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S.Bernardo: Maurício Soares apóia Dib, de olho no PT
Eduardo Merli
Do Diário do Grande ABC
01/02/2004 | 18:20
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O ex-prefeito Maurício Soares (PSDB) é considerado um dos principais pilares da campanha para reeleição do prefeito William Dib (PSB) em São Bernardo, mas já vê com bons olhos uma aliança com o PT, além de não esconde uma certa admiração pelo ex-partido. Para o tucano, o PT “evoluiu”, se coligou a partidos como o PMDB e se aproxima cada vez mais das legendas de centro, como o seu PSDB. “Aqui, estamos coligados com o Dib, mas para uma próxima eleição, tudo é possível”, disse Maurício Soares, que minutos depois declarou. “Poderia fazer uma coligação com o PT sem problema nenhum. Gosto do PT, tenho muita admiração pelo partido. O melhor partido para mim é o PT”, disse, em tom de quem pode voltar à sigla que ajudou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu amigo até hoje, a fundar.

Na última quarta-feira, o ex-prefeito recebeu a reportagem do Diário em seu escritório na avenida Kennedy, em São Bernardo, e já começou a incendiar o ano eleitoral. Disse que pensou em sair do PSDB, e deixou no ar as mágoas por não ter sido escolhido vice do governador Geraldo Alckmin. “Ele escolheu para candidato a vice o Claudio Lembo, que tem uma história ligada à ditadura, ao Maluf (Paulo Maluf, ex-governador). Quando escolheu senador, escolheu o (Romeu) Tuma, que foi delegado do Dops (Departamento de Organização Política e Social) e prendeu o Lula. É um governo de centro-direita”, disse.

Soares ainda contou sobre a estrutura da campanha do prefeito William Dib e a diferença que fará o deputado Giba Marson (PV) encabeçando a terceira força das eleições. “Isso aponta para uma possibilidade cada vez mais presente de um segundo turno.”

Diário – O sr. é cotado para coordenar a campanha do prefeito William Dib este ano e participa ativamente das conversas do grupo que trabalha a reeleição dele. Como o sr. avalia o quadro político para a eleição em São Bernardo?
Soares – Será uma campanha terrível, mas deve ser mais civilizada, sem muita baixaria, como foi a de 2000. Eu vejo o Vicentinho (Vicentinho Paulo da Silva, pré-candidato do PT) um pouco mais tranqüilo nestas eleições, pois conversei outro dia com ele. O Giba (Marson, deputado estadual do PV cotado para compor a terceira candidatura na cidade) não é de fazer ataques frontais a ninguém e o Dib também não. O PT está mais assentado, é um partido que evoluiu. Se eleger o Vicente, ele fará um governo melhor do que ele faria na eleição passada. Fez novas experiências, está conhecendo melhor a cidade, participa em nível nacional como deputado e está se qualificando.

Diário – O PT de São Bernardo está buscando coligações com partidos tidos de centro, como o PMDB e o PTB. Nunca na história o PT fez isso na cidade. Qual sua opinião?
Soares – A abertura que eles estão fazendo é muito boa. Eles só ganharam uma eleição fechada comigo. Eles aceitam coligar, mas o partido tem de ser mais à esquerda do que eles. Mais à esquerda do que eles tem quem? O PC do B e o PSTU. Uma turma que ainda é marxista-leninista mesmo depois da queda do muro (de Berlim), das mudanças ocorridas na China, na Ucrânia, na Romênia. O que que sobrou? Cuba e Coréia do Norte, e eles ficam aí. Fazer coligação com gente mais à esquerda não traz voto, tira voto. Em 1988, o Djalma (Bom) queria que eu fizesse coligação com o PC do B. Falei para ele: Djalma, quantos votos eles tiram da gente? Hoje eles (PT) aprenderam que precisam abrir com um partido hegemônico para não desviar do objetivo, mas têm de admitir aliados. Às vezes erra, mas conserta. Eu falei isso com o Vicente: faz uma aliança mais para o centro. O que que aconteceu com o Lula? Fez uma aliança mais ampla. A realidade é que os melhores e maiores quadros estão no centro. Estão nas universidades. E a militância está na esquerda. Melhor seria para ele (Lula) uma coligação com o PSDB, que em termos de quadro é o melhor. Só que não tem índio, só tem cacique.

