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O que esperam, FPF e CBF? Morrer alguém?
Dérek Bittencourt
Do Diário do Grande ABC
24/11/2020 | 00:01
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Na semana passada fiz uma reportagem para este caderno sobre o aumento no número de casos do novo coronavírus no futebol. Para embasar o material, conversei com especialistas no assunto: a epidemiologista, especialista em dinâmica e transmissão de doenças infecciosas e professora de medicina da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) Adélia Marçal dos Santos; e os médicos Natan Madeira, do EC São Bernardo, e Fábio Novi, que tem uma clínica em Santo André. O trio apresentou pontos e contrapontos sobre este agravo ser reflexo do cenário que vem se desenhando no País, com o crescimento de pessoas positivadas para a Covid-19 – em possível segunda onda. E, de lá para cá, a situação apenas piorou. Mais jogadores foram infectados e o técnico do São Bernardo FC, Marcelo Veiga, acabou sendo internado e entubado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) da Santa Casa de Bragança Paulista, onde permanece desde sexta-feira com o auxílio de ventilação mecânica. Os médicos tentam estabilizar a respiração do treinador, que apresentou leve melhora desde então. Situação similar passou o diretor do Coritiba e ex-São Caetano, Paulo Pelaipe, que após algumas semanas internado foi liberado para deixar a UTI na semana passada. Cuca, técnico do Santos, foi outro a necessitar de cuidados médicos e passar período no hospital. Enfim, onde quero chegar: nestes três casos, pessoas envolvidas com o futebol e que estão diariamente rodeadas por dezenas de jogadores, integrantes de comissão técnica, funcionários e dirigentes, e, para piorar, que estão sujeitas a viagens (de ônibus ou avião), frequentam lugares como aeroportos ou outros que reúnem muita gente, estiveram ou estão em condições críticas. Então pergunto: o que a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e a FPF (Federação Paulista de Futebol) estão esperando para paralisar imediatamente as competições? Morrer alguém?

Apesar de todos os protocolos que são determinados aos envolvidos com o esporte, seja a nível nacional ou estadual, ainda assim a cada dia são divulgados novos infectados. Corinthians, Flamengo, Santos, Palmeiras, Atlético-MG e Athletico-PR são alguns dos times do Campeonato Brasileiro que já tiveram de lidar ou estão lidando com surtos internos. Somente na última rodada da Série A, foram 60 desfalques em razão do vírus – e 19% dos atletas das 20 equipes já testaram positivo. Fala recente de um amigo, que é médico, me marcou. “Se o jogador está no aeroporto, por exemplo, e decide tomar um cafezinho, pronto, ele já saiu da bolha, porque teve contato com o funcionário, com a xícara, com o balcão, e já pode levar o vírus para os colegas, comissão técnica. Ou então um atleta que tem empregada doméstica que pega transporte público para ir trabalhar, pode ser contaminado em casa e levar para o clube. São muitas as situações.” De fato, são situações que fogem do controle. Afinal, não é possível que todos os campeonatos sigam o exemplo da endinheirada NBA, que confinou os times durante longo período para a disputa da reta final do campeonato (e mesmo assim ainda alguns casos foram diagnosticados).

No Grande ABC, EC São Bernardo e São Bernardo FC foram os mais afetados. O Tigre, inclusive, chegou a ter mais de duas dezenas de infectados pelo novo coronavírus (contando jogadores, comissão técnica e diretoria) na semana passada, cumprindo seus compromissos na Copa Paulista com apenas dois ou três atletas no banco de reservas – caso que o próprio Cachorrão viveu na Série A-3. Uma pessoa de dentro do São Bernardo FC que pediu para não ser identificada, inclusive, me revelou que o clube solicitou adiamento de seus jogos em razão do grande número de casos confirmados no elenco, mas obteve negativa por parte da FPF. Segundo a fonte, os clubes já haviam acertado previamente com a entidade que pedidos assim não seriam aceitos. Atualmente o Aurinegro tem situação menos complicada, com apenas cinco casos de jogadores isolados em razão da doença. Ainda assim, por mais que o futebol seja fonte de entretenimento – uma das poucas que fogem das plataformas de streaming –, não acho que a vida dos jogadores e demais envolvidos valha menos do que cumprir contratos com patrocinadores e/ou rede detentora dos direitos televisivos. Seria terrivelmente triste que uma ação fosse tomada em prol de nova pausa no calendário esportivo somente depois de uma fatalidade decorrente do novo coronavírus. E mesmo que os atletas, pela condição física, não sejam diretamente do grupo de risco, estão cercados por pessoas (inclusive familiares) que podem ter algum tipo de comorbidade ou serem vulneráveis, como Marcelo Veiga, Pelaipe e Cuca. Assim sendo, reitero: vale a pena o risco, FPF e CBF?

DECISÕES ACERTADAS
O anúncio do retorno do executivo de futebol Edgard Montemor Filho ao Santo André é um acerto das duas partes. Do Ramalhão, porque traz de volta profissional que mostrou serviço na grande campanha desta temporada e que é tanto moderno quanto antenado ao mercado. E do próprio dirigente, que regressa para perto da família, em um local que lhe permite trabalhar sem os problemas que viveu em João Pessoa – em razão das brigas políticas e de bastidores do Botafogo-PB. Mas acho que desta vez o desafio do cartola é maior, porque o êxito alcançado em 2020 acabou “elevando o sarrafo” e qualquer desempenho inferior será, sem dúvida, alvo de questionamentos e/ou, no mínimo, comparações. Seja como for, sorte para ambas as partes. 




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