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Mecanizaçao eleva desemprego nos canaviais
Do Diário do Grande ABC
17/06/2000 | 15:02
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Com a chegada da mecanizaçao às lavouras de cana-de-açúcar, o desemprego bateu às portas de Sertaozinho, coraçao da indústria canavieira de Sao Paulo e um dos berços do Programa do Alcool (Proálcool). Nas contas do Sindicato dos Empregados Rurais do município, dos 15 mil trabalhadores rurais que tinham emprego fixo nas usinas da regiao, cerca de 5 mil foram substituídos, nos últimos dois anos, pelas modernas colheitadeiras, capazes de proporcionar uma reduçao de 20% dos custos de produçao.

Também no período houve, de acordo com Luís dos Santos, o "Esquerdinha", presidente licenciado do sindicato, uma significativa reduçao do poder aquisitivo dos salários dos trabalhadores. O último reajuste ocorreu em maio de 1998 e estabeleceu um piso de R$ 300,00 para a jornada de 8 horas.

"Estamos reivindicando agora um reajuste de 50% e temos apenas 10% de contraproposta, o que nao aceitaremos", diz Santos. Segundo ele, se o impasse permanecer, "nao haverá outra saída senao a greve". O quadro, de acordo com o sindicalista, torna ainda mais difíceis as condiçoes que cercam o trabalho no corte da cana. O enorme esforço físico e a excessiva exposiçao ao sol fazem com que os trabalhadores enfrentem problemas.

Adílson Aparecido da Silva, 30 anos, consegue tirar um salário mensal de R$ 450,00, maior do que o de seus companheiros, graças à produtividade. Mas está desanimado. Casado e com três filhos, ainda nao conseguiu, após 11 anos no canavial, comprar uma casinha na periferia de Sertaozinho. E lamenta nao ter aproveitado a chance de ter realizado o seu sonho em 1997, "quando o dinheiro dava para isso." Desmotivado, vê o desemprego como soluçao. "Daria para levantar o Fundo de Garantia e tentar a sorte com outra coisa."

"Somos obrigados, pela legislaçao ambiental, a suspender a queimada da cana até 2002, o que nos impoe a necessidade de mecanizarmos a colheita", diz o presidente da Uniao Canavieira do Estado de Sao Paulo (Unica), Joao Carlos de Figueiredo Ferraz. Ele acrescenta, porém, que um pacto pelo emprego, firmado em 1999 com o governo do Estado, que envolveu incentivos para o carro álcool, está retardando a mecanizaçao e assegurando os empregos.

Para Júlio Maria Borges, consultor especializado, o pacto com o governo foi uma grande conquista social, pois a mecanizaçao reduzirá em 80% os empregos no campo. "Esse retardamento dará tempo para que essa mao-de-obra seja realocada."




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