Diário – Uma coligação entre PSDB e PT para as eleições de 2004 é possível?
Soares – Não, mas isso muda. Você vê, o PSDB ajudou a aprovar as reformas. Não é uma oposição renhida. Aqui estamos coligados com o Dib, mas para uma próxima eleição, tudo é possível, tirando esses companheiros do PT que são mais ideológicos, tipo Aldo Santos, Wagner Lino e uma meia dúzia, que mantêm aquelas idéias do passado. O Lula mudou, o PT mudou, mas eles não mudam. Há muitas pessoas que estão empacadas: ditadura do proletariado, revolução socialista, partido único. Mas a maioria gosta de mim. Fui petista por dez anos, trabalhei muito com o PT, fiz a sede, criei muitos núcleos. Poderia fazer uma coligação com o PT sem problema nenhum. Gosto do PT, tenho muita admiração pelo partido. O melhor partido para mim é o PT. Tem umas briguinhas internas, mas é um partido orgânico, que funciona, tem gente competente e séria. Eu não pude permanecer lá porque criou-se um ambiente ruim, e por amizade ao Covas entrei no PSDB. No futuro, o PT, tendo declinado de único partido que representa o ideário, tudo se facilita. Pode haver coligações das mais diferentes.

Diário – O sr. disse que o PT é o melhor partido. O que o afasta do PT, então, são somente os radicais?
Soares – Eu poderia acreditar perfeitamente no PT, que traz uma mensagem programática muito boa. O que acontece é o seguinte: de onde veio a maioria do PT ? Do movimento sindical. O movimento sindical em São Bernardo foi originário na porrada, porque a ditadura era assim. Quase todos eles foram presos, cassados, vítimas, e aprenderam a fazer a luta social com muita agressividade. E não perderam esse costume, continuam raivosos e fazem uma política do contra. Mas agora é hora de juntar as pessoas e construir.

Diário – O sr. é um seguidor do ex-governador Mário Covas no PSDB, mas o governador Geraldo Alckmin faz parte de uma vertente diferente do chamado covismo. Como o sr. se sente hoje no PSDB?
Soares – Quando o Geraldo Alckmin era substituto do Covas, ele manteve a equipe do Covas. Depois, ele formou o governo dele, não queria os covistas e eles acabaram ficando de fora. Hoje não tem aquela influência, mas este é o governo do Geraldo. O Covas vem lá de trás, do velho MDB que enfrentou a ditadura, nas lutas pelos trabalhadores, pela anistia. O Geraldo tem uma história mais sossegada, veio do interior, cidade pequena, não teve nenhuma militância de esquerda. É um homem de centro. Tanto que quando ele fez a escolha para candidato a vice, ficou com o Claudio Lembo, que tem uma história ligada à ditadura, ao Maluf. Quando escolheu senador, escolheu o (Romeu) Tuma, que foi delegado do Dops, prendeu o Lula. É um governo de centro-direita. Quando pleiteei a vaga de vice, pensei: Ele é um homem do interior e eu sou da Grande São Paulo. Ele é do centro para a direita e eu sou do centro para a esquerda. A gente faria uma dupla que combina, mas ele tinha outras idéias.

Diário – O sr. pensa em sair do PSDB?
Soares – Eu pensei em ficar sem partido agora, como não vou mais disputar a eleição. Mas há uma lenda que mudo de partido que nem de camisa. Eu pertenci a três partidos: no PMDB eu não me filiei e no PPS fiquei tão pouco que não conta. Eu mudei na verdade três vezes. Do PT para o PSB, do PSB para o PPS e depois para o PSDB.

Diário – O presidente do diretório estadual do PSDB, o deputado federal Antonio Carlos Pannuzio, disse que a pretensão do partido em São Bernardo é lançar candidato próprio. O presidente do diretório municipal, Admir Ferro, disse que o partido está com o prefeito William Dib. O sr., o principal nome hoje filiado ao PSDB na cidade, como vê tudo isso?
Soares – Aqui a gente está coligado com o Dib, mas se o partido determinar diferente lá em cima, vai ser muito difícil, porque a gente não está preparado para isso. Os nossos companheiros estão todos na administração. Rachar com o prefeito para se lançar tardiamente numa campanha que não terá êxito é difícil.




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