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Jornais questionam França sobre massacres na Argélia
Das Agências
13/02/2001 | 12:27
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A imprensa francesa questiona nesta terça-feira as delicadas circunstâncias em que o ministro das Relações Exteriores, Hubert Vedrine, realiza uma visita-relâmpago a Argel, em um contexto marcado pelas denúncias de um ex-oficial argelino sobre as atrocidades das forças de segurança de seu país e pelas acusações de cumplicidade de Paris feitas por intelectuais franceses.

Este questionamento é motivado pelo debate criado em torno do lançamento do livro ‘‘A guerra suja’’, de um ex-oficial argelino, e pela publicação de um artigo redigido por vários intelectuais, que se mostram muito severos quanto à política francesa em relação à Argélia.

O ex-oficial pára-quedista argelino Habib Souaidia, refugiado em Paris e autor do livro e da denúncia que responsabiliza o exército de seu país pelas matanças cometidas na Argélia, declarou estar disposto a voltar a prestar depoimentos ante uma comissão investigação internacional.

Depois dos testemunhos sobre o envolvimento de forças de segurança nas matanças, uma comissão de investigação internacional deveria ser criada, concordam os intelectuais.

Em seu editorial, Le Figaro (conservador) pede à França e a Hubert Vedrinme que ‘‘falem a verdade’’ aos dirigentes argelinos. ‘‘A publicação em Paris do livro de um ex-oficial, que descreve a do exército argelino contra os islamitas apenas confirma uma realidade da qual se suspeitava há tempos: algumas matanças (atribuídas aos islamitas armados) teriam sido cometidas pelos militares’’, escreve o jornal. ‘‘Ao não dizer nada, a França parecia aprovar isso’’, acrescenta.

‘‘Mas o que deve fazer a França?’’, questiona Le Parisien em sua primeira página, enfatizando que a viagem a Argel do chefe da diplomacia francesa acontece ‘‘num momento em que as matanças acontecem de novo, quando o presidente (Abdelaziz) Bouteflika está enfraquecido e acaba de surgir um livro controvertido sobre o papel do exército argelino nas matanças de civis’’.

‘‘Indagado há três anos a este respeito, Hubert Vedrine descartou o envolvimento de oficiais argelinos com um categórico , afirmação difícil de sustentar’’, destaca, por sua vez, o Liberacion.

‘‘Tudo o que se pede é uma comissão de investigação internacional e estou disposto a voltar à Argélia para testemunhar, para que se estabeleça a verdade e se faça justiça’’, declarou Habib Souaidia à rádio France Inter, acrescentando, no entanto, estar cético quanto à organização dessa comissão.

‘‘Todo mundo se cala. Acho que os serviços secretos franceses ou americanos sabem exatamente que acontece. Os americanos exploram os poços de petróleo de Hassi Messaud. E têm tudo o que queriam e por isso se calam’’, explicou.




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