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Exposição desvenda colonização da região
Everaldo Fioravante
Do Diário do Grande ABC
16/07/2002 | 20:20
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O que existe de figuração sobre o que foi (ou seria) o Brasil do passado data de a partir do início do século XIX. É o resultado das missões científicas e artísticas européias por aqui. De iconografia original de antes dessa época não há nada, mas essa lacuna agora é parcialmente preenchida graças ao trabalho do museólogo Julio Abe Wakahara e do artista plástico Luiz Antonio Vallandro Keating, ambos também arquitetos.

Em cartaz na Casa da Cultura e Museu Barão de Mauá com entrada franca, uma exposição inédita revela por meio de painéis o presumível roteiro do português Martim Afonso de Sousa, em 1532, partindo de São Vicente e chegando à aldeia de Tibiriçá, onde foi fundado o povoado indígena de Piratininga (local onde atualmente fica a estação Armênia do metrô paulistano). Essa foi a primeira expedição colonizadora no país, da qual, entre o ponto de partida e o de chegada, está o Grande ABC.

O caminho percorrido por Martim Afonso de Sousa, e os outros cerca de 400 que o acompanhavam, leva o nome de Trilha dos Tupiniquins, foco central desta mostra. Na reconstituição do percurso são utilizados textos, fotografias antigas e atuais (estas de Wakahara) e desenhos de Keating. Os dois profissionais percorrem a trilha há cerca de cinco anos. “Fizemos esse caminho várias vezes, andando a pé, de carro, trem e barco”, afirma Wakahara.

A Trilha dos Tupiniquins que batiza a mostra integrava o grande complexo das Trilhas do Peabiru, que ligavam os oceanos Atlântico e Pacífico. A exposição promove uma interpretação (baseada em métodos científicos) do trecho que mais interessa à história de São Paulo.

Segundo Wakahara, a Trilha dos Tupiniquins é pré-histórica – o que não é de se estranhar. Conforme informa o texto em um dos painéis, a região do sudeste brasileiro vem sendo habitada por várias levas de populações há mais de 5 mil anos. Esses povos primitivos circulavam entre o litoral e o planalto, conforme as estações do ano, em busca de alimentos e abrigo. Os tupiniquins formaram o último agrupamento a dominar a região antes da chegada dos portugueses.

“A intenção é oferecer uma visão geográfica da trilha, e não histórica. Nosso objetivo foi criar uma iconografia histórica primitiva de São Paulo”, diz Wakahara. Responsabilidade de Keating, essa iconografia, segundo ele próprio, não é (e nem poderia ser) fotográfica. “É uma leitura, portanto tem teor interpretativo”.

Segundo Keating, em decorrência do desenvolvimento, São Paulo “cobriu” seus pontos geográficos, o que faz com que quem ande pela região sinta-se “perdido”. “Por meio dessa iconografia, as pessoas podem reconhecer esses pontos como eram originalmente e assim sentirem-se participantes, e não perdidas”, afirma.

A mostra fica na Casa da Cultura e Museu Barão de Mauá (av. Dr. Getúlio Vargas, 276. Tel.: 4512-7537) até o próximo sábado (dia 20), com visitação diária das 9h às 16h. De 22 a 26 deste mês, Trilha dos Tupiniquins integrará o VII Congresso de História de Rio Grande da Serra. No dia 27, volta ao museu de Mauá, onde poderá ser vista de terça a sábado até 31 de agosto.




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