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Deficientes lutam por cidadania no mercado
Sueli Carvalho
Especial para o Diário
17/06/2000 | 17:15
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Os portadores de deficiência lutam pelo direito à cidadania e pela valorizaçao da sua capacidade. Esta foi a principal constataçao do Seminário Regional Emprego, Renda e Capacitaçao Profissional para Pessoas com Deficiência, realizado sexta-feira na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. O evento foi promovido pelo sindicato, Diário, Central de Trabalho e Renda, Central Unica dos Trabalhadores e Centro das Indústrias do Estado de Sao Paulo (Ciesp).

O coordenador do Centro de Estudos e Informaçao da Pessoa Portadora de Deficiência, de Sao Paulo, Rui Bianchi Nascimento, disse que o problema está no preconceito da sociedade, que criou a "cultura da invalidez". "Quando eu trabalhava em uma biblioteca pública, cansei de ouvir a seguinte frase: 'que bom que você trabalha aqui, distrai'. Poucas pessoas olham para o deficiente e vêem uma pessoa útil, que pode ter profissao e ser independente."

O auxiliar de produçao da Kostal Eletromecânica, de Sao Bernardo, Flávio Henrique de Souza perdeu a visao aos 14 anos e por isso foi impedido de se candidatar a diversas oportunidades de emprego. "Assim que tomavam conhecimento da minha deficiência, eu era descartado. Até que, por meio da Fundaçao Dorina Nowill, consegui essa vaga na Kostal. Posso me considerar um privilegiado."

A professora Terezinha Malta conseguiu unir o trabalho à satisfaçao de colaborar com o desenvolvimento educacional de outros deficientes visuais. Segundo ela, é uma conquista poder ajudar outros deficientes. "O que precisamos é, desde a infância, conviver juntos. O deficiente nao pode ser excluído da sociedade e só na fase adulta ser incluído. Esse isolamento pode comprometer o desempenho dele", ressaltou.

Quem pensa que o deficiente se encaixa apenas em atividades operacionais se engana. Ademir Salatiel é paraplégico e trabalha como relaçoes públicas da Txai, empresa que capacita deficientes físicos para o mercado de trabalho. "As pessoas precisam entender que nao é porque uma pessoa precisa da cadeira de rodas para se movimentar ela é dependente e retraída. Sou uma pessoa comunicativa e independente."

A batalha até o emprego é longa. O estudante Robson Duarte ficou paraplégico há seis anos e até agora nao conseguiu arrumar emprego. "Estou cursando o ensino médio, vou fazer um curso de informática e participo de competiçoes de nataçao por meio do Clube dos Paraplégicos de Sao Paulo. Mesmo assim, nao consigo trabalhar."

Profissionalizaçao - Para colaborar com o ingresso desses profissionais no mercado de trabalho, as entidades estao se profissionalizando. A Associaçao de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) ainda nao pode ser considerada uma entidade profissionalizante, mas na própria entidade os excepcionais têm a oportunidade de executar alguns trabalhos. "Os nossos associados fazem algumas atividades a pedidos de empresas, que pagam uma quantia simbólica. Nao chega a ser um salário, é apenas uma colaboraçao para os custos da entidade e para o próprio deficiente", detalhou a assistente social Elaine Cristina Barranco.

As empresas também estao passando a demonstrar mais interesse por esses profissionais. Segundo a analista de salários e seleçao da TRW, indústria de autopeças de Sao Bernardo, a empresa ainda nao tem deficientes em seu quadro de funcionários, mas a possibilidade já está sendo estudada. "A presença do deficiente no mercado de trabalho ainda é pequena, mas essa idéia está sendo bem aceita pela TRW. Estou levando essa proposta para a empresa."

A assistente social da Philips, em Mauá, Paula Gomez Martinez, também mostrou-se sensibilizada com a idéia da contrataçao de deficientes. "A empresa está se propondo a conhecer a viabilidade de absorver esses profissionais. Pretendemos analisar as atividades da empresa que cabem a esses profissionais. É preciso valorizar o ser humano."




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