Economia Titulo
País está mais resistente a impactos, diz Fraga
Do Diário do Grande ABC
28/01/2000 | 16:17
Compartilhar notícia


Há um ano Armínio Fraga estava em Brasília, assumindo a presidência do Banco Central, enquanto o Brasil era assunto de piadas de empresários, economistas e políticos de vários países, reunidos no Fórum Econômico Mundial. Fraga é o principal representante brasileiro neste ano, em Davos, e seu trabalho inicial, nesta sexta-feira, foi mostrar as perspectivas de uma economia em recuperaçao depois de uma grave crise cambial. O setor externo, segundo ele, está muito mais sólido e preparado para resistir a impactos.

Para começar, o governo federal deve amortizar neste ano US$ 3,9 bilhoes e já captou Us$ 1,75 bilhao em duas operaçoes no mercado. As exportaçoes começam a ganhar impulso e o país deverá beneficiar-se da melhora dos preços agrícolas.

Praticamente inexiste no país capital externo de curto prazo, em condiçoes de sair de uma hora para outra. Os créditos de curto prazo sao vinculados a operaçoes comerciais e mais estáveis que as aplicaçoes especulativas. No ano passado, o investimento direto estrangeiro, acima de US$ 29 bilhoes, foi mais que suficiente para cobrir o déficit em conta corrente, pouco superior a US$ 24 bilhoes.

Esse quadro, segundo Fraga, permite alguma tranquilidade em face de uma possível alta de juros nos Estados Unidos, com o risco normal de alguma reduçao da oferta de dinheiro. Ele reafirmou a expectativa de crescimento econômico próximo de 4% neste ano (3,5%, na projeçao "conservadora" do BC), com preços ao consumidor subindo cerca de 6%.

Mesmo com a expansao dos negócios - incluído maior consumo de bens duráveis -, dificilmente haverá maior pressao inflacionária, de acordo com a avaliaçao de Fraga. Alguns empresários têm falado em repasse de preços, mas a situaçao varia de setor para setor, argumentou Fraga, e, de modo geral, há muita capacidade ociosa na economia, condiçao para aumento da oferta sem pressao de custos.

Fraga apresentou esse quadro numa entrevista e, pouco antes, num almoço com latino-americanos. Lá estavam o novo ministro da Economia da Argentina, José Luis Machinea, o presidente do Banco Central do México, Guillermo Ortiz, e o presidente da Corporaçao Andina de Fomento, Carlos García. "Há um ano", comentou García, "todos perguntavam em Davos quando seria o fim do mundo - se no sábado, no domingo ou na segunda." A situaçao melhorou rapidamente, no ano passado, mas sobram problemas importantes de longo prazo.

O primeiro deles, concordaram todos, é consolidar um novo regime fiscal. Isso pode parecer um objetivo muito modesto, disse Ortiz, como se alguém, ao lhe perguntar o objetivo de viagem, respondesse: subir a escada sem cair, como primeira condiçao para uma grande jornada. A imagem foi retomada por Fraga. Como Ortiz, ele destacou também a importância de buscar maior competitividade, por meio de investimentos em educaçao, em tecnologia e de uma série de reformas capazes de fortalecer o sistema produtivo. Fraga também se estendeu na discussao da mudança permanente das condiçoes fiscais. A Lei de Reforma Fiscal, recém-aprovada na Câmara dos Deputados, foi apontada como exemplo desse esforço.

Machinea e Fraga falaram sobre os benefícios recíprocos da retomada do crescimento no Brasil e na Argentina e reafirmaram os propósitos de convergência das políticas macroeconômicas. Tanto melhor, segundo Machinea, se o Brasil for bem e, como conseqüência, o real se fortalecer, favorecendo a economia argentina.

O deputado inglês Kenneth Clark, ex-ministro do Tesouro britânico, perguntou a opiniao das autoridades latino-americanas sobre a dolarizaçao no Equador. Também houve concordância: é um erro ver a dolarizaçao como remédio para todos os males - especialmente quando entre eles se incluem sérios problemas políticos, como no Equador.

Além de ter participaçao prevista num almoço, numa entrevista e num grande painel de discussao nesta sexta-feira, Fraga tinha vários encontros marcados. Deveria encontrar, entre outros, o vice-diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional, Stanley Fischer, e o banqueiro William Rhodes, do Citigroup, negociador da dívida externa latino-americana nos anos 80.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;