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Ford: produção deve subir 20%
Roney Domingos
Do Diário do Grande ABC
21/09/2002 | 20:14
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O presidente da Ford Motors Company, Antônio Maciel Neto, disse em entrevista exclusiva ao Diário que a empresa deverá ter aumento de 20% na produção e de 15% nas exportações neste ano, na contramão das concorrentes. No ano em que todas as atenções estão voltadas para a unidade de Camaçari, na Bahia, que lançou uma nova família de veículos, o executivo aponta para os bons resultados da unidade de São Bernardo. A nova fábrica de caminhões, resultado de um investimento de US$ 60 milhões, já exporta 10% da produção e assume destaque entre os líderes de venda de veículos comerciais.

Quase metade dos carros que saem da linha de montagem seguem para o exterior e nova orientação dos fluxos de comércio mundial da montadora aumentam as chances brasileiras. “A fábrica de caminhões continuará crescendo e a fábrica de automóveis produzirá por alguns anos com grande ênfase na exportação e depois nós vamos ver como ficará o mercado nacional. O Brasil tem tudo para ter uma indústria de 2 milhões a 2,5 milhões de unidades. Nosso horizonte de planejamento para os próximos três anos é este.”

DIÁRIO – Algumas fábricas anunciam aceleração da produção em outubro. São casos particulares ou está previsto algum crescimento acima do esperado?
MACIEL – As vendas no mercado interno deverão ficar entre 1,45 milhão e 1,5 milhão, ante 1,6 milhão no ano passado. O que aconteceu foi que vários concorrentes ficaram com estoques muito grandes, deram férias coletivas e agora retomam a produção.

DIÁRIO – A Ford vai terminar o ano com produção maior do que no ano passado?
MACIEL – A indústria deverá cair entre 5% e 10% e nós vamos crescer 20%. A nossa participação no mercado tem aumentado. Foi de 8% no ano passado e deve subir para 11% neste ano. Nas exportações também crescemos bastante, em torno de 15%, de US$ 445 milhões para US$ 500 milhões. Cerca de 44% da produção da fábrica de São Bernardo será exportada, principalmente para o México.

DIÁRIO – O acordo de cinco anos fechado com o México vai repercutir nas exportações da Ford neste ano?
MACIEL – Vai ajudar bastante. O que dá mais competitividade ainda aos nossos produtos de exportação. Acabamos de fazer investimentos (Ka, Fiesta e Courier) e há um equilíbrio entre o mercado interno e as exportações. São contratos novos. A Ford fez muita propaganda para lançar o Ka e da Courier no México e na Venezuela.

DIÁRIO – O que o sr. acha que o país precisa fazer para melhorar as exportações do setor automotivo?
MACIEL – Não precisa fazer muito mais, mas tem de ser prioridade absoluta, porque senão ficamos muito dependentes do investimento estrangeiro, porque nossa balança comercial é muito deficitária. O México, que é nosso cliente número um, tem dívida externa igual à do Brasil, mas a dívida deles representa um ano de exportação. A nossa representa quatro anos. Todos os países querem exportar e ninguém quer importar – isso é uma regra básica –, mas nós temos condições, muito investimento, fábricas novas, fornecedores mundiais, universidades, custo competitivo, aço de qualidade etc.

DIÁRIO – O que falta então para elevar as exportações de veículos?
MACIEL – A gente pensa que é só mandar o produto. Eu trabalhei quatro anos na Cecrisa, que produz revestimentos cerâmicos. Demora anos para conseguir desenvolver um novo mercado porque tem de ter ponto de venda, catálogo, assistência técnica etc. Para exportar automóvel é ainda mais complicado. É preciso desenvolver rede de distribuição, peças, mercado e, obviamente, produto competitivo para aquele mercado.

DIÁRIO – A matriz da Ford interfere nas políticas de exportação de cada uma de suas subsidiárias?
MACIEL – Antes a Ford tinha quatro regiões: América do Norte, Europa, Ásia e América do Sul. Agora, a empresa separou América do Norte do restante e juntou todas as demais em uma só, dentro da área de operações internacionais, para melhorar o entrosamento. Isso foi bom para nós, porque nosso interesse nos Estados Unidos é muito pequeno, já que os produtos são muito diferentes. Mas em relação à Europa e à Àsia, temos grandes possibilidades. O responsável pela área esteve no Brasil na semana passada e nós vamos avançar neste campo. Ele ficou surpreso, deslumbrado com os avanços de produtividade. Antes tínhamos de convencer a outra parte, que às vezes era concorrente, porque todo mundo quer utilizar as exportações para reduzir ociosidade, problemas sindicais etc.

DIÁRIO – Qual a participação dos caminhões nas exportações da Ford?
MACIEL – A fábrica de caminhões exporta 10% da produção, mas estudamos várias alternativas. Começaremos nos próximos dias a exportação para a Venezuela. Nós investimos US$ 60 milhões na fábrica de caminhões desde 2001. Fechamos a fábrica que tínhamos no Ipiranga e iniciamos uma nova no espaço excedente em São Bernardo. Foi o primeiro grande investimento no Grande ABC antes do realizado pela Volkswagen. O (então) governador (Mário) Covas acompanhou no dia-a-dia, telefonava-me para perguntar, achava que a fábrica seria muito importante, simbólica para a retomada dos investimentos na região. É talvez a fábrica mais moderna do mundo. A partir de janeiro deste ano criamos uma divisão específica para cuidar de caminhões, produtos que merecem atenção especial porque 80% da unidades vendidas levam algum tipo de modificação, com negociação um a um. Colocamos todo mundo em uma mesma sala, de finanças a recursos humanos. Isso deu um foco muito grande e os resultados apareceram logo. Tivemos uma participação de 19% no mercado interno no ano passado e neste ano já estamos com acumulado de 23%.

DIÁRIO – A Ford vai aproveitar a redução do IPI para produzir algum carro médio na fábrica de São Bernardo.
MACIEL – A curto prazo não temos nenhum plano. As fábricas brasileiras têm 30% a 40% de ociosidade para o padrão mundial de dois turnos, com competição tremenda na ponta, com preços de dois ou três anos atrás. Produzimos um carro popular no Brasil e vendemos por US$ 4 mil ou US$ 5 mil com impostos, o mesmo preço de um computador. Nos últimos anos investimos muito, então a ociosidade afeta uma capacidade de produção moderna. Entre fevereiro e março vamos lançar o segundo carro da família Novo Fiesta produzida na Bahia que encerra um grande ciclo de investimento. Do Ka ao Mondeo, temos uma linha de produtos espetacular e não cabe neste mercado nada diferente. Em São Bernardo, a fábrica de caminhões continuará crescendo. A fábrica de automóveis vai produzir por alguns anos com grande ênfase na exportação e depois nós vamos ver como ficará o mercado nacional. O Brasil tem tudo para ter uma indústria de 2 milhões a 2,5 milhões de unidades. Nosso horizonte de planejamento para os próximos três anos é este.




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