. Regimentalmente, acontece o seguinte: o que foi votado no encontro não pode ser novamente colocado. Não é simplesmente reunir o encontro e mudar. Não existe isso. A convenção oficial é homologatória, no PT ela não tem poder de decisão. Por isso existe a prévia. Não teria a menor possibilidade de ter outro candidato sem ter a minha concordância. Só mudaria o candidato se eu quisesse.

 

DIÁRIO - E o senhor quer?

OSWALDO - Hoje tem outro quadro. O caso do Túnel do Tempo foi julgado hoje (ontem) e eu fui declarado inelegível. Agora é outro processo (interno). Meu nome deixa de estar colocado. Daqui para frente é outro processo, que não dá para recuperar o de origem, que era a prévia. Isso já passou. Existe no partido regimento nacional que diz que todo processo eleitoral em cidades com mais de 200 mil eleitores tem de passar pela executiva nacional. E agora cai lá porque o prazo para prévia já passou. E a nacional passa a acompanhar mais de perto. Em tendo consenso, vale as decisões locais. Em não tendo consenso, a nacional tem de decidir.

 

DIÁRIO - O senhor sempre fez referência ao Túnel do Tempo dizendo que o PT foi vítima de um golpe da Justiça. É o desfecho deste golpe?

OSWALDO - É a continuidade deste golpe.

 

DIÁRIO - O senhor se arrepende de ter mantido o Túnel do Tempo?

OSWALDO - Não existe arrependimento. Primeiro porque o Túnel do Tempo foi um mito. Era uma exposição que mostrava o crescimento da cidade. Mostrava as obras do Oswaldo Dias? Não. Mostrava série de coisas históricas da cidade, e dentro deste processo, tinha as obras dos últimos oito anos. Mas tinha as outras também. Era para mostrar o crescimento da cidade ao longo dos 50 anos. Qual é o problema? Um dia, alguém documentou que distribuíram um papel de candidatura lá dentro. Ou seja: você não pode condenar ninguém por um episódio. Deveria ser por repetição, que configuraria a intenção (de promover a candidatura). O ato foi fotografado. Pode pôr fogo no Túnel do Tempo que não muda a ação. Então eu acho que isso foi um arranjo, uma armação. E quando se monta uma situação, ela vai ganhando corpo.

 

DIÁRIO - Mas cabe recurso (em Brasília)...

OSWALDO - Cabe, mas tenho posição de não ir pra uma eleição com recurso. Vou fazer reunião com advogados amanhã (hoje), mas já estou decidido que não vou disputar a eleição.

 

DIÁRIO - O (deputado federal) Vanderlei Siraque (PT) classificou o movimento do Donisete com o Paulo Eugenio de golpe. E o sr.?

OSWALDO - Não podemos colocar isso porque o que aconteceu hoje (ontem) anula tudo.

 

DIÁRIO - E se tivéssemos feito esta entrevista antes da decisão do TJ?

OSWALDO - Era um golpe. Quando conversei com o Siraque, falei que era uma tentativa de golpe, porque o regimento não permite que mude (o candidato). O Siraque entende ser um golpe porque já mexeu o suficiente para desestabilizar o processo (eleitoral).

 

DIÁRIO - Qual é a indicação que o senhor vai dar ao seu grupo para disputar a eleição?

OSWALDO - Não estamos encaminhando nenhum nome. Eu, estando inelegível, vou apoiar aquele que o partido decidir.

 

DIÁRIO - O único colocado é o Donisete. O senhor apoia?

OSWALDO - Eu não posso fazer isso. Se falar que é o Donisete estou passando por cima de discussões que têm de ser respeitadas. Nunca estive fora do processo. E não existe esta possibilidade. Neste momento, você disse bem, quem está colocado é o Donisete. Uma vez escolhido, será ele.

 

DIÁRIO - E o Paulo Eugenio continua vice?

OSWALDO -_Se eu defendia, como candidato, que para ganhar a eleição teria de ser com composição, eu continuo achando.

 

DIÁRIO - É uma saída honrosa, construída pelo PT?

OSWALDO - Construída pelo Tribunal de Justiça.

 

DIÁRIO - Mas o senhor está abrindo mão do recurso...

OSWALDO - Anunciei no ano passado que não iria para a disputa com recurso.

 

DIÁRIO - E não é saída honrosa construída?

