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Vídeo: roteiro inteligente valoriza 'Britannic'
Orlando Fassoni
Especial para o Diário
03/07/2000 | 19:15
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  Depois do estrondoso sucesso de Titanic, filme de 1998 que já faturou cerca de US$ 600 milhoes, era evidente que Hollywood voltaria ao tema das grandes tragédias marítimas. E assunto para os roteiristas nao falta. Depois que O Destino do Poseidon (1972) abriu o ciclo das catástrofes, retomado nos anos 80 com Terremoto, o cinema norte-americano entrou na era de tragédias sem precedentes e calamidade passou a ser o grito de alegria - e nao de pesar - nas bilheterias.

Titanic, de James Cameron, foi o Godzilla que emergiu das águas diretamente para as bilheterias do mundo inteiro. E quem viu deve conhecer também o filme lançado agora em vídeo, muito mais modesto nas proporçoes da produçao e do uso da tecnologia: Britannic, o primeiro filho de Titanic - certamente virao outros nas mesmas ondas - criado por um diretor desconhecido, Brian Trenchard-Smith, anunciado como comédia romântica, mas que nao tem absolutamente nada de comédia e apenas um dedinho de romance.

O resto é um pouco de lengalenga que vai terminar, claro, no inevitável desastre. Mas nao se leve pelo título, nem pelo elenco. Em Britannic nao há Leonardo Di Caprio para eriçar mocinhas desavisadas. A única atriz conhecida é Jacqueline Bisset que, aliás, nao tem nada a fazer no filme a nao ser bancar a aristocrata inglesa que viaja no grande navio - considerado indestrutível, como havia sido o Titanic.

Com ela seguem os filhos e uma governanta, Vera Campbell (Amanda Ryan), uma das raras sobreviventes do Titanic e que, quatro anos depois, trabalhando para o serviço secreto britânico, é encarregada de descobrir quem é o espiao nazista que está a bordo e que, apoiado por um submarino alemao que segue o navio, deve mandar tudo e todos pelos ares.

O Britannic foi um navio hospital que se dirigia ao Cairo para recolher feridos ingleses na I Guerra. Mas o barco também levava armamentos que os alemaes nao pretendiam que chegasse ao destino. Quatro anos depois da tragédia do Titanic, os britânicos ainda achavam que era possível construir um navio indestrutível.

Como as açoes da mocinha Amanda Ryan se armam aos poucos em busca do espiao (Edward Atterton, de O Homem da Máscara de Ferro), o leitor já espera algo parecido com o final feliz de Titanic. Mas, surpreendentemente, o roteiro de Britannic, menos pretensioso, é mais inteligente. Mantém o interesse do início ao fim, embora sem muita açao e sem grandes momentos de suspense. Ainda assim, tem o bandido e a mocinha, tem os aristocratas e os medíocres. E, com tudo isso, sem vedetes no elenco, consegue sair ileso de um possível naufrágio.

A trajetória do Britannic começa em novembro de 1916. Termina no mesmo mês, quando é atacado pelo submarino alemao. E, se é verdade que no roteiro de Titanic há mais ficçao do que realidade, talvez as situaçoes de Britannic sejam mais realistas. O navio afundou em 57 minutos, metade do tempo do Titanic. Das 1.164 pessoas a bordo, entre passageiros e tripulantes, 30 morreram. Em 1976, 60 anos depois, o Britannic foi localizado pelo explorador francês Jean-Jacques Cousteau a 128 km do ponto onde naufragou. Agora, existem planos para transformar o navio no primeiro museu subaquático do mundo.

Com mais acertos do que defeitos, Britannic tem mais realismo do que ficçao. Nao precisou de monumentais efeitos especiais e, embora realizado no rastro de Titanic, resgata uma história real que talvez só tenha vindo à tona com o êxito da superproduçao de James Cameron e das descobertas científicas de Cousteau. Vale a pena conhecer.




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