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Jovens aprendizes retomam trabalho em meio à pandemia

Embora saldo de vagas desses profissionais ainda esteja negativo na região, cenário tem melhorado com flexibilização

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
04/10/2020 | 00:06
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Celso Luiz/DGABC


Com a retomada gradual da economia, especialmente dos setores do comércio, indústria e construção civil, o nível de emprego formal começa a dar os primeiros sinais de melhora. Com a volta das contratações, uma força de trabalho importante também retorna às empresas: os aprendizes. Formado na maioria por jovens entre 19 e 24 anos de idade, a categoria vem retornando ao trabalho presencial nas empresas e se adequando, seja presencialmente ou no home office.

De acordo com pesquisa realizada pela Espro (Ensino Profissionalizante), instituição que capacita jovens para o mercado de trabalho, 31% dos aprendizes retornaram fisicamente aos pontos de trabalho, 11 pontos percentuais a mais do que na pesquisa anterior.

Além disso, 23% permaneceram em home office e 8% estavam com os contratos suspensos. Em abril, 51% foram orientados a permanecer em casa após a orientação da empresa, já em maio, o resultado tinha caído para 42%. No último mês, o percentual recuou para 27%. Embora a pesquisa ter sido feita em São Paulo, segundo o superintendente executivo do Espro, Alessandro Saade, o resultado pode ser aplicado ao Grande ABC.

“As empresas deixaram de esperar o momento certo para voltar e cada uma está criando o seu caminho para isso. Para muitos, o home office é a solução, mas em outras áreas o presencial, com todas as normas de segurança, vem acontecendo. Se a empresa ficar esperando, ela corre o risco de quebrar. O que entendemos por esses resultados é que cada uma decidiu voltar, mas do seu jeito”, avaliou Saade.

Leticia Rodrigues da Silva, 19 anos, é moradora da Vila Industrial de São Bernardo e completa, neste mês, um ano de contrato com uma empresa do ramo de cimentos e concretos, também localizada na cidade. Ela, que atua no setor administrativo, continuou trabalhando presencialmente com uma carga horária menor. Normalmente, os aprendizes dedicam um dia a cursos profissionalizante.

“Continuamos a trabalhar seguindo todos os protocolos. Estamos preocupados, mas fizemos exames da Covid-19 e, graças a Deus, deu negativo para todo mundo”, contou ela que, por causa do trabalho, decidiu fazer faculdade na área de RH (Recursos Humanos), curso que deve ser iniciado no ano que vem. “A gente aprende e adquire experiência na função de aprendiz. Quanto à faculdade, estava muito indecisa, mas agora sei que quero fazer psicologia e atuar na área do RH.”

Já Daniel Vieira, 19, que mora no bairro do Inamar em Diadema, e trabalha há pouco mais de um ano em uma empresa de logística em São Bernardo, está em home office. Ele chegou a ficar duas semanas esperando alguma definição, mas a empresa optou pelo trabalho remoto. “Foi um período difícil, mas o trabalho remoto foi uma solução importante”, disse ele, que virou um dos adeptos da nova rotina. “É muito bom, porque ficamos próximos da família e conseguimos dividir o tempo melhor, já que antes eu perdia duas horas para ir e para voltar do trabalho”, disse ele, que também enfrenta os desafios do ensino a distância na faculdade de análise e desenvolvimento de sistemas.

Com o cenário de incertezas, os dois enxergam poucas chances de efetivação. “Por causa da pandemia, as vagas foram congeladas, mas como gostaram bastante do meu trabalho, a gente segue conversando.”

REAÇÃO
Os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério da Economia, mostram que na região o mês de agosto foi o primeiro desde o início da pandemia, em março, a registrar saldo (admissões menos demissões) positivo para o emprego com carteira assinada, que chegou a 2.504.

Os dados dos aprendizes mostram que essa retomada ainda não aconteceu (veja mais na arte acima), porém, o saldo negativo vem diminuindo. Em janeiro, o saldo era positivo em 344 contratações mas, em fevereiro, já houve 99 demissões, ápice que foi atingido em abril, com 468 cortes. Em agosto, havia 79 rescisões.

A tendência é que, com a flexibilização do isolamento físico, aumentem as contratações. “Precisamos ver caso a caso, porque se a gente olhar pelo lado positivo, a empresa teve que demitir colaboradores e, portanto, esse aprendiz é forte candidato a ocupar aquele cargo assim que a empresa crescer”, opinou Saade.

“Essa experiência é muito importante para o jovem, pois, além de entrar em contato com o mercado de trabalho, essa retomada vai ser momento importante até para o jovem se habituar a essa rotina de home office”, analisou o coordenador do curso de administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero.

As empresas têm uma cota de aprendizes a ser seguida, de 5% a 15%, conforme o tamanho, se de médio ou grande porte. A remuneração é combinada por meio de valor/hora trabalhada. A relação de menor aprendiz pode se iniciar após os 14 anos. Já o trabalho remunerado por meio de contrato de trabalho é possível a partir dos 16 anos.




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