OSWALDO - De jeito nenhum. Queria ser candidato. Tanto é que fui para o encontro, fui votado por unanimidade, fiquei entusiasmado. Se falar que é saída honrosa, o pessoal que estava com a gente vai ficar muito chateado.

 

DIÁRIO - Por que o Ozelito para vice?

OSWALDO - Porque já tem o apoio do Chiquinho (do Zaíra, PTB), já é uma força. O Paulo Bio (PV) está fora, mas a proximidade dele com o Chiquinho é muito grande. Então se você tiver a possibilidade de juntar todas essas forças para indicar o vice, estarei à disposição para defender.

 

DIÁRIO - Isso não significa mágoa com o vice Paulo Eugenio?

OSWALDO - Não. Tenho só cinco minutos para ficar bravo. Para qualquer situação difícil, quando você esbarra numa coisa que não tem solução, você tem cinco minutos para se aborrecer. Depois, tem de recompor.

 

DIÁRIO - O senhor se considera traído pelo Paulo Eugenio?

OSWALDO - Não. Absolutamente. Não gosto, não carimbo ninguém de traição. As pessoas têm todo o direito de mudar de posição. Em outubro ninguém falava de trocar o vice, mas a realidade vai se alterando e tem de assumir novos compromissos. Tem é de manter o vínculo. No caso do Paulo Eugenio, fizemos muita conversa, e, no encontro, ele que propôs que a (discussão sobre a) vice ficasse para depois.

 

DIÁRIO - Do grupo do Donisete e do Paulo Eugenio, o senhor afastará alguém do governo?

OSWALDO - Não tenho essa intenção.

 

DIÁRIO - E não descarta?

OSWALDO - Mas aí não sou eu. Imagina uma pessoa que não se sente bem no governo. Por vontade minha não demito ninguém por esta razão (movimento encabeçado pela dupla). Posso demitir por ineficiência no trabalho. Mas por ser aliado do Donisete ou do Paulo Eugenio não. É lógico que tem de pensar em realinhamento. Mas depois deste processo não tive nenhuma conversa com eles (Donisete e Paulo Eugenio). Estou dando um tempo.

 

DIÁRIO - O movimento dos dois foi precipitado?

OSWALDO - Não sei.

 

DIÁRIO - O racha no partido já está instalado?

OSWALDO - No primeiro racha, em 1982, um candidato de outra chapa do PT deu um soco na boca de um candidato nosso que desceu sangue. Evoluiu muito o partido de lá para cá. Estas cenas, assim, mais de cadeirada, não tem mais.

 

DIÁRIO - O PT está rachado?

OSWALDO - Não. O PT é um só. As pessoas desgrudam. Está todo mundo junto. Têm vários grupos, mas todos têm objetivos comuns.

 

DIÁRIO - Quais as conversas com a executiva nacional do PT?

OSWALDO - Foram todas no sentido de garantir o regimento. Só não sou candidato por causa da decisão de hoje (ontem). E não vou recorrer. Não sou candidato sub judice. E tenho convicção de que ganharia a eleição.

 

DIÁRIO - O favoritismo do PT se mantém?

OSWALDO - Acho que se mantém. Mas evidente que tem de se costurar relação com outros partidos. Com meu grupo, não vou negar que tenha pessoas muito bravas, descontentes. Mas não demora mais de cinco minutos para assimilar. Assimilado, todo mundo vai para rua.

 

DIÁRIO - É a sua aposentadoria da política?

OSWALDO - É. Você viu a ideia do (ex-prefeito) Leonel (Damo-PMDB) falar que vai voltar (é pré-candidato a vereador)? Eu ainda voltaria mais novo que ele (tem 69 anos, contra 79 do peemedebista). Nunca digo não, mas não tenho mais nenhuma pretensão de disputar eleição.

 

DIÁRIO - Acha que o Donisete vai defender a sua administração?

OSWALDO - Isso é uma questão de avaliação. É muito difícil um governo ser eleito sem fazer a defesa do antecessor que é do mesmo partido. Mas é decisão do candidato.

 

DIÁRIO - Não defender a chapa Donisete/Paulo Eugenio já não demonstra cisão?

OSWALDO - Ué, mas a gente também tava colocado, eu e o Paulo, no ano passado. É avaliação de viabilidade eleitoral.

 

DIÁRIO - Não sendo o senhor, quem gostaria que fosse o candidato?

OSWALDO - Donisete é um deputado, está aí se colocando com vontade, mas eu não posso antecipar as coisas. Se ele for o candidato, vou pedir voto.




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