Exatos 238.867 trabalhadores com carteira assinada no Grande ABC sofreram redução de jornada, com o respectivo corte de salário, desde que o governo federal permitiu a medida como política de preservação de empregos durante a pandemia do novo coronavírus – ao aderir ao programa, a empresa se compromete a não demitir o funcionário. O número equivale a 1/3 do volume total da mão de obra formal das sete cidades. Dado o impacto da Covid-19 na economia brasileira, não é errado supor que parte significativa deste contingente de pessoas estaria nas ruas se o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não tivesse emitido, a 1º de abril, a Medida Provisória 936.

Se é correto admitir como provável o cenário de desemprego que a região estaria enfrentando se não houvesse o socorro governamental, uma pergunta se faz necessária: o que ocorrerá quando os efeitos da medida se esgotarem, o que deve ocorrer dentro de sete meses (pelas regras, o empregado que fizer adesão ao programa tem assegurado o direito a igual período de estabilidade)? Será que em março o Brasil já estará recuperado dos impactos econômicos causados pela pandemia, a ponto de suportar a manutenção de todos os postos de trabalho?

Fica difícil responder a essa pergunta com tanta antecedência, mas é preocupante notar que não há nenhuma política de contenção sendo discutida na esfera federal. Pelo contrário. As declarações otimistas de representantes do governo parecem rasas, assemelhando-se mais a mera torcida. O flerte com saídas populistas, como o desrespeito ao teto de gastos, que mantém a dívida pública e os juros básicos sob controle, torna o ambiente ainda mais hostil e confuso.

Não há nenhuma dúvida de que a pandemia vai passar. Trata-se apenas de quando. Por isso, é extremamente necessário que os dirigentes do País, com a bem-vinda participação de Estados e municípios, desenvolvam bases sólidas para que o Brasil aguente o forte refluxo que advirá quando o tsunami do novo coronavírus retornar para o mar da história. Defender o emprego é essencial para suportar o tranco.