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Bolsa Vitae de Artes divulga os 25 selecionados
Do Diário do Grande ABC
27/01/1999 | 14:55
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Como era a música na corte de dom Pedro II? Como foi a estréia de Sérgio Cardoso no teatro? Como ficará o livro depois da revoluçao tecnológica do fim do século?

Essas sao questoes que alguns dos ganhadores da 12.ª Bolsa Vitae de Artes pretendem responder com o patrocínio que receberam. Ao todo, o programa da Bolsa Vitae, mantido pela fundaçao do mesmo nome, recebeu 483 inscriçoes de todo o País em 1998. Selecionou 25 bolsistas, que receberao R$ 2 mil mensais em períodos entre 6 e 12 meses.

Desde sua criaçao, em 1987, o programa de artes da Bolsa Vitae já patrocinou 268 projetos, contemplando oito áreas alternadas. Nos anos pares, contempla as áreas de literatura, música, teatro e dança, como é o caso de 1998. Nos anos ímpares, o incentivo vai para fotografia, artes visuais, cinema e vídeo.

Na área de literatura, os vencedores abordam temas que vao da pesquisa científica à produçao literária propriamente dita. A pesquisadora Giselle Beiguelman, de Sao Paulo, prepara o estudo "O Livro depois do Livro" (Literatura, Leitura e Mídia no Fim do Século XX). Ela pretende examinar a produçao literária e poética à luz das novas tecnologias e meios - como Internet e videografia. "A Internet pode estar indicando elementos para a sistematizaçao de uma cultura digital", diz Giselle, autora do livro "A República de Hemingway" (Editora Perspectiva, 1993).

Os escritores e poetas Sebastiao Uchoa Leite e Rubens Figueiredo, ambos do Rio de Janeiro, ganharam a bolsa para desenvolver seus dois novos projetos. Uchoa (Prêmio Jabuti de traduçao em 1998 com "Crônicas Italianas", de Stendhal) escreve o livro "Memória das Sensaçoes", de poesia. Rubens Figueiredo (O Mistério da Samambaia Bailarina) escreve um novo romance, "Barco a Seco", no qual conta a história de um perito de arte revoltado com a reputaçao de um famoso pintor de marinas.

Os outros projetos vencedores na área de literatura sao a a ficçao "Macunaíma Conta Mário" (A Vida de Mário de Andrade para Crianças), da carioca Luciana Sandroni; a biografia de Henrique Maximiniano Coelho Neto (pouco conhecido contemporâneo de Olavo Bilac e Raul Pompéia), pelo antropólogo da Unicamp Leonardo Pereira; e a biografia de Joaquim Inácio de Seixas Brandao, escritor do século 18, pelo historiador paranaense Sérgio Alcides Pereira do Amaral.

História do teatro - Na área do teatro, dos seis projetos selecionados metade pesquisa a história do teatro, dois propoem a montagem cênica e o sexto, do diretor Sérgio de Carvalho, pretende- se uma junçao da pesquisa com a encenaçao, com "Os Trabalhos e os Dias". Essa montagem está inserida naquilo que Carvalho vem denominar "dramaturgia em processo".

Os pesquisadores que buscam restabelecer alguns elos da história do teatro no Brasil sao Colmar Diniz (Cenografia e Figurinos no Brasil. Um Marco: Joel de Carvalho 1930-1974), Johana Albuquerque (Pequena Enciclopédia do Teatro Brasileiro Contemporâneo, que retoma pesquisa de Yan Michalski) e Elisa Todd (Projeto de Pesquisa Dramatúrgica sobre Três Obras Líricas do Compositor Heitor Villa-Lobos). Cristina Mato Grosso e Zé Luiz Rinaldi vao montar, respectivamente, "A Saga de Pedro Palito e Maria Mariinha" e "Os Deslimites da Palavra".

O diretor Osmar Rodrigues Cruz, que ajudou a fundar o Teatro Popular do Sesi, escreve a própria história no teatro, que começou em 1935, aos 7 anos. "Vou escrever sobre minha vida relacionada ao teatro; nao é um livro sobre minha vida em particular", diz Cruz. Ele tem um acervo magnífico sobre sua trajetória, que inclui um manifesto de Pascoal Carlos Magno, datado de 1948, conclamando o público a ver a estréia de seu "Hamlet" no Teatro Municipal. O ator era Sérgio Cardoso, que estreava.

Na área de música, os selecionados dedicam-se da criaçao musical à recuperaçao histórica. O maestro carioca Silvio Barbato (autor da trilha sonora do filme Vila-Lobos: Uma Vida de Paixao, de Zelito Viana) vai editar as 14 sinfonias do maestro e compositor Cláudio Santoro, que este ano estaria completando 80 anos. Entre as sinfonias, três sao inéditas e estao guardadas de maneira precária na casa do maestro em Brasília.

Ricardo Pamfilio de Souza, mestre em etnomusicologia pela Universidade Federal da Bahia, pretende resgatar o universo e as linguagens musicais dos índios baianos, incluindo os grupos que primeiro tomaram contato com os descobridores portugueses: pataxó, quiriri, pancaru, pancararé, cantaruré, aricobé e tuxá, entre outros.

O maestro alemao Hans-Joachim Koellreuter, pioneiro do dodecafonismo no Brasil e ativo compositor de música contemporânea, aos 83 anos, é objeto de estudo da produtora Regina Porto. Ex-aluna de Koellreuter, ela quer montar uma espécie de "documentário audiovisual experimental". A pianista Marisa Rezende vai compor, com o grupo Música Nova, um ciclo de peças vocais e instrumentais em busca de novos sons.

O carioca Tim Rescala, eterno enfant terrible da música nacional, quer criar uma peça sinfônica para crianças com o projeto Brincando de Orquestra, utilizando citaçoes de compositores como Villa-Lobos e Lorenzo Fernandez. A música na corte de d. Pedro II, em especial a de Francisco Manuel da Silva, é objeto de estudo do pesquisador Marcelo Campos Hazan. Já André Guerra Cotta foi para o interior, em busca da influência da música mineira produzida no século 19 em Itabira do Mato de Dentro, a cidade natal de Carlos Drummond de Andrade.

Comportamento do corpo - A seleçao de dança privilegia o espetáculo em si. A ex-integrante da Companhia de Dança Burra e atual coreógrafa da companhia Ur=H0r, Adriana Banana, desenvolve um novo trabalho, "Do Zero ao Limite do Um". Seu foco de atençao é o comportamento do corpo sob as pressoes da tortura e da provaçao física. Mas nao pretende fazer um ritual de autoflagelaçao em cena, garante. A pesquisa científica é que dá base ao seu trabalho.

Outra coreógrafa revelaçao, Marta Soares (ex-aluna de Klauss Viana), se detém na biografia da artista Unica Zurn, que preconizava uma espécie de "anatomia do inconsciente" - título, aliás, do livro do marido da escritora, Hans Bellmer. Marta foi a vencedora do prêmio de dança de 1997 da Associaçao Paulista dos Críticos de Artes com o espetáculo "Les Poupées".

O bailarino pernambucano Wellington Duarte, da Companhia Nova Dança, baseia-se nas fotografias de Arthur Omar no trabalho "Antropologia da Face Gloriosa" para desenvolver seu novo trabalho, "Confraria Desnaturada". Já a bailarina Emilie Sugai revisita as origens: neta de imigrantes japoneses, ela quer resumir em movimentos a dicotomia de se sentir brasileira e japonesa ao mesmo tempo.

O bailarino, coreógrafo e diretor potiguar José Henrique Amoedo Barral pesquisa a origem do movimento da dança sobre cadeira de rodas ao redor do mundo. Os grupos de cadeira de rodas multiplicaram-se nos últimos anos, produzindo expoentes como o inglês CanDoCo e os americanos Axis Dance Company, Clevelanda Ballet Dancing Wheels, Light Motion e Danceability.




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