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Oscar vive o dilema de encerrar carreira vitoriosa
Eduardo Merli
Do Diário do Grande ABC
23/02/2002 | 18:57
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Por que parar? A cada dia, esta tem sido a pergunta mais freqüente e dolorosa para Oscar Schmidt, o maior jogador de basquete brasileiro de todos os tempos, com quase 48 mil pontos. O atleta, que no último dia 16 completou 44 anos, disse que abandona as quadras ao término do Campeonato Nacional porque precisa parar em boa fase, mas reconhece que faria tudo de novo. “Morrerei pela primeira vez agora. Se pudesse, trocaria tudo para recomeçar sem que tivesse nenhuma garantia de ser quem eu fui”, disse o Mão Santa.

Oscar acredita que o basquete brasileiro sem ele continuará promissor. “Temos boas revelações como o Marcelinho (Fluminense) e o Dedé (Flamengo). O Campeonato Nacional é bem feito e forte”, disse. Mas acredita que a modalidade enfrenta problemas na seleção e nos clubes. “Nunca teremos um novo ídolo sem resultado na seleção para chamar a atenção do público. E eu não concordo com a forma como a seleção é convocada”, disse.

DIÁRIO – O que você pretende fazer ao término de sua carreira como jogador? Você já teve experiências no campo político. Pode ser uma saída?
OSCAR – Não sei ainda o que vou fazer. Mas minha única certeza é que não vou seguir a carreira política. Penso muito em qualidade de vida para minha família.

DIÁRIO – Isso quer dizer atenção total a sua esposa e filhos?
OSCAR – É preciso ficar mais perto deles. Vamos ver se o Flamengo também me arranja alguma coisa para fazer.

DIÁRIO – Você tem recebido muitas homenagens nesta sua última temporada. Como tem sido isso?
OSCAR – Estou passando por coisas na minha vida recentemente que nunca imaginei. Na partida contra o Bauru, lá, um monte de crianças fizeram uma apresentação para me homenagear e o ginásio, lotado, ficou de pé para me aplaudir. Fiquei arrepiado porque sempre fui adversário em Bauru.

DIÁRIO – Você também jogará com o seu filho pelo Campeonato Nacional no final de maio, quando ele voltar dos Estados Unidos. Como espera este momento?
OSCAR – Eu estou mais ansioso do que ele. Todo dia estamos nos falando. Faremos duas ou três partidas pelo Flamengo e depois ele volta para os Estados Unidos. Espero que a gente jogue bem, mas tudo depende se as partidas estiverem fáceis. Do contrário, ele nem joga.

DIÁRIO – O basquete brasileiro vive um momento econômico difícil. Muitos clubes, como Flamengo e Fluminense, estão com salários atrasados. Outros pagam em dia, mas vivem com o orçamento apertado. O Botafogo fechou sua equipe este ano na Divisão Principal. No feminino, há apenas cinco times competitivos em todo o Brasil. Como você vê a atual realidade?
OSCAR – O basquete brasileiro enfrenta vários problemas para crescer. Os clubes de camisa não acreditam muito até porque o principal produto deles é o futebol. Precisamos de empresas para o apoio, mas isso também está difícil. Adoraria que tivéssemos clubes fortes, como tínhamos Francana, Sírio, antigamente. Nosso Campeonato Brasileiro é forte, temos 17 equipes, mas precisamos exportar mais jogadores para o exterior. Isso não acontece porque o brasileiro seja ruim. Eles só precisam cair nas graças de um técnico da NBA.

DIÁRIO – Quer dizer que nosso basquete ainda não é conhecido lá fora, mesmo na lista das dez maiores potências da modalidade, segundo a FIBA (Federação Internacional de Basquete)?
OSCAR – Antigamente, tínhamos três brasileiros na Europa. Precisamos ganhar um destaque com a seleção para aparecer mais.

DIÁRIO – Você concorda com o trabalho feito hoje na seleção?
OSCAR – Não. Seleção não é escola. Você não pode deixar jogadores experientes como o Janjão e o Ratto (respectivamente pivô e armador do Flamengo) de fora deste grupo como vem acontecento. Não consigo pensar assim.

DIÁRIO – Muitos falam que os campeonatos no Brasil deveriam seguir a linha da NBA, na qual os patrocinadores bancam a competição e não diretamente os clubes. Qual a sua opinião a respeito?
OSCAR – Não devemos imitar os norte-americanos. Lá eles vivem em outro plano de basquete. O Brasileiro, feito aqui, já é bem forte. Precisamos mostrar mais estas boas partidas para que as pessoas as conheçam.

DIÁRIO – Você jogou na Europa e hoje é ídolo em países como Espanha, Itália e Estados Unidos. Oscar é sinônimo de recordes no basquete. Em 27 de outubro, no clássico diante do Fluminense pelo Campeonato Carioca, superou a marca mundial de 46.725 que era do lendário pivô norte-americano Kareem Abdul-Jabbar. Três meses depois, na estréia do Flamengo no Nacional 2002, ultrapassou os 47 mil pontos. Você pode pendurar os tênis de cano alto com 48 mil pontos caso mantenha a média de 34,2 por partida no Nacional. Na sua carreira, há a histórica medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de 1987, em Indianápolis, sobre os Estados Unidos. Depois de tantas conquistas, existe alguma frustração em sua passagem pelas quadras?
OSCAR – Se pudesse voltaria no tempo para jogar uma Olimpíada e tentar uma medalha. Mas eu não a trocaria pela conquista do ouro no Pan (Americano) de Indianápolis.




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