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Rede de tráfico em 15 países é desmantelada
José Antonio Pedriali
Especial para o Diário
16/10/1999 | 19:40
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"Esta foi uma operaçao jamais vista", definiu Michael Vigil, chefe do escritório da agência norte-americana DEA, de combate ao tráfico de drogas, em San Juan, Porto Rico, ao comentar a mais espetacular açao policial internacional, que resultou na prisao de 1.290 traficantes espalhados por 15 países - Colômbia, México, Venezuela, Equador e 11 ilhas caribenhas.

"Desmantelamos da cabeça aos pés um completo consórcio de traficantes", comemorou o responsável pelo escritório da DEA em Miami, Vincent Mazzilli, ao se referir ao menor, porém mais importante e poderoso, grupo de traficantes aprisionado na operaçao - os colombianos Alejandro Bernal Madrigal e Fabio Ochoa, acusados, junto a mais 28 traficantes colombianos, de serem os responsáveis pela introduçao mensal de 30 toneladas de cocaína em território norte-americano através da fronteira mexicana e ilhas do Caribe.

A açao policial foi comemorada na Casa Branca pela procuradora dos Estados Unidos, Janet Reno, e no Palácio de Nariño, sede do governo colombiano, pelo presidente Andrés Pastrana. Janet e Pastrana tinham em comum, além da alegria pelo êxito da caçada aos traficantes, a necessidade de alardear ao máximo o fato, porque os dois governos precisam, e com urgência, convencer os congressistas dos Estados Unidos a aprovar um pacote de ajuda à Colômbia, estimado entre US$ 1,5 bilhao e US$ 2 bilhoes, renováveis nos próximos três anos. E o Congresso norte-americano, que entra em recesso no fim do mês, ainda nao se mostrou efetivamente convencido da utilidade e eficácia desse desembolso bilionário.

Pastrana, que em setembro completou um ano na Presidência, vem sofrendo intensas pressoes do governo Bill Clinton para apertar o torniquete no narcotráfico e negociar um acordo de paz honroso com os grupos armados. Pastrana nao perdeu tempo: no mês passado, aproveitando a sessao inaugural da Assembléia Geral das Naçoes Unidas, entregou a Clinton seu plano de açao, prevendo investimentos de US$ 7,5 bilhoes no período de três anos para essa finalidade. A Colômbia se dispoe a desembolsar US$ 4 bilhoes; o restante terá de ser bancado pelos EUA e outros governos e instituiçoes financeiras internacionais.

O desafio para a Colômbia é imenso. Há 40 anos a guerrilha, a mais antiga da América Latina, está ativa e, apesar de todos os esforços, apesar da dissoluçao de vários grupos, nunca esteve tao poderosa como agora. Os dois grupos remanescentes - Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e ELN (Exército de Libertaçao Nacional) - controlam 40% do território, ao leste e sul, justamente onde se concentram as áreas produtoras da coca, de cuja folha se origina a cocaína, e os laboratórios de refino da droga. E os grupos paramilitares de direita, comandados pelos irmaos Fidel e Carlos Castaño, estao disseminados em áreas estratégicas no norte e sul, onde, além da produçao, estao instalados os centros de distribuiçao de cocaína.

Embora com objetivos diversos e até antagônicos em sua razao de ser, guerrilha e narcotráfico, segundo os governos, necessitam um do outro para sua sobrevivência: os guerrilheiros dependem de dinheiro para comprar armas e os traficantes estao dispostos a pagar o que for preciso para terem protegidas as áreas de cultivo e produçao da coca.

O processo de paz, iniciativa do presidente Pastrana, "nao funcionará nunca", sentencia o general Fernando Tapia, comandante das Forças Armadas da Colômbia, "enquanto os grupos armados continuarem financiando as drogas". Segundo ele, "se os Estados Unidos quiserem acabar com o narcotráfico na Colômbia, poderiam fazê-lo em dois ou três anos". Os EUA, de fato, estao intensificando sua presença militar na Colômbia, onde, durante oito meses, treinaram o primeiro batalhao especializado em luta antiguerrilheira. O batalhao entrou em açao no mês passado, concentrando suas atividades na regiao de Putumayo, fronteira com o Equador, onde se estima que 100 mil hectares sejam dedicados ao cultivo da coca.

O tráfico de drogas é punido nos Estados Unidos com a prisao perpétua, o que explica que, em 12 anos, o número de presidiários saltou de 900 mil para 1,8 milhao. E explica também o temor dos traficantes colombianos, que desde dezembro de 1997 voltaram a ser ameaçados de extradiçao para os EUA caso caíssem - como caíram agora Alejandro Bernal, Fabio Ochoa e outros 28 - nas maos da Justiça.




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