A ONG Transparência Brasil promete dar trabalho a mensaleiros, sanguessugas e outros políticos do gênero que vêem a reeleição em outubro como porta para garantir imunidade parlamentar e enterrar processos contra eles na Justiça. A principal novidade será a publicação de uma lista na internet com os nomes de todos os candidatos envolvidos em casos de corrupção nos últimos anos. Os dados serão extraídos dos cadastros de corruptos encontrados em CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito), tribunais de Justiça, de contas e eleitorais.
“Nós acreditamos que o eleitor tem de ter conhecimento do histórico dos candidatos e a informação é essencial para que o eleitor faça julgamento na hora do voto. Neste sentido, estamos preparando e vamos soltar no final deste mês um cadastro na internet com o histórico de todos os candidatos à reeleição à Câmara dos Deputados, além de ex-ministros e ex-governadores que concorrerão à mesma vaga”, afirmou o diretor da Transparência Brasil, Cláudio Weber Abramo.
A divulgação da lista, de acordo com Abramo, pode contribuir para que o eleitor compare um candidato com outro. Aquele que tem processo na Justiça por improbidade administrativa, assassinato ou contrabando com que não tem esse tipo de processo. A idéia é que essa informação possa ser disponibilizada para circular. “Se os intermediários da informação – os veículos de comunicação – a usarem para informar seus leitores”, explica Abramo.
O diretor da ONG contou que no ano passado um levantamento do site Congresso em Foco revelou que 102 parlamentares, entre deputados federais e senadores, respondiam a um total de 185 processos criminais como réus, acusados tanto em crimes contra o patrimônio público quanto a tráfico de drogas e trabalho escravo. “Isso foi antes do mensalão, antes dos sanguessugas.”
“Muitos dos indiciados, e muitos daqueles que estarão, buscam no mandato proteção contra a Justiça. Existe todo um processo de proteção contra esses indíviduos, que demora anos e anos a fio. A idéia da campanha é que não se reconduza essas pessoas. Deixar que a Justiça siga seu curso.”
Questionado sobre a possível oposição de advogados dos envolvidos citados na lista, Abramo afirmou que trata-se de um assunto político e não jurídico. Para o diretor da Transparência, a única forma de o eleitor evitar que os envolvidos em corrupção se perpetuem é o voto. “Essa questão só pode ser encaminhada politicamente. Advogado tem de ficar calado. Não nos interessa o que advogado tem a dizer a respeito. “
Ele defende que os partidos recusem a inscrição de envolvidos em corrupção em suas chapas, mas reconhece que a prática ainda está longe do cotidiano. “É um sinal da deterioração da política brasileira que os partidos aceitem (corruptos). Poderiam dizer: não vou incluir nenhum mensaleiro na minha chapa, na nossa política, não quero saber. Deveriam fazê-lo sem nenhuma justificativa adicional necessária. Não o fazem porque são cúmplices desse processo de abafa, de evitar que os envolvidos em crimes – não são todos – continuem sobrevivendo na vida política.”
Pessimistas afirmam que o número de escândalos aumenta a cada dia, mas otimistas rebatem o argumento com a afirmação de que não são os casos que aumentam, mas a percepção deles, porque agora são desvendados em público. Abramo ainda não sabe dizer quem tem razão.
“Há coisas que melhoram e há coisas que pioram. O Brasil é muito complexo nas três esferas. Os avanços e recuos se dão nas três esferas. Posso dizer que os avanços se dão mais na esfera federal do que na estadual e municipal, porque existe um deserto nessa área de prevenção à corrupção, já que ninguém faz nada ou pouca gente faz alguma coisa em termos de ação efetiva. Num quadro em que você caminha mais para o lado do que para frente ou para trás é impossível decidir. Como a corrupção é muito noticiada, tem gente que pode achar que aumentou. Quando na verdade ela foi noticiada porque mais casos foram descobertos.”Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.