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Corpos em paranoia
Sara Saar
Do Diário do Grande ABC
05/08/2011 | 07:25
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Nos dicionários, paranoia significa perturbação mental baseada em ideias de perseguição, reivindicação e grandeza. Para Ana Bottosso, diretora da Companhia de Danças de Diadema, paranoia vai além dos dicionários, em especial quando relacionada a metrópoles como São Paulo.

Junto ao coletivo, a coreógrafa se lança ao desafio de transpor poesia à dança no espetáculo "Paranoia", que estreia hoje no Sesc Vila Mariana, em São Paulo. Inspirados na publicação homônima, assinada por Roberto Piva (1937-2010), bailarinos representam as sensações despertadas pelos poemas.

Segundo Ana, Piva retrata a madrugada da São Paulo de 1963. "Ele fala de homossexualidade, drogas e prostituição de maneira muito lírica, sem ser panfletário, levantar bandeiras", afirma. Tratam-se de desejos e decepções, ora explícitos, ora camuflados no caos e nas maravilhas da Capital.

O desejo de criação coreográfica surgiu em 2007, quando Ana conheceu os textos e as imagens da obra. "Em 2009, quando participávamos da mesma roda de amigos, Roberto trouxe a nova edição do livro e falou para eu coreografar. Então, uniu a vontade dele com a minha, mais antiga", conta. 

Pautados pela energia intensa, os movimentos têm o caratê como uma das referências. "Mesmo no fim da vida, Piva era uma pessoa de muita energia, muito pique. A montagem, no primeiro olhar, precisava ter força, uma energia contida que de repente explode", conta a diretora.

Para a trilha sonora, executada ao vivo, o coletivo convidou o andreense Grupo Experimental de Música. "Eles trabalham uma sonoridade urbana e constroem os próprios instrumentos, retrato da nossa sociedade que se renova com o que tem", diz a bailarina.

Segundo o músico, multi-instrumentista e luthier Bira Azevedo, durante o processo de criação Ana colocava ideias de movimentos e eles imaginavam sons. "São composições conceituais que remetem a barulhos e ruídos da cidade. É o bar noturno, é o fim de noite, são as últimas pessoas deixando o bar. No decorrer, a trilha também remete à natureza", afirma Azevedo.

O conjunto montou uma instalação própria para a coreografia que, inclusive, compõe o cenário. Este foi criado a partir de imagem contida no livro que apresenta o topo de um poste.

Depois das apresentações no Sesc Vila Mariana, o espetáculo já segue para o Teatro Clara Nunes, em Diadema, (dia 21) e para a Casa das Rosas, em São Paulo (1º e 2 de setembro).


Paranoia Dança. No Sesc Vila Mariana - Rua Pelotas, 141, São Paulo. Tel.: 5080-3000. Hoje e amanhã, às 21h; domingo, às 18h. Ingr.: R$ 6 a R$ 24. Classificação indicativa: 16 anos.




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