Ricardo Waddington, 42 anos, é avesso a entrevistas. O diretor de dramaturgia da Globo recusa a maior parte das solicitações da imprensa, mas não costuma explicar o real motivo. “Detesto aparecer. Só aceito quando estou lançando uma novela e preciso divulgá-la”, diz. Para falar de Mulheres Apaixonadas, que sela sua quinta parceria com o autor Manoel Carlos, Ricardo dispõe-se a conversar às 23h de uma sexta-feira, quando ainda tem cenas para editar.

Nem sempre Waddington foi um entusiasta da TV. Na adolescência, detestava tudo que via e preferia os palcos cariocas. Foi para a Globo em 1982 pelas mãos do falecido diretor Paulo Ubiratan. Começou como estagiário, trabalhou em edição e logo virou assistente de direção. Passou a dirigir novelas de autores como Gilberto Braga, Carlos Lombardi, Aguinaldo Silva e Manoel Carlos, com quem compartilha a predileção por obras realistas. “Minha obsessão é mergulhar no universo do autor. Ser fiel à obra dele”, afirma.

Pergunta - O sucesso ou fracasso de uma novela costuma ser atribuído, principalmente, ao autor. Qual é a parcela de responsabilidade da direção?
Ricardo Waddington - A direção não salva uma novela, mas pode estragá-la. Meu papel como diretor é traduzir com fidelidade a história criada pelo autor. Não posso, em nenhum momento, querer me destacar. Se alguém disser “isso é marca do Ricardo Waddington”, é sinal de que estou matando a novela.

Pergunta - Mas então a direção não pode aparecer?
Waddington - Não. Pelo menos, tem de estar depois da trama, dos personagens, da emoção... principalmente numa obra do Maneco.

Pergunta - Com Mulheres Apaixonadas, você emplaca a quinta produção feita em parceria com Manoel Carlos. O que as novelas dele exigem de você como diretor?
Waddington - Todas as novelas do Maneco exigem, não só de mim, mas do elenco e da equipe inteira, um compromisso permanente com o realismo.

Pergunta - Mulheres Apaixonadas tem muitos personagens. Como é comandar um elenco de 104 atores?
Waddington - Essa é uma novela de elenco e estrutura maior que o normal porque se passa em ambientes coletivos. Numa situação que em outra novela se resolveria com figuração, nesta usamos atores de carreira.

Pergunta - São 25 estreantes na televisão. Por que tantos novatos?
Waddington - Porque só trabalhamos com atores absolutamente adequados ao papel. Não é porque eu tenho uma estrela disponível que vou usá-la. O papel do Reynaldo Gianecchini em Laços de Família só poderia ser feito por ele. Não por qualidades de interpretação, mas por adequação mesmo.

Pergunta - Alguns atores já o definiram como um diretor dinâmico e exigente, beirando o estresse. Você se reconhece nessa imagem?
Waddington - Totalmente. Acho muito difícil ser um diretor de TV e não ser estressado. Uma pessoa relaxada não faz televisão.