Diarinho Titulo
Transgressores do passado
Juliana Ravelli
Do Diário do Grande ABC
01/11/2009 | 07:17
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O rock não foi o único a abalar as estruturas do universo musical. Dentro da própria música clássica existiram os transgressores, compositores considerados insanos que inovaram com suas obras.

Entre eles está o alemão Ludwig van Beethoven (1770- 1827), que compôs obras importantíssimas escutando muito pouco. Tinha uma doença degenerativa que o deixou completamente surdo na velhice. "Pra mim, ele é o cara. Escrevia de uma forma muito diferente", diz Bruna Zenti, 15 anos.

A opinião é compartilhada pelo maestro da Orquestra Sinfônica de Santo André, Carlos Moreno. "Com seu temperamento, através da música, se posicionou perante a humanidade. As pessoas ainda param para ouvir Beethoven. Não tem igual", garante.

Richard Wagner (1813-1883) também integra o time dos grandes. "A força da música dele transforma qualquer um em herói. Potencializa as forças", afirma o regente. Segundo o músico André Matos, as obras do compositor alemão podem ser comparadas ao heavy metal, devido às inovações que apresentou na época.

Além de músico e poeta, Wagner esteve muito envolvido com o anarquismo, movimento político que defende a ausência de governo. No entanto, há uma contradição: era o compositor preferido de Adolf Hitler (ditador alemão e líder do partido nazista).

O Brasil tem seu revolucionário: Heitor Villa-Lobos (1887- 1959). "Ele extrapola a genialidade da época. Acho que só vão compreender sua música daqui a 100 anos", afirma Moreno. A composição Trenzinho Caipira, por exemplo, imita o movimento da locomotiva com os instrumentos da orquestra. Serviu de inspiração para a peça infantil Trenzinho Villa-Lobos, sobre a infância do compositor.

Villa-Lobos defendia a educação musical. Por isso, desenvolveu um projeto na década de 1930, apoiado pelo governo, a partir do qual os colégios públicos passaram a ter aulas de canto. Aliás, até 2011, a música volta a ser incluída na grade curricular em todas as escolas.

Dicas
Durante a adolescência, as emoções parecem mais intensas do que em outras fases da vida. Por isso, a dica do maestro Carlos Moreno, para quem é jovem e não conhece música clássica, é começar por compositores com obras fortes. Busque no YouTube, por exemplo, a 5ª Sinfonia (1804-1808) e depois a 9ª Sinfonia (1824) de Beethoven. De Richard Wagner, procure As Valquírias (1870), Os Mestres Cantores de Nuremberg (1868) e O Navio Fantasma (1841). "É música para ouvir a todo volume", afirma o regente. Vale também buscar as interpretações do pianista e maestro João Carlos Martins para a obra de Bach; é inacreditável a velocidade com a qual ele dedilha o piano.

Conhece a Sala São Paulo (www.salasaopaulo.art.br)? É o maior espaço para concertos da América Latina e sede da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo); fica ao lado da Estação da Luz, na Capital. Todo domingo, às 11h, tem apresentações de música erudita com ingresso a R$ 2. Há também apresentações didáticas para escolas. Informações: 3367-9500.

O Grande ABC tem três orquestras sinfônicas (Santo André, São Bernardo e São Caetano), que sempre promovem concertos em teatros e parques municipais. Em geral, cada prefeitura disponibiliza essas informações no site da cidade. A partir de 2010, a Sinfônica de Santo André reservará uma cota de ingressos em todas as apresentações para escolas.

É possível encontrar transcrições de obras clássicas para instrumentos modernos; está tudo na internet. Quer conhecer outros compositores bacanas? Então, vasculhe a web atrás de Mozart, Bach, Vivaldi, Tchaikovsky, Verdi, Chopin, Ravel, Debussy, Offenbach, Brahms, Puccini... Sintonize a Rádio Cultura (103.3 FM), com programação composta só por música erudita.

Há bons filmes na locadora sobre os grandes mestres. Não deixe de conferir Amadeus (1984), com a trajetória de Mozart, que serviu de inspiração para André Matos. "Você percebe que o cara tinha vida de rockstar há 200 anos", diz. Sobre o alemão ainda tem Minha Amada Imortal (1994) e O Segredo de Beethoven (2006). E para conhecer um pouco sobre o brasileiro Villa-Lobos assista Uma Vida de Paixão (2000), com sua trajetória interpretada por Antonio Fagundes e Marcos Palmeira. Você já deve ter ouvido as Bachianas, suas obras mais famosas, sem saber que eram dele. E pode se divertir com as animações Fantasia (1940) e Fantasia 2000 (1999), com cenas conduzidas por música clássica.